FRELIMO dominou espaço nos média nas eleições, diz relatório
Selma Inocência
13 de março de 2020
Pesquisa do MISA-Moçambique constata que a cobertura eleitoral dos media foi polarizada nas eleições de 2019. Partidos da oposição tiveram menor tempo de antena e sofreram abordagens negativas por parte da imprensa.
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O relatório de monitoria da cobertura dos media nas eleições gerais moçambicanas de 2019 lançado esta quinta-feira pelo MISA Moçambique, em Maputo revela uma atuação polarizada dos órgãos de comunicação social no tratamento da informação. Dentre as constatações apresentadas, constam - sobretudo nos órgãos públicos - a concessão de maior espaço para a FRELIMO, cujas abordagens eram positivas, e menor tempo de antena para partidos da oposição, que sofreram conotação negativas. A DW África falou com Mário Fonseca, coordenador da pesquisa.
DW África: Quais são as principais constatações que o relatório de monitoria da cobertura dos media das eleições gerais de 2019 em Moçambique traz?
Mário Fonseca (MF): Traz constatações muito gerais sobre como é que foi a cobertura eleitoral. Por exemplo, em termos de espaço atribuídos, há uma hegemonia dos partidos parlamentares, que aparecem com mais espaços nos media e os partidos emergentes com menor espaço nos media. E, de um modo geral, eu acho que o relatório mostra, mais uma vez, que existe predomínio da hegemonia do partido no poder em termos de domínio do espaço nos media, depois seguem os dois partidos com representação parlamentar.
FRELIMO dominou espaço nos média nas eleições, diz relatório
DW África: O que diz o relatório sobre a cobertura feita pelos órgão de comunicação social públicos? Houve distribuição adequada do tempo de antena?
MF: Vamos variando de órgão para órgão. Há órgãos como a Rádio Moçambique que têm uma elevada presença de cerca de 39,5% ou 40% para o partido no poder mas também tem cerca de 27% para a RENAMO e cerca de 24% para o MDM. Esta presença não nos surpreende tanto assim. Há um fenómeno que precisa ser analisado de forma mais atenta que é a forma de abordagem. Há uma tendência de que os órgãos fazem uma abordagem positiva do partido no poder e uma abordagem negativa dos partidos da oposição.
DW África: A amostra inclui os medias digitais ou aqueles com alcance regional ou local?
MF: Este estudo, particularmente, não. Não olhou para os novos medias e para esses outros. Analisamos 14 meios de comunicação que incluem os jornais diários que nós temos, são três. Não temos nenhum órgão que está especificamente apenas fora de Maputo que tenha sido analisado.
DW África: Que conclusões traz este relatório sobre a cobertura mediática das eleições 2019?
MF: Há sempre uma tendência polarizada, por isso é que temos por exemplo muita informação política que é negativa ou positiva e temos muito pouco de posição neutra por parte dos jornalistas. Isso mostra a polarização da imprensa moçambicana. Portanto, os media sempre estiveram ligados ou a favor ou contra o trabalho político
"Everyday Africa": Fotografia de rua além dos estereótipos
"Everyday Africa" é um coletivo de fotógrafos que retratam o quotidiano em África além dos clichês. Global Media Forum, evento anual sobre os média da DW, destaca esse trabalho artístico, também presente no Instagram.
Foto: Brian Otieno/storitellah.com
Ballet em qualquer lugar
Esta foto de Brian Otieno, "Dançando nas ruas", é parte da série "Histórias de Kibera". Revela um lado diferente, poético e belo da vida quotidiana em Kibera, a maior favela de Nairóbi, localizada no sudoeste da capital do Quénia. A vida lá é particularmente difícil para as meninas, frequentemente vítimas de ataques. Esta foto de Otieno retrata uma bailarina de 16 anos chamada Elsie.
Foto: Brian Otieno/storitellah.com
As noivas das motocicletas
Um grupo de recém-casados desce uma estrada de terra batida. A fotógrafa Ley Uwera descobriu esta procissão de motocicletas na cidade de Beni, na República Democrática do Congo. A fotografia "Motocicleta de casamento" também pode ser vista no Instagram. Uwera já publicou os seus trabalhos em revistas internacionais.
Foto: Ley Uwera
Competição de xadrez
Mustafa Saeed vive e trabalha em Hargeisa, capital da Somalilândia. A sua foto mostra Mahad (à esquerda) e Mohamed (à direita) competindo durante a final do campeonato da Federação de Xadrez da Somalilândia. Mahad acabou por ganhar.
Foto: Mustafa Said
Debaixo de água
Sam Vox documenta a vida quotidiana na Tanzânia. Ele diz que pretende compartilhar "histórias sobre pessoas, lugares e suas várias culturas e tradições". Vox trabalhou com organizações como a Water Aid and Everyday Education. "Somos feitos de água salgada, tão pura e calma como o mar da tarde", escreveu sobre as suas misteriosas imagens feitas na água.
Foto: Sam Vox
Estrelas de cinema em ascensão
Edward Echwalu descobriu potenciais estrelas de cinema numa favela de Kampala, Uganda. Ele tem orgulho de fazer parte do "Everyday Africa". "Nunca, na história de África, houve um período em que as fotos mais fotografadas não sejam de guerras, pobreza, doenças; mas sobre o quotidiano das pessoas comuns. Mais importante do que isso, são histórias contadas por africanos", escreveu no Instagram.
Foto: Edward Echwalu
Penteados com estilo
O fotógrafo nigeriano Yagazie Emez possui uma comunidade com mais de 140.000 seguidores no Instagram. As suas fotos muitas vezes contam histórias de mulheres africanas e também sobre os seus penteados. Emezi viaja pela Tanzânia, Zâmbia, Gana, Gabão, Libéria e Uganda para fotografar.
Foto: Yagazie Emez
Antes do julgamento
Tom Saater é um documentarista e cineasta da Nigéria. O seu trabalho foi exibido em vários países do mundo, inclusive na famosa Bienal de Veneza. Esta foto mostra uma candidata a advogada a caminho do seu exame em Abuja, Nigéria. Como todos os fotógrafos do "Everyday Africa", Saater quer mostrar a vida quotidiana em África numa perspetiva raramente encontrada nos média ocidentais.
Foto: Tom Saater
Prontos para a festa!
Estes jovens não costumam perder tempo em filas de bancos ou postos de gasolina, ao contrário de muitas pessoas no Zimbabué. Eles querem mesmo é desfrutar das suas vidas nas festas. O grupo chama-se "Cultura Material" e junta jovens de vários municípios de Bulawayo, a segunda maior cidade do país. É também aí que o fotógrafo Zinyange Auntony trabalha e reside.
Foto: Zinyange Auntony
Crise ecológica
Maheder Haileselassie tirou esta foto de um homem a abrir caminhos através de jacintos-de-água. Essas flores multiplicam-se rapidamente, interrompendo a biodiversidade da água - como no lago Tana, na Etiópia. Documentar as mudanças ambientais no seu país de origem é o esforço do fotógrafo que vive em Addis Abeba, a capital etíope.
Foto: Maheder Haileselassie
Encontros na estrada
Nana Kofi Acquah viaja pelo continente para fotograr. A sua foto "Aperto de mãos" foi tirada em Tanghin-Dassouri, Burkina Faso. Aqui, caminhadas curtas podem durar muito tempo, já que no caminho quase todos param para se cumprimentarem. E não dizem apenas "olá" "bom dia", mas perguntam: "como está a sua esposa, filhos, negócios ou saúde?". E ouvem cada resposta atentamente, observou o fotógrafo.