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Apoio da Tanzânia: "Matar a cobra no quintal do vizinho"

António Cascais
3 de julho de 2024

Com a saída da SAMIM, a Tanzânia vai continuar a apoiar no combate à insurgência em Cabo Delgado. A Tanzânia quer "matar a cobra no quintal do vizinho" antes que "a cobra entre no seu próprio quintal", diz analista.

Militares em Cabo Delgado
Foto: DW

O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou que a Tanzânia vai continuar a apoiar, "de forma bilateral", o país no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado, mesmo com a saída da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM).

Nyusi, que está na Tanzânia em visita de Estado, garantiu que, formalmente, as forças da SAMIM encerram as suas operações em Cabo Delgado na próxima semana.

Borges Nhamirre, pesquisador na área da segurança do Centro de Integridade Pública (CIP), destaca o "importante trabalho" que as forças da SAMIM fizeram em Cabo Delgado. 

Quanto à continuidade da missão bilateral da Tanzânia, não surpreende o investigador, já que o principal interesse da força da Tanzânia em Cabo Delgado "não é necessariamente combater o terrorismo, mas prevenir que os terroristas não planeiem ações do lado moçambicano e executem essas ações que podem afetar a segurança da própria Tanzânia", explica.

Borges Nhamirre, pesquisador na área da segurança do Centro de Integridade Pública (CIP) Foto: DW/S. Lutxeque

DW África: As forças da SAMIM encerram as suas operações em Cabo Delgado na próxima semana. Que balanço faz do trabalho dessas tropas?

Borges Nhamirre (BN): Foi um importante trabalho que as forças da SAMIM fizeram em Cabo Delgado. Basta ver como estava a província em julho de 2021, quando as tropas foram destacadas, e como é que está agora. Olhando especificamente para os distritos, onde as tropas da SAMIM foram destacadas, nomeadamente Nangade, Macomia, onde tinha tropas da África do Sul, Mueda e a zona alta de Muidumbe. Então o trabalho foi positivo. Temos de compreender que se tratava de uma missão de forças especiais e o objetivo não era combater, mas ajudar o Estado moçambicano a combater o terrorismo. Fizeram o seu trabalho ao desalojar os grupos dos insurgentes das suas principais bases, mas também foram importantes para aumentar a inteligência por parte do Estado de Moçambique, além de permitir a atuação das forças do governo.

DW África: O Presidente Filipe Nyusi disse que a Tanzânia vai continuar a apoiar Moçambique na luta contra o terrorismo. Quer dizer que Moçambique futuramente vai apostar mais em apoio bilateral, como acontece com o Ruanda, em detrimento do apoio multilateral?

BN: Na verdade, a Tanzânia já tinha uma missão bilateral em Cabo Delgado, no distrito de Nangade, há muitos meses. E com a saída da SAMIM, a missão bilateral da Tanzânia vai continuar. Deve ser entendido olhando para os interesses que a Tanzânia tem em Cabo Delgado e ver o distrito onde as suas tropas estão destacadas. Estão no distrito de Nangade que é a margem sul, para quem está na Tanzânia, do Rio Rovuma. O principal interesse da força da Tanzânia em Cabo Delgado não é necessariamente combater o terrorismo, mas prevenir que os terroristas não planeiem ações do lado moçambicano e executem essas ações que podem afetar a segurança da própria Tanzânia. Ou seja, o que a Tanzânia está a fazer é "matar a cobra no quintal do vizinho” antes que "a cobra entre no seu próprio quintal”.

DW África: Filipe Nyusi disse que os apoiantes e financiadores do terrorismo em Cabo Delgado estão também em Moçambique, nomeadamente nas cidades, entre elas Maputo. Como interpreta esta afirmação?

BN: Naturalmente que estão. Não só os financiadores, mas eventuais  "células adormecidas" dos grupos terroristas que estão a atacar em Cabo Delgado e que devemos acreditar que também estejam em outras cidades incluindo Maputo, que é a capital. Maputo é a cidade capital de tudo, incluindo do crime organizado, incluindo dos terroristas. Então, isso é óbvio. O que se espera do Estado não é que faça esse tipo de declaração, mas sim que neutralize esses financiadores, leva-los à justiça, condená-los, para desencorajar os grupos terroristas. Eu penso que o Presidente Filipe Nyusi só fez uma declaração política, que não tem nenhum significado. Em termos práticos aquilo que se espera do Estado é o garante da segurança.

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