Países pedem fim de "interferência estrangeira" na Líbia
Lusa
26 de junho de 2020
A França, Itália e Alemanha pediram esta quinta-feira (25.06) o fim de "toda a interferência" estrangeira na Líbia e incentivaram todas as forças do país a "terminarem imediatamente e incondicionalmente os combates".
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"Perante o crescente risco de deterioração da situação na Líbia e da escalada na região, a França, Alemanha e Itália encorajam todas as partes a encerrarem imediatamente e incondicionalmente os combates e a suspender o contínuo fortalecimento dos militares em todo o país", destacaram.
Segundo a agência AFP, os três países europeus pediram ainda que os diversos agentes estrangeiros ponham fim a toda a interferência e respeitem totalmente o embargo às armas estabelecido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Líbia vive atormentada pelas lutas violentas pelo poder desde a queda do regime de Muammar Kadafi em 2011.
Disputa pelo poder
Desde 2015 que duas autoridades rivais disputam o poder, o Governo da União Nacional (GNA), de Fayez al-Sarraj, estabelecido num acordo apoiado pela ONU, e que tem sede em Tripoli, no oeste da Líbia, e um movimento liderado pelo marechal Khalifa Haftar, no leste.
A Rússia, a par do Egito e Emirados Árabes Unidos, apoia as forças do marechal Haftar, contra as forças do governo de unidade nacional, que é apoiado militarmente pela Turquia.
A França, embora o negue publicamente, é acusada pela Turquia e vários analistas de apoiar o marechal Haftar.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou na segunda-feira o "jogo perigoso" da Turquia na Líbia, alertando para uma nova demonstração da "morte cerebral" da NATO.
Na quarta-feira (24.06), o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Luigi di Maio, em visita a Tripoli, juntamente com o chefe do GNA, pediram o fim das intervenções estrangeiras naquele país.
Líbia à beira de uma crise de água
Devido ao petróleo, a Líbia já foi um dos países mais ricos de África, mas a intervenção militar internacional e a guerra civil mergulharam o país no caos. Muitos estão em risco de perder o acesso a água potável.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Necessidades básicas
A Líbia atravessa uma crise no seu sistema de saúde. As regiões ocidentais, em particular, estão a ficar sem água potável. 101 das 149 condutas do sistema de abastecimento de água foram já destruídas na sequência da situação caótica que o país vive.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Sistema de condutas de água deteriorado
O país é maioritariamente composto por deserto árido. Na década de 1980, ainda com o ditador Muammar Kadhafi no poder, foi construído um vasto e avançado sistema de condutas conhecido como o "Grande Rio Artificial da Líbia". Um projeto que levou o abastecimento de água potável a mais de 70% da população do país. No entanto, desde a queda de Kadhafi, o sistema tem sido danificado.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Guerra civil e caos
Desde a queda de Kadhafi, em 2011, após uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA e a França, o país está mergulhado no caos. O Governo reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Tripoli, é fraco e não controla grande parte do território líbio. Por seu lado, o General Khalifa Haftar e o seu autoproclamado Exército Nacional (LNA) controlam o leste do país.
Foto: AFP/M. Turkia
Alvo Tripoli
O LNA, em particular, tem utilizado o sistema de condutas de água para fazer exigências, colocando assim em perigo a população da Líbia. Em maio, as forças leais ao marechal Haftar obrigaram os trabalhadores do setor da água a cortar a principal conduta que abastecia a capital sitiada, Tripoli, durante dois dias. E exigiram que as autoridades libertassem um prisioneiro.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Água como arma de guerra
Mas não são apenas os grupos rebeldes que usam o sistema de abastecimento de água do país como moeda de troca para defender os seus interesses. Há também pessoas que desmontam bocas de poços para vender o cobre de que são feitas estas estruturas. As Nações Unidas já alertaram os diferentes lados do conflito para que não utilizem a água como arma de guerra.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Riscos para a saúde
Mostafa Omar, porta-voz da UNICEF para a Líbia, estima que, no futuro, cerca de quatro milhões de pessoas poderão ser privadas do acesso a água potável se não for encontrada uma solução para o conflito. A falta de água pode resultar em surtos de hepatite A, cólera ou outras doenças diarreicas.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Água imprópria para consumo
A juntar à escassez da água, está o problema da contaminação deste recurso em algumas áreas do país. A presença de bactérias ou um elevado teor de sal tornam a água imprópria para consumo. "De facto, muitas vezes, a água já não é potável", constata Badr al-Din al-Najjar, diretor do Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.