Yacouba Sawadogo transforma terras áridas em florestas
Eddy Micah Jr. | mjp | Daniel Heinrich
25 de setembro de 2018
Três ativistas dos direitos humanos, duas figuras da luta contra a corrupção, um agricultor e um agrónomo são os vencedores do Prémio Nobel Alternativo 2018. Yacouba Sawadogo, "o homem que travou o deserto", destaca-se.
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Todos os vencedores deste ano do Prémio Nobel Alternativo 2018, atribuído pela Fundação sueca Right Livelihood desde 1980, estão determinados em fazer do mundo um lugar melhor. Mas um deles destaca-se: "o homem que travou o deserto". Yacouba Sawadogo, do Burkina Faso, recebe o prémio da Fundação pela extraordinária capacidade de transformar terras áridas em florestas e ensinar os agricultores a regenerarem o solo com uma ideia inovadora.
Como explica Ole von Uexküll, diretor da Right Livelihood, "durante uma seca extrema no início dos anos 1980, ele prometeu travar o deserto. E juntando a inovação às técnicas tradicionais de plantio, conseguiu. O seu método chega agora a dezenas de milhares de agricultores, com efeitos muito positivos na biodiversidade, na segurança alimentar e na capacidade de gerar recursos".
"Florestas estão a sofrer"
A história começou com um terreno árido de quase 40 hectares que Yacouba conseguiu transformar em floresta. Hoje, nas mesmas terras, crescem mais de sessenta espécies de árvores e arbustos.
Fundação Right Livelihood distingue soluções visionárias para problemas globais
O sucesso deve-se ao uso inovador de uma técnica local chamada "zai" – a plantação de árvores juntamente com trigo. As raízes das árvores retêm a água da chuva por mais tempo no solo e o grão é usado como alimento para a criação de gado.
Hoje, Yacouba organiza seminários no Burkina Faso e no Níger para ajudar milhares de agricultores a recuperarem as suas terras. À DW, Yacouba afirma que "não podemos ser inimigos da natureza". "Ninguém está a cuidar das nossas florestas. A população cresceu e as florestas estão a sofrer. Se cortarmos 10 árvores por dia e não plantarmos nenhuma num ano, estamos a caminho da destruição", assevera.
O "criador de florestas"
Outro do vencedores do prémio Nobel Alternativo deste ano está também empenhado no combate à desertificação na região do Sahel. O agrónomo australiano Tony Rinaudo vive há décadas em África, onde desenvolveu uma técnica de plantação de árvores a partir do sistema de raízes no subsolo. Chama-lhes "florestas subterrâneas".
O agrónomo encontrou uma solução simples mas eficaz que lhe valeu a alcunha de "criador de florestas": só no Níger, o seu método permitiu a regeneração de 50 mil quilómetros quadrados de terra com mais de 200 milhões de árvores.
Como recorda Tony Rinaudo, "as pessoas estavam muito vulneráveis nos anos 1980. Enfrentavam secas e, quando chovia, a água não se entranhava no solo. Mesmo quando tinham boas plantações, elas eram destruídas pelas inundações. As pessoas morriam de fome". Este tipo de intervenções ambientais, como a plantação de árvores, acrescenta, "atuaram como um amortecedor: quando há uma seca, o impacto é menor, porque há humidade no solo. E quando há chuvas fortes, a água não causa tantos estragos".
Corrupção e direitos humanos
O Nobel Alternativo 2018 premeia também o trabalho de Thelma Aldana, da Guatemala, e Ivan Velasquez Gomez, da Colômbia, que estão entre os mais proeminentes combatentes da corrupção no mundo. Desde 2014, lideram a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala, um órgão independente da ONU que já denunciou mais de 60 organizações criminais no país e levou a 300 condenações e 34 reformas legais.
Destaque ainda para três advogados ativistas dos direitos humanos na Arábia Saudita, que cumprem atualmente penas de prisão entre 10 a 15 anos por desafiarem o "sistema político totalitário". Lutam pelo respeito dos direitos humanos, pelo estabelecimento de uma monarquia constitucional e pela igualdade de género na Arábia Saudita.
O Prémio Nobel Alternativo 2018 é atribuído pela Fundação Right Livelihood a "organizações e pessoas corajosas que propõem soluções visionárias para as causas dos problemas globais".
Nigéria: Auto-estrada no meio da floresta?
A floresta Ekuri, no sul da Nigéria, uma das últimas florestas tropicais intactas do país, está em perigo. O governo local quer construir uma estrada de seis faixas a atravessar a vegetação. A população está indignada.
Foto: DW/A. Kriesch
Protesto no paraíso
Até agora, nenhum meio de comunicação internacional veio até esta pequena aldeia, na floresta Ekuri. "É a primeira vez que alguém nos ouve", diz um dos habitantes que espontaneamente organizaram um protesto. O governo do estado de Cross River, no sul da Nigéria, quer construir uma auto-estrada gigante, no coração da floresta. Estes manifestantes temem perder a casa e os meios de subsistência.
Foto: DW/J. P. Scholz
Sem luz e sem estradas
Aqui, muitas pessoas sentem que foram deixadas ao abandono: Foram elas que tiveram de construir as pontes que dão acesso à aldeia. Não há água canalizada, nem eletricidade. Antes das últimas eleições, houve um político que os visitou - de helicóptero. Os habitantes dizem que ele ofereceu dinheiro e fez várias promessas. Mas, depois das eleições, nunca mais apareceu.
Foto: DW/J. P. Scholz
Terras confiscadas
Os habitantes receberam a notícia no início do ano. Ao ler o jornal, descobriram que não só o governo regional planeava construir uma auto-estrada no estado de Cross River, como também expropriar todas as terras num perímetro de 10 quilómetros em redor da nova rodovia.
Foto: DW/J. P. Scholz
A primeira super-estrada da Nigéria
A estrada deverá ligar um novo porto em Calabar, a capital do estado de Cross River, ao norte da Nigéria - o plano é construir uma das estradas mais modernas de África, com 260 quilómetros, seis faixas e internet de alta velocidade para todos os condutores. O projeto custará 800 mil milhões de nairas, quase quatro mil milhões de euros. Não se sabe ainda ao certo como será financiada.
Destruindo o verde da floresta
Algumas árvores começaram a ser cortadas mesmo sem se saber como o projeto iria ser pago. O governo local nem esperou pelo estudo de impacto ambiental, exigido por lei. Entretanto, o estudo já deu entrada, mas não cumpre as normas internacionais, informa o Ministério nigeriano do Ambiente.
Foto: DW/A. Kriesch
Bulldozers à espera
O Ministério ordenou que se parasse de imediato o abate de árvores antes de receber o estudo de impacto ambiental e depois dos protestos de ambientalistas e habitantes. Os bulldozers estão parados na floresta, à espera de "luz verde".
Foto: DW/A. Kriesch
Natureza ímpar
Na floresta Ekuri habitam animais ameaçados de extinção, como o mandril ou o gorila de Cross River. Há aqui mais de 1.500 espécies de plantas. Esta é uma das florestas tropicais mais diversas do planeta.
Foto: DW/A. Kriesch
"Estão a esconder alguma coisa"
Odigha Odigha é ex-presidente da Comissão Florestal de Cross River e está agora a tentar travar a construção da auto-estrada, com a organização "Coligação pelo Meio Ambiente" - "Ao todo, são 520.000 hectares de terras que serão nacionalizadas, 25% da área deste estado", diz Odigha. "Ainda ninguém nos disse por que estão interessados numa área tão grande - estão a esconder alguma coisa."
Foto: DW/A. Kriesch
Comércio de madeira em vez de desenvolvimento?
Alguns ativistas e habitantes suspeitam que, além da construção da estrada, há também interesse em comercializar a valiosa madeira da floresta. Por isso é que não se expande a estrada principal que já existe, dizem. A nova estrada gigante serviria, assim, como pretexto para poder cortar a madeira e vendê-la ao exterior, a preços inflacionados.
Foto: DW/A. Kriesch
Governo local desmente
A ministra da Informação de Cross River nega. "Vamos plantar duas árvores por cada árvore cortada", diz Rosemary Archibong. Mas continua a não ser claro por que é necessário nacionalizar 10 quilómetros de cada lado da rodovia. "As pessoas deverão beneficiar do desenvolvimento ao longo da estrada, por exemplo através da agricultura", responde Archibong. "Mas esse tema ainda vai ser debatido."
Foto: DW/A. Kriesch
Habitantes continuam protesto
Os habitantes da floresta Ekuri queixam-se que ninguém falou com eles. Margret Ikimu está desiludida com a política: "Primeiro, deviam melhorar esta estrada decrépita que passa por aqui", diz. "O governo regional já está há um ano no poder e ainda não vimos mudanças. E agora querem levar o único que nos resta, a floresta."