FRELIMO acusada de usar bens públicos na campanha em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
16 de janeiro de 2018
Partidos denunciam alegado abuso de viaturas e bens do Estado na campanha eleitoral para as intercalares em Nampula, norte de Moçambique. FRELIMO nega acusações. Comissão eleitoral encoraja denúncia de "anomalias".
Publicidade
Alguns partidos políticos concorrentes às eleições intercalares de 24 de janeiro na cidade de Nampula acusam a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) de uso indevido de meios públicos para promover o seu candidato Amisse Cololo, sobretudo no primeiro dia de "caça ao voto".
"E não foi só no primeiro dia de campanha. Até hoje, todas as viaturas que a FRELIMO está a usar são viaturas do Estado", afirma Luciano Tarieque, delegado em Nampula do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). "Mostraram claramente que não estão preparados para gerir o partido, porque o partido depende do governo", critica. "O povo já percebeu que o partido no poder não está em condições de separar o partido e o governo".
A Ação do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI) também lamenta a situação. "O uso de meios do Estado para fins políticos viola a nossa Constituição", disse à DW África o delegado provincial do partido, Hermínio Alberto.
FRELIMO nega acusações
Caifadine Manasse, porta-voz da FRELIMO, refuta as acusações e diz que "todos os membros sabem que é escrupulosamente proibido usar viaturas do Estado e bens do Estado", em qualquer campanha campanha eleitoral.
FRELIMO acusada de usar bens públicos na campanha em Nampula
Na redes sociais têm circulado fotos de uma viatura pública com cartazes de Amisse Cololo, o candidato da FRELIMO. "O que sabemos é que aquela viatura estava parqueada fora de uma residência num bairro e provavelmente alguém foi lá e colou [os cartazes]. O próprio dono não sabe como aconteceu", justifica Caifadine Manasse.
"Estamos a fazer a campanha eleitoral com meios dos nossos membros e repudiamos afincadamente aquele que estiver a usar meios do Estado para esta campanha", sublinha ainda o porta-voz.
Denunciar "anomalias"
A Comissão Provincial de Eleições anunciou que ainda não recebeu qualquer denúncia de casos deste tipo, mas condenou todo o tipo de comportamento que viola as leis vigentes no país. Daniel Ramos, presidente do órgão eleitoral na província de Nampula, encoraja a denúncia de situações do género, apesar de reconhecer que o seu órgão não tem competência para punir os infratores. "Mas qualquer que seja a anomalia, devem reportar-nos para desencorajarmos tal ação", apela.
Segundo a Comissão Provincial de Eleições, 295 mil eleitores são chamados às urnas nas intercalares do próximo dia 24 de janeiro em Nampula, número que representa cerca de 90% da população em idade de votar.
As eleições na terceira principal cidade moçambicana realizam-se na sequência do assassinato do presidente da câmara, Mahamudo Amurane, a 4 de outubro de 2017, um caso que continua por esclarecer.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.