França deverá anunciar redução de presença militar no Sahel
Lusa
4 de janeiro de 2021
A França vai "muito provavelmente" reduzir os efetivos da sua força anti-jihadista Barkhane na região do Sahel, uma vez que já conseguiu "sucessos militares significativos" em 2020, afirmou a ministra das Forças Armadas.
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"Teremos, muito provavelmente, de ajustar este dispositivo: um reforço por definição, é temporário", disse Florence Parly, numa entrevista ao jornal Le Parisien que será publicada esta segunda-feira (04.01).
A França reforçou, no ano passado, a força Barkhane com 600 soldados, passando o dispositivo para 5.100 homens.
A decisão será tomada na próxima cimeira conjunta da França e dos países do G5 do Sahel, agendada para fevereiro em N'djamena, acrescentou Florence Parly.
Em 2020, a força Barkhane registou "sucessos militares significativos, 'neutralizando' vários altos responsáveis de grupos terroristas e atacando as suas cadeias de abastecimento", sublinhou a ministra das Forças Armadas.
Entre os responsáveis terroristas abatidos pela força Barkhane conta-se o líder da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, o argelino Abdelmalek Droukdal, morto no norte do Mali em junho, e o "líder militar" do Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM), afiliado à Al-Qaeda, Bah Ag Moussa, em novembro passado.
No Mali, três soldados franceses foram mortos na passada segunda-feira durante um ataque com um explosivo artesanal, reivindicado pelo GSIM, e dois outros no sábado, em circunstâncias semelhantes.
"Terroristas usam a arma dos cobardes"
"Sim, as condições de segurança no Sahel continuam difíceis. Os terroristas usam a arma dos cobardes", acusou Florence Parly, afirmando que esses artefactos artesanais são acionados "sem critério" à passagem de veículos civis ou militares.
O Sahel é uma faixa de território entre o deserto do Saara e o Sudão, que inclui diversos Estados e onde se regista o maior aumento do terrorismo 'jihadista', apesar da presença militar francesa e da ajuda financeira da União Europeia.
"Se os 'jihadistas' adotam estes métodos perniciosos de guerrilha, é porque se recusam a lutar, cientes de que não teriam qualquer hipótese se tivessem que enfrentar os soldados de Barkhane num combate regular", considerou a ministra.
A responsável francesa voltou a descartar qualquer negociação "com grupos terroristas como a Al-Qaeda ou o Daesh [nome dado em inglês ao grupo que se autoproclama Estado Islâmico], que assassinam indiscriminadamente e têm sangue nas mãos".
Mas a porta está aberta para "aqueles que depuserem as armas e que forem movidos por uma ideologia radical e criminosa", concluiu.
Viagem a partir de Agadez
Todas as semanas, milhares de pessoas atravessam o deserto do Sahel rumo à Europa. A meio da viagem, muitos param em Agadez, a maior cidade do centro do Níger.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Sala de espera
Vêm do Benim e estão cansados. Num centro para refugiados, em Agadez, estes homens aproveitam para dormir. Eles aguardam o transporte que os levará ao norte do continente africano, passando pelo deserto e pela fronteira com a Líbia, até chegar ao Mar Mediterrâneo. Destino final: Europa.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
A cidade dos guetos
Agadez serve de sala de espera aos refugiados da África Ocidental. Migrantes da Nigéria, Senegal, Gana ou Mali vivem nos cerca de 70 guetos que existem por aqui, separados geralmente por país de origem. Estima-se que, em 2015, cem mil refugiados atravessaram o Níger a caminho do norte.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
À entrada do cemitério
"O deserto foi sempre um cemitério para migrantes", diz Rhissa Feltou, edil da cidade localizada no centro da região do Sahel. Ele ouve frequentemente as histórias dos viajantes sobre cadáveres à beira da estrada ou esqueletos encontrados na areia. O tráfico de pessoas é uma importante fonte de rendimento por aqui. A cidade já quase não tem turistas.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Pedir proteção divina
Antes de seguir viagem, muitos buscam a benção de um imã numa das mesquitas de Agadez. Os viajantes não são só ameaçados pelo calor e areia, mas também pelos ladrões e radicais islâmicos estacionados no deserto.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Coragem e desespero
"É assustador", diz Fousseni Ismael, de 16 anos. "Mas tenho de vencer o medo. Na vida, precisamos de ser corajosos." O jovem do Benim pretendia seguir viagem pelo deserto, a bordo de uma carrinha, nessa noite.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Seguir em frente, apesar de tudo
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), morrem tantas pessoas na travessia do deserto, a caminho do norte do continente, como no Mar Mediterrâneo, rumo à Europa. Na mochila, estes homens do Benim levam apenas o essencial. Às vezes, os migrantes levam anos a chegar à Europa.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Água para três dias
Ao todo, 19 homens partilham o espaço nesta pequena carrinha. A viagem até ao sul da Líbia dura três dias. Para evitar que a água para beber evapore, os recipientes são protegidos com sacos molhados. Os "passadores", na cabine do veículo, arriscam até 30 anos de prisão. Pelo menos é o que estipula uma nova lei, instituída sob pressão da União Europeia.
Foto: Reuters/Akintunde Akinleye
Falta de segurança e corrupção
Alguns polícias tiram proveito do transporte de pessoas pelo deserto. Muitas vezes, os veículos são parados e os refugiados chantageados e roubados. Mais arriscado ainda é para quem se senta na beira dos carros. Os homens seguram-se apenas em pedaços de madeira fixados ao veículo. Cair no meio do deserto seria morte certa. E isso muito antes de alcançar o Mar Mediterrâneo.