Especialistas em segurança, académicos e representantes da União Europeia (UE) debateram, nesta sexta-feira (20.05), soluções para o extremismo violento em Moçambique. A UE anunciou o fornecimento de mais equipamento.
O debate foi co-promovido pela Fundação Friedrich Ebert e a Universidade de MaputoFoto: Romeu da Silva/DW
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Por ocasião de uma mesa-redonda na capital moçambicana, Maputo, a Missão militar da União Europeia anunciou para julho deste ano a chegada de equipamento para apoiar as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas (FDS) que combatem o terrorismo em Moçambique.
Trata-se de 47 peças de equipamento para cada soldado de cada uma das onze unidades de reação rápida em Cabo Delgado.
O chefe da Missão Militar de formação das FDS, brigadeiro-general Nuno Lemos Pires, afirmou que o apoio da União Europeia a Moçambique bateu todos os recordes, ao fornecer "89 milhões de euros em equipamento às Forças de Defesa e Segurança".
"E cada uma das Forças de Reação Rápida que estamos a formar vai receber cinco milhões de equipamentos que vai permitir equipar tudo menos o material letal, acrescentou.
O chefe da missão militar da UE em Moçambique, brigadeiro-general Nuno Lemos PiresFoto: Romeu da Silva/DW
Ajuda para o desenvolvimento não deve sofrer
O académico Énio Chingotuane entende que as forças militares moçambicanas devem ser treinadas e apoiadas com material bélico para combater o terrorismo. Chama a atenção, no entanto, para o perigo de investimentos necessários no desenvolvimento serem desviados para o militar. E tece a seguinte comparação: "Portanto, existe uma cooperação sim, mas é uma cooperação que te deixa na porta, portanto, vou te ajudar a chegar na porta, mas na porta já não te vou dar chave para entrares.”
O académico deu exemplos bem-sucedidos de apoios militares com material bélico letal em várias missões em África e questiona se a cooperação militar tanto da União Europeia como da SADC é completa. Moçambique, explica, apresentou uma lista do material bélico que precisava. Mas "a SADC disse não, não vos vamos vos dar isso, nós queremos manipular esses instrumentos dentro da vossa casa".
Participantes na conferência sobre a segurança em MoçambiqueFoto: Romeu da Silva/DW
Mais integração regional
O brigadeiro Nuno Lemos Pires salientou a necessidade de uma maior integração regional para fazer face aos desafios no continente africano.
"Eu acho que a cada vez mais a globalização das forças internacionais deve existir e cada vez mais temos que saber trabalhar em organizações regionais alargadas e integradas e alargadas para além do continente", frisou.
No teatro das operações, as tropas conjuntas que combatem o terrorismo têm estado a ganhar terreno no combate ao fenómeno em Cabo Delgado.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
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Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.