Utentes chegam a pagar cinco vezes mais por medicamentos em farmácias privadas e mercados informais de Inhambane, sul de Moçambique, devido à falta de remédios nos hospitais públicos. Autoridades reconhecem problema.
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Os hospitais públicos da província de Inhambane estão sem medicamentos devido a roubos ou desvios protagonizados pelos próprios funcionários. A situação é tão grave que os pacientes chegam a adquirir os fármacos em mercados informais, residências de particulares e em farmácias privadas.
Num debate organizado pelo Grupo Moçambicano da Dívida no princípio deste mês em Maxixe, o porta-voz do evento, Egas Daniel, criticou o problema que está a afetar a população local. "Normalmente não tem sido fácil. Um privado é uma pessoa que cria seu hospital e adquire medicamentos para a província, mas um hospital do Estado não conseguir ter os medicamentos, isso não é lógico", sublinha.
Funcionários roubam medicamentos de hospitais em Inhambane
Maria Savanhane, uma paciente e residente em Inhambane, disse à DW África que é comum a falta de medicamentos nos hospitais públicos, porque os próprios funcionários criam as suas farmácias.
"É claro que todo o mundo diz que os próprios funcionários de lá é que desviam medicamentos e acabam metendo nas próprias farmácias para a gente adquirir", afirma.
Jorge Massicame, outro residente na Maxixe, revelou que não conseguiu tratar uma doença da sua filha por não ter medicamentos na farmácia pública. No privado, estava acima da sua capacidade financeira.
"Receitaram-me este medicamento e na farmácia não havia, assim tinha que arranjar meios e não consegui. Era 400 meticais [cerca de 6 euros]. Tem acontecido várias vezes. O que pode resultar isso?", questiona.
Autoridades reconhecem problema
Stélio Tembe, porta-voz da Direção Provincial da Saúde em Inhambane, reconhece a existência do desvio de medicamentos nas unidades sanitárias, ato praticado pelos funcionários. Os medicamentos vendidos no mercado informal são os mesmos que são fornecidos aos hospitais.
"Muitas vezes são os mesmos medicamentos que no hospital custam somente 5 meticais [abaixo de 0,5 centavos de euros], mas quando estão lá fora acabam fazendo por exemplo uma carteira de antimalárico por 200, 300 e 400 meticais [equivalente a 3, 4 e 6 euros]. Infelizmente esses medicamentos são vendidos nos mercados informais ou nas residências privadas", diz.
Para acabar com esta situação, as autoridades governamentais estão a trabalhar em conjunto promovendo palestras nas comunidades envolvendo a população e a polícia, segundo explica Stelio Tembe.
"Trabalhamos de forma multisetorial, colocamos a população vigilante, aproveitamos todos os momentos para palestras, também com o envolvimento dos comandos da polícia. Nós sabemos que está acontecer e nós condenamos essa prática", sublinha.
Inhambane: Um ano depois do ciclone Dineo
A 15 de fevereiro de 2017, a província moçambicana de Inhambane foi fustigada pela tempestade, que destruiu hospitais, escolas e estradas. A solidariedade veio de todos os cantos do mundo, mas danos ainda são visíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Travessia condicionada
Há precisamente um ano, o ciclone destruiu o tabuleiro da ponte-cais de Maxixe, onde atracavam embarcações que transportam pessoas desta cidade para Inhambane. A ponte ainda aguarda pela reabilitação, que vai custar mais de 35 milhões de meticais (cerca de 460 mil euros). No terreno já se encontra a empresa adjudicada para a reconstrução da ponte, cujo prazo é de 60 dias.
Foto: DW/L. da Conceicao
Solidariedade
Vários centros de saúdes e hospitais foram destruídos e muitos cidadãos ficaram sem atendimento hospitalar. Os parceiros de cooperação ajudaram na reconstrução de algumas infraestruturas, como o Centro de Saúde de Maxixe, que ficou completamente destruído e foi reabilitado sete meses depois do ciclone. Mas ainda há vários centros de saúde que necessitam de obras.
Foto: DW/L. da Conceicao
Tetos novos
Alguns edifícios onde funcionam serviços do Estado ficaram sem telhado por causa do ciclone, como foi o caso da Direção Distrital dos Serviços de Educação e Desenvolvimento Humano na cidade de Maxixe. Mas agora já tem tetos novos e outra imagem.
Foto: DW/L. da Conceicao
De portas fechadas
A loja da operadora móvel Mcel na cidade de Maxixe continua de portas fechadas e não há sinais de uma possível reabilitação. Os funcionários da empresa continuam a trabalhar, mas debaixo de uma árvore. Uma situação que já dura há quase um ano.
Foto: DW/L. da Conceicao
Reabilitação a meio gás
Vários edifícios que ficaram danificados com a passagem do ciclone Dineo pela província só foram reabilitados parcialmente. Como a Escola Secundária 29 de Setembro, em Maxixe. Apenas uma parte do edifício foi reabilitada, incluindo o telhado. Os responsáveis da instituição dizem que não têm dinheiro suficiente para reparar todos os danos causados pela tempestade.
Foto: DW/L. da Conceicao
Bombeiros e polícia
O posto policial, que também alberga os serviços dos bombeiros da cidade de Maxixe, ficou sem telhado e com as paredes danificadas. Mas já foi recuperado e está agora de cara lavada.
Foto: DW/L. da Conceicao
Pavilhão desportivo
A Universidade Pedagógica (UP) de Maxixe precisa de dinheiro para reabilitar o pavilhão desportivo. O local acolhia vários eventos na cidade: casamentos, encontros religiosos e cerimónias governamentais. Mas há já um ano que não se realiza nenhuma atividade no complexo. A direção da UP diz que ainda está à procura de parceiros para conseguir reabilitar o pavilhão.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas por reabilitar
Muitas famílias de Inhambane viram os telhados das suas casas voar com o ciclone. Um ano depois, nem todas conseguiram reabilitar as suas casas e vivem agora em residências sem grandes condições. O mesmo cenário verifica-se nas casas dos diretores das escolas que continuam sem teto. Dizem que há falta de dinheiro devido à crise financeira que assola o país.
Foto: DW/L. da Conceicao
Obras atrasadas
As autoridades locais das zonas que mais sofreram com o ciclone Dineo dizem que as obras para melhorar as vias de acesso estão completamente atrasadas porque o dinheiro adjudicado foi canalizado para as necessidades mais pontuais. Mas prometem continuar os trabalhos quando tiverem mais verbas disponíveis.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mercados destruídos
Também muitos estabelecimentos comerciais ficaram destruídos, mas as autoridades governamentais estão a dar prioridade à reabilitação de hospitais e escolas. Ainda assim, o comércio não parou e muitos vendedores foram para as ruas continuar os seus negócios. "É a única alternativa que temos para sustentar as nossas famílias, enquanto aguardamos a reabilitação dos mercados", dizem.
Foto: DW/L. da Conceicao
Casas pré-fabricadas
Várias famílias que perderam as suas residências e escolas que ficaram sem salas de aula receberam casas pré-fabricadas oferecidas pelo Governo da Turquia. Essas infraestruturas trouxeram uma nova realidade a algumas zonas.