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França: Campeões da multiculturalidade

António Cascais | AP
17 de julho de 2018

A seleção francesa, que venceu o Mundial de futebol com o contributo de descendentes de africanos, já está em casa. Campeões foram recebidos em Paris por multidão que pintou os Campos Elísios de azul, branco e vermelho.

Foto: Getty Images/AFP/E. Feferberg

Entre o público que festeja a vitória da França, ninguém se esquece que foram jogadores, na sua maioria com raízes fora de França, com destaque para África, que conquistaram o troféu mundial na Rússia. Aliás, isso já tinha acontecido em 1998, quando a seleção francesa, liderada por Zinedine Zidane, foi campeã mundial no torneio disputado em casa, há precisamente 20 anos.

Hoje, as estrelas continuam a ter raízes fora de França. Os pais de Paul Pogba emigraram da Guiné Conacri para França. O pai de Kylian Mbappé é natural dos Camarões e a mãe da Argélia. Samuel Umtiti nasceu nos Camarões. E Blaise Matuidi é filho de mãe e pai angolanos.

Mas também há jogares franceses com raízes não africanas: Antoine Griezmann é filho de pai alemão e de mãe portuguesa.

França: Campeões da multiculturalidade

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Imigrantes, filhos e netos de imigrantes formaram um conjunto unido e venceram o Mundial com a camisola da França, cuja seleção para muitos mais parece a uma "ONU em miniatura". Esta segunda-feira (16.07) celebrou-se a festa da diversidade.

Outras seleções têm há muitos anos um cunho multicultural, é certo. Portugal é talvez o exemplo mais antigo. A seleção de Eusébio, já nos anos 60, era uma seleção multiracial, o que na altura nem sempre era bem aceite pelas federações e pelos adeptos rivais de outros países europeus.

Mas esses tempos passaram e outras seleções europeias se seguiram, como a Grã Bretanha, a Holanda, a Bélgica e a própria Suíça, que abriram as portas a jogadores imigrantes e descendentes de imigrantes, refletindo assim a realidade das sociedades em que se inserem.

A "escolha difícil" de Blaise Matuidi

O franco-angolano Blaise Matuidi foi abordado há anos pela Federação Angolana de Futebol e poderia muito bem ter escolhido representar a terra natal dos seu país. O futebolista da Juventus, de Itália, conta que teve de fazer uma "escolha difícil" quando optou por defender as cores da equipa azul, em detrimento dos Palancas Negras.

"Na altura tive de fazer uma escolha difícil ao optar pela equipa francesa", justificou Matuidi. "No meu coração moram os dois países. Eu represento tanto a França, como Angola", diz. Matuidi é filho de angolanos: a mãe é natural da província do Uíge e o pai de Luanda.

Franco-angolano Blaise Matuidi: "No meu coração moram os dois países"Foto: Reuters/K. Pfaffenbach

O jogador deu os primeiro passos no futebol em França. Muito jovem começou a sua carreira ao serviço do US Créteil, seguindo depois para o Créteil-Lusitanos, dois clubes com fortes ligações a Portugal.

No entanto, o médio não domina a língua portuguesa, até porque o pai ainda hoje preserva a cultura bantu. A sua família e ele próprio são mais fluentes em lingala, uma das grandes línguas bantus, e também dominam o francês.

Além de Angola, Matuidi tem também especial afeto pela República Democrática do Congo (RDC), país para onde fugiu parte da sua família, no início da década de 80, durante a guerra civil angolana.

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