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Frente unida da oposição é "perigosa" para o MPLA

António Cascais
7 de maio de 2021

Politólogo angolano acredita que uma frente unida aumentaria as hipóteses da oposição vencer as eleições de 2022. Mas entende que os partidos têm de se esforçar mais para transformar o descontentamento do povo em votos.

Abel Chivukuvuku (esq.), coordenador do PRA-JA, Adalberto Costa Júnior (centro), presidente da UNITA, e Justino Pinto de Andrade, líder do Bloco DemocráticoFoto: Borralho Ndomba/DW

Adalberto Costa Júnior, líder da União para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), terá sido o escolhido para liderar a "Frente Patriótica Unida" na corrida às eleições gerais de 2022.

A notícia é avançada pelo Novo Jornal, que dá conta de uma "reunião secreta" do projeto que junta a UNITA, o Bloco Democrático e o PRA-JA, numa tentativa de derrotar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), no próximo ano. Segundo o jornal, o plano é ter o líder do projeto político PRA-JA, Abel Chivukuvuku, como "número dois".

A DW África tentou em vão falar com os líderes políticos em questão. O porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, confirmou apenas que estão a decorrer conversações sobre a Frente Patriótica. O "número um" da lista, será divulgado mais tarde, afirmou Dachala.

Conversámos  com o professor e politólogo angolano Olívio N'kilumbu sobre o assunto.

Olívio N'kilumbu, politólogo angolanoFoto: Privat

DW África: O que representa esta decisão da oposição, de criar uma frente unida, no contexto político de Angola?

Olívio N'kilumbu (ON): A oposição angolana entendeu criar uma frente única para contrapor o MPLA, partido no poder, que conta com três forças políticas: UNITA, o projeto PRA-JA e o Bloco Democrático. Noutros anos já se falou dessa frente unida, mas nunca se pôs em prática, sobretudo em época eleitoral.

DW África: Acha que vai ser um projeto vencedor? Vai aumentar as hipóteses da oposição vencer as eleições de 2022?

ON: Acho que sim. A oposição tem de fazer um esforço para transformar este descontentamento generalizado em votos. É uma tarefa por fazer. É preciso que a oposição tenha capacidade e competência para entender o fenómeno e transformar essa tendência, porque nota-se que uma frente unida tem maior impacto, sobretudo para contrapor as manobras de manutenção do poder político do MPLA.

DW África: E os outros partidos não terão entrado no barco porquê?

ON: Não consigo precisar porquê, mas a informação que temos é de que alguns líderes não foram convocados - ou foram convocados mas não se mostraram disponíveis.

João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: Getty Images/M. Spatari

Não é fácil criar uma frente unida em Angola, um país onde o multipartidarismo só aconteceu em 1992 e ainda há uma visível presença do monopartidarismo. Tentar convencer uma elite política a fazer parte de uma frente única não é uma tarefa fácil. Aqueles que estiveram disponíveis são estes.

DW África: A UNITA, PRA-JA e Bloco Democrático são liderados por autênticos "animais políticos" - Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade. Será que se vão entender?

ON: Esse é o grande defafio. E recordo as palavras de Abel Chivukuvuku: 'há que afastar os orgulhos".

Se eles tiverem um objetivo, que é desalojar o MPLA do poder, tal como aconteceu no Senegal e na República Democrática do Congo, que tiveram lideranças longevas - não ao nível do MPLA, mas com mais de 20 anos - acho que é possível. E será necessário encontrar entre os líderes das três formações alguém para liderar esse projeto. O "Novo Jornal" dá conta de que pode ser Adalberto Costa Júnior. Mas tanto Adalberto Costa Júnior, como Abel Chivukuvuku são, como disse, verdadeiros "animais políticos" e apresentam-se como as maiores 'unidades' dos últimos 30 anos ou pelo menos da Angola democrática.

DW África: E, perante esta jogada da oposição, como deverão reagir o Presidente João Lourenço e o MPLA?

ON: A reação é meio satírica. Lembro-me de João Lourenço dizer: 'vão buscar os vizinhos, amigos e primos'... Ou seja, podem juntar quantos forem necessários, mas não será possível desalojar o MPLA. É um sacudir de água do capote por parte de João Lourenço. Mas essa frente única representa um perigo para o poder político do MPLA.

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