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Fundos públicos patrocinam corrupção no futebol angolano?

13 de setembro de 2023

"O desporto angolano é uma fonte que muita gente tem estado a usar para fazer a lavagem de dinheiro”, diz o jornalista e analista desportivo angolano Carlos Tomé.

Foto: Borralho Ndomba/DW

Nos últimos dias, a Federação Angolana de Futebol  (FAF) penalizou clubes como o Petro de Luanda, o Kabuscorp do Palanca e a Académica do Lobito, alegadamente por estarem ligados a casos de corrupção, que envolviam a venda de resultados de jogos. Para o jornalista Carlos Tomé, isso não é novidade. As denúncias de casos de corrupção no desporto em Angola já são antigas, mas estranhamente pouco se tem feito, diz o jornalista.

Lembra ainda que muitos dos clubes do Girabola são financiados pelo Estado, logo, acrescenta Carlos Tomé, "quem potencia a corrupção no futebol angolano é o próprio Governo".

DW: Casos de corrupção não são novidade no futebol angolano?

Carlos Tomé (CT): Existem indícios de corrupção já há algum tempo, é que além de envolver clubes, também envolveu pessoas singulares: árbitros de futebol do basquetebol têm estado a receber brindes para facilitar clubes em detrimento de outro.

DW: De onde sai todo esse dinheiro?

CT: O desporto angolano, particularmente o futebol, é patrocinado pelo Governo. E o maior patrocinador do Governo é a maior petrolífera que é a Sonangol. E a Songangol tem alguns clubes no Girabola, ou seja, a Sonangol patrocina o Girabola de maneira geral, e de forma particular patrocina outros clubes: Petro do Luanda, Académica do Lobito, Sporting de Cabinda, Petro do Huambo, enfim... Quero eu acreditar que este dinheiro que os clubes usam para corromper outros clubes vem, claro, do dinheiro do Estado.

DW: Então, é dinheiro público que continua a girar nos meandros da corrupção, o mal que o Governo quer combater?

CT: Exatamente. O combate à corrupção em Angola é uma miragem, não será possível combater a corrupção em Angola, sobretudo neste Governo. É como disse, é dinheiro público que continua a girar em torno da corrupção, ou seja, sai de pessoas poderosas, desce para as menos poderosas e depois acaba voltando para as mais poderosas. Acho que o desporto é uma fonte que muita gente tem estado a usar para a lavagem de dinheiro, porque o desporto angolano não é rentável. Se olhar para os salários, o Petro do Luanda paga salários até aos 17 milhões de Kwanzas, o 1º de Agosto paga até 15 milhões de Kwanzas quando este 1ª de Agosto não produz nada, quando este Petro do Luanda não produz nada e o próprio campeonato ainda não é uma liga, não absorve qualquer dinheiro extra Estado. Logo, quero acreditar que quem financia é o Estado. E quem potencia a corrupção é o proprio Governo. Então, são os próprios fundos públicos que tem estado a ser utilizados para pagar clubes, jogadores... andarem nos corredores escuros a corromperem qualquer clube que for, de menor expressão em relação aos de maior expressão.

João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: Amanuel Sileshi/AFP/Getty Images

DW: Como reage a declaração do PR, segundo a qual, a decisão tomada pela Federeção Angolana de Futebol mancha também a imagem do futebol angolano, quando a Federação está a dizer não a corrupção?

CT: O apelo do PR não foi de suspender os castigos para os clubes, mas sim de suspender a intenção de querer afastar de todo o Petro de Luanda, ou seja, criou-se a ideia de que sem o Petro do Luanda o campeonato não seria igual, não. O pedido do Presidente é de que se fosse a fundo a verificar quem é o verdadeiro culpado, mas que se deixasse o campeonato começar.

DW: Mas o que isso significaria, não suspender na totalidade mas dar alguma punição?

CT: Claro, o código ético da FIFA, artigo 119, diz que quando algum clube tem algum elemento indiciante na corrupção, é preciso que o clube participe e colabore para a denuncia do corrupto. O que houve, é que o Petro do Luanda eventualmente não colaborou a 100%.

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