Fumo branco na resolução da crise política guineense?
Braima Darame (Bissau)
16 de abril de 2018
Depois do consenso alcançado entre os partidos, Aristides Gomes entra em funções esta segunda-feira como novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, no lugar de Artur Silva. Parlamento deve reabrir na quinta-feira.
Aristides Gomes, que já foi primeiro-ministro, substitui agora Artur Silva na chefia do Governo. Este é o resultado do consenso político alcançado em Lomé entre os dois principais partidos políticos guineenses, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o Partido da Renovação Social (PRS), informou este domingo (15.04) o Presidente José Mário Vaz.
Aristides Gomes, uma figura muita próxima do atual presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, formará um governo que terá a missão de organizar as próximas eleições legislativas. O chefe de Estado garantiu fixar a data de 18 de novembro de 2018 como o dia das eleições legislativas. Será o sétimo primeiro-ministro na era José Mário Vaz, Presidente da República desde 2014.
Fumo branco na resolução da crise política guineense?
Reabertura do Parlamento
O presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, convocou para esta terça-feira (17.04) uma reunião de urgência da Comissão Permanente do Parlamento para agendar a reabertura do Parlamento para 19 de abril, próxima quinta-feira.
A Assembleia Nacional Popular está bloqueada há quase dois anos devido às divergências entre os partidos.
"A partir de agora, o Parlamento assumirá a sua responsabilidade que permitirá ao novo primeiro-ministro formar o seu Governo", afirmou Cipriano Cassamá.
PAIGC e PRS satisfeitos
Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, disse que o novo Governo será formado pelos partidos com representação parlamentar, de uma maneira proporcional e em função dos mandatos no Parlamento, tal como prevê o Acordo de Conacri.
"Vamos acreditar que aquilo que não entendíamos ficou esclarecido, disse Domingos Simões Pereira, congratulando-se com a escolha do novo primeiro-ministro. "Não pode haver prova mais evidente da vontade do PAIGC de que em matérias desta natureza não se trata de intenções, escolhas e preferências, trata-se de colocar o interesse dos guineenses em primeiro lugar", frisou.
A chefe da delegação do Partido da Renovação Social (PRS), que esteve em Lomé, manifesta-se satisfeita com os resultados da cimeira. Martina Moniz afirma também que novo Governo será formado no âmbito do cumprimento do Acordo de Conacri.
"Na cimeira não conversamos sobre as pastas. Falamos sobre o Governo de consenso, mas sobre as pastas vamos ter que negociar com o PAIGC, com base no que está no Acordo de Conacri."
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.