Fronteiras do Sul do Sudão: uma das várias questões por resolver
8 de julho de 2011O Tageszeitung evoca a mistura de alegria e preocupação que já é bem patente no seio dos sudaneses do sul...” uma alegria que se exprime desde há alguns dias nos preparativos da festa. Em Juba, as poucas ruas asfaltadas e mesmo os vários caminhos de terra batida vêm sendo varridos diariamente, o que antes não era normal. Os edifícios foram pintados e um grande carregamento de bandeiras "made in China" chegou ”. Em Janeiro último, nota o jornal, “quando o Sul se pronunciou, por referendo, a favor da independência, foi a euforia. Seis meses mais tarde, nuvens sombrias começaram a aparecer no céu”. E o Tageszeitung, aproveita para enumerar os vários litígios, ainda não solucionados, entre o Norte e o Sul, nomeadamente “o traçado da fronteira, o petróleo e o enclave de Abyei “. Por outro lado, o quotidiano também evoca o vertiginoso aumento dos preços no Sul do Sudão. “ No mercado negro, o litro de gasolina e de gasóleo chega agora a custar o equivalente a dez euros. Entretanto, o combustível chegou do Uganda e do Quénia e os preços baixaram novamente”. Mas o jornal acrescenta que “sete pequenas bananas, por exemplo, custam seis libras sudanesas, cerca de dois euros” .
O pesadelo da guerra civil que durou 20 anos ainda está bem presente
O Berliner Zeitung foi a Mundri, uma cidade de 33 000 habitantes, situada a 200 kms a noroeste de Juba. “ A escola primária está instalada à sombra de mangueiras. Os ramos das árvores servem de assentos e são as únicas mobílias juntamente com o quadro negro que o professor comprou no mercado. Não há mesas ou carteiras e as crianças não têm lápis ou cadernos” . Mas, acrescenta o quotidiano, “ apesar de todo esse quadro as crianças aprendem alguma coisa, como ler, um pouco de matemática, inglês e ciências naturais. Em Mundri, a vida continua a ser dura para os habitantes que já suportaram no passado mais de 20 anos de guerra civil. Mas todos, sem excepção, “reconhecem que viver em paz é uma boa coisa porque não esqueceram ainda os pesadelos da guerra”, conclui o Berliner Zeitung .
Os desafios que serão enfrentados pelo novo Estado são vários
Também os semanários alemães escreveram sobre os desafios que deverão ser enfrentados pelo novo Estado.
"Bem vindo a Juba", diz o "Der Spiegel", que escreve que “ao descer do avião, o passageiro que chega à capital do Sul do Sudão tem em primeiro lugar a impressão de ter chegado a um estaleiro de construções” . No que concerne ao conceito da democracia no mais jovem Estado do mundo, o semanário escreve que “nesse capítulo tudo está ainda por construir”. “Os jornalistas”, destaca o semanário, “são acusados de espionagem, nas barreiras rodoviárias a polícia faz reinar a arbitrariedade, enquanto a vida política é inteiramente dominada pelo Congresso Nacional para a Democracia (o partido do presidente). Os problemas profundos do país não estão ainda solucionados , como a galopante corrupção e a falta de um engajamento sério no trabalho ”. E o Der Spiegel conclui afirmando que “os ministros são dirigidos na sua maioria por homens que têm infinitamente mais experiência na limpeza de espingardas e outras armas do que na direção de uma administração eficiente”.
As etnias no Sul do Sudão não se entendem há décadas
Um outro semanário, o Die Zeit, evoca, por seu turno, os conflitos inter-comunitários no Sul do Sudão. O Sul escreve o Die Zeit, “nunca foi uma frente unida”. E explica: “No início da década de 90, uma sangrenta fratura ocorreu no seio do SPLA, o exército de libertação, entre, dum lado os Dinka, etnia muito forte e do outro, os Nuer e os Chillouk. Hoje, para os habitantes do sul, a violência interna é muito mais mortífera do que a ameaça oriunda do regime de Cartum“. A ONU, contabilizou mais de mil e quinhentos mortos desde o início do ano, destaca o Die Zeit e isso já é suficiente, acrescenta o semanário, para "prever uma crise existencial no novo Estado".
Além disso, como explica a jornalista de uma rádio local, Elisabeth Mayk Lual, ao semanário, as “pessoas esqueceram os roubos de gado". Os bois são sagrados no sul do Sudão e são com bois que se pagam os dotes das raparigas. Pode acontecer, por exemplo, que uma jovem Dinka seja negociada por cem ou mais cabeças de bois. “Elisabeth Lual, faz parte atualmente de uma rede de sul-sudanesas de diferentes tribos e etnias que utilizam os seus telemóveis para serem mediadoras” quando os rapazes das suas respectivas tribos já têm em mãos uma “kalasnikov”. Há duas semanas negociaram um "tratado de paz" entre duas comunidades inimigas que estavam em pé de guerra. “O documento de cinco páginas é uma espécie de mistura de uma resolução da ONU e o roteiro da paz israelo-palestiniano”, conclui o Die Zeit.
Autor: António Rocha
Edição : Cristina Krippahl