CASA-CE admite a possibilidade de criação de uma "frente única" para as eleições autárquicas de 2020. UNITA diz que o assunto "ainda não foi discutido no seio do partido". Analista prevê vantagens na coligação.
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A Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), a segunda maior força política da oposição angolana, estuda a possibilidade de criar uma "frente única" para as eleições autárquicas de 2020.
Lindo Bernardo Tito, deputado e vice-presidente da CASA-CE, diz que, nos próximos dias, o partido vai consultar potenciais parceiros. "Defendemos durante algum tempo a necessidade de a oposição concertar no âmbito de apresentar ou apoiar candidaturas únicas onde for necessário", afirmou, em entrevista à DW África.
"Desde a legislatura anterior que temos estado a defender essa nossa posição e vamos agora dialogar com outros partidos da oposição para definirmos os termos sobre os quais deve se fazer esta frente comum da oposição, que se estende também a personalidades da sociedade civil que queiram concorrer", acrescentou.
"Frente única" da oposição para as autarquias em Angola?
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição em Angola, também já tinha manifestado a intenção de se unir a outras forças para fazer frente ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, nas eleições de agosto do ano passado.
Contactado pela DW África, Alcides Sakala, porta-voz do "Galo Negro", não descarta essa possibilidade, mas adianta que "o assunto ainda não foi discutido pela direção do seu partido".
"Muito se tem falado sobre essa questão ao nível da opinião pública nacional, mas, enquanto partido, esta questão ainda não foi discutida, apreciada e abordada. Esta questão merecerá a seu tempo uma reflexão e a posição que a direção da UNITA vier a tomar será tornada pública", afirmou.
Agostinho Sikatu, politólogo e diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos, vê vantagens numa eventual coligação. "Há muitos benefícios [na coligação]. E um dos benefícios é conseguir ganhar espaço e ganhar autarquias em determinadas localidades. Caso contrário, a oposição vai perder as autarquias", sublinha.
Papel da igreja católica
As eleições autárquicas começarão a ser implementadas em 2020, e o pacote legislativo está em consulta pública até ao final deste mês. Entretanto, ainda não há consenso entre a oposição e o partido no poder sobre o gradualismo deste processo autárquico.
Na semana passada, a igreja católica angolana defendeu eleições em todos os municípios do país. Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, congratula-se com a posição da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).
"A igreja católica apareceu no momento oportuno e, como sempre, assertiva. Ela acompanha a vida de Angola e dos angolanos na sua profundeza. A sua decisão resulta das constatações que foram fazendo ao longo destes anos todos", diz.
A UNITA, em comunicado da reunião do seu Comité Permanente, lido pelo porta-voz Alcides Sakala, também saúda a posição da igreja católica, que "oferece sugestões e aponta caminhos que podem orientar os poderes públicos na construção dos consensos necessários para se implementar as autarquias locais em todo país".
Presidentes para sempre
Vários líderes africanos já com muitos anos no poder, se não décadas, procuram prolongar a estadia no cargo através de mudanças na Constituição. Alguns deles são o único Presidente que muitos dos seus cidadãos conhecem.
Foto: picture-alliance/P.Wojazer
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika tem 81 anos, conta com 19 no poder e tudo indica que vai tentar a reeleição em 2019, num país onde não há limite de mandatos. Em 2013 sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde parecem travar o Presidente.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
Camarões: Paul Biya
Aos 85 anos, Paul Biya é o Presidente mais velho do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Este ano, deverá concorrer novamente às eleições, depois de uma revisão à Constituição, em 2008, retirar os limites aos mandatos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Guiné-Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Nas últimas eleições do país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Depois de vencer eleições em 2017, poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/G. Dusabe
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder. Em dezembro de 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Com 73 anos, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: Getty Images/AFP/G. Grilhot
Burundi: Pierre Nkurunziza
O terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o TPI, terá causado cerca de 1200 mortos e 400 000 refugiados. Em maio de 2018, terá lugar um referendo para alterar a Constituição que permitirá ao Presidente continuar no cargo que ocupou em 2005 até 2034.
Foto: Imago/photothek/U. Grabowski
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Recentemente, a Constituição do Gabão foi revista e além de acabar com o limite de mandatos, também permite ao Presidente tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/G. W. Obangome
Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016. Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/K.Tiassou
Républica Democrática do Congo: Joseph Kabila
Joseph Kabila sucedeu ao pai no poder em 2001, após o seu assassinato. Deveria ter terminado o segundo e último mandato no final de 2016. Através de um acordo com a oposição, continuou à frente do país. Este prolongamento seria de apenas um ano, mas as eleições que deveriam ter acontecido em dezembro de 2017 não se realizaram. Estão agora previstas para o final de 2018. Será desta?
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Zâmbia: Edgar Lungu
Edgar Lungu é dos que está no poder há menos tempo, apenas desde 2015, mas já vai no segundo mandato - que deveria ser último. Contudo, Lungu pretende recandidatar-se em 2021. Alega que o seu primeiro mandato não contou, uma vez que apenas substituiu o anterior presidente, Michael Sata, que faleceu em 2014, além de ter sido por um curto período, longe dos cinco anos previstos para um mandato.