Futebol: Novo modelo do Moçambola é alvo de críticas
Bernardo Jequete (Manica)
15 de março de 2019
Campeonato moçambicano de futebol vai ser disputado em dois grupos, divididos entre as regiões sul e centro/norte do país. Novo modelo do Moçambola seria uma resposta à insuficiência de fundos. Mas desportistas criticam.
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O campeonato moçambicano de futebol, Moçambola, vai arrancar em 30 de março e será disputado em dois grupos com oito equipas cada, apurando-se para a fase final os quatro primeiros classificados de cada série.
A assembleia geral da Liga Moçambicana de Futebol (LMF) decidiu no passado dia 7 de março que as 16 equipas do Moçambola vão disputar o campeonato nacional de 2019 divididas em duas regiões: sul e centro/norte. A mudança deve-se à insuficiência de recursos, segundo a LMF.
Os dois grupos vão jogar no formato tradicional de todos contra todos, em duas voltas, apurando-se para a fase final os quatro primeiros classificados, que vão jogar no mesmo sistema, também em duas voltas. O organismo federativo optou por este modelo, abandonado o sistema em que as 16 equipas jogavam todas entre si, igualmente em duas voltas.
Críticas
Entretanto, desportistas e adeptos criticam este novo modelo. Um deles, Rui Requetai, abordado pela DW África em Manica, disse se tratar de "um modelo muito negativo, porque as equipas não vão se conhecer".
"Dividir em dois grupos na minha opinião é um modelo negativo, e se assim for devem mudar o nome também ao invés de ser Moçambola então iriam inventar outro nome que vai corresponder com o tipo do campeonato que inventaram e aprovaram este ano. Assim, a unidade nacional já não existe. Por esta razão deviam mudar o nome de Moçambola, porque Moçambola queria dizer Moçambique, um jogo de futebol de Moçambique. Agora assim Moçambique já está dividido", explicou Rui Requetai.
Mário António, também desportista, afirma que "o modelo não é bem-vindo". "Daquilo que nós antes realizávamos, os jogos não eram assim. Nós não concordamos com a falta de dinheiro que LMF alega, pois sempre houve falta de dinheiro, mas com os jogos a se realizar. Isso já não é Moçambola, pode ser jogos provinciais", criticou.
Para o desportista Ido Patrício, as equipas da "zona Centro são da zona Centro, do Sul são do Sul e do Norte são do Norte e isso significa que é racismo, é tribalismo". Segundo Patrício, esse modelo não representa o Moçambola e "não é futebol". "Todos contra todos é que é Moçambola. Isso é uma desorganização".
"Maior nível de competitividade"
Michael Ussene, presidente do Clube do Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica (GDRT), instado a comentar sobre o novo modelo aprovado, afirma que o modelo escolhido pela LMF não é aprovado pela equipa.
Futebol: Novo modelo do Moçambola é alvo de críticas
"O Textáfrica queria um modelo de todos contra todos a nível nacional, sobretudo porque permite-nos ter o maior nível de competitividade, permitindo a rodagem dos atletas. E também permite a nós, a nível particular como GDRT, ter uma maior bilheteira desde do ponto de vista da atratividade que nos traz o modelo de todos contra todos, permitindo equipas de Maputo, Gaza Inhambane e das outras de mais províncias virem jogar no Chimoio".
O presidente do Textáfrica acrescentou que "o modelo ora adoptado vai nos permitir jogar com as equipas do Centro e Norte, embora haja um porém grande para nós que é a questão da deslocação para as duas províncias do Norte, neste caso Nampula e Cabo Delegado".
De acordo com Ussene, "a deslocação terrestre no troco Inchope-Caia, está péssimo, em condições quase desumanas, sobretudo para os atletas que praticam o futebol a nível profissional. Viajar por esta rota de carro é muito complicado e este é um dos aspetos que agente está a discutir, está a colocar na mesa, porque é preciso clarificar como é que se fará este transporte do centro para as duas províncias do Norte", questiona o presidente do GDRT.
Limitações financeiras
Segundo Liga Moçambicana de Futebol, a decisão foi motivada pelas limitações financeiras que o organismo enfrenta desde o ano passado e que chegaram a colocar em risco a conclusão do Moçambola de 2018, o que não aconteceu graças à intervenção do Governo moçambicano.
Observadores notam que a falta de dinheiro pode ser uma realidade, pois na tentativa de não se dividir o país, através do futebol, o Presidente da República Filipe Nyusi pediu na última quarta-feira (13.03) à cervejeira Heineken para apoiar o Moçambola, visando acabar com os problemas que se colocam na disputa da maior prova futebolística do país. O pedido foi feito durante a inauguração da fábrica de cervejeira em Moçambique.
Textáfrica: Ruínas e o legado do seu clube de futebol
A Textáfrica foi a maior fábrica têxtil de Moçambique. Instalada na década de 50, hoje sobram apenas ruínas, e o bom nome de seu clube de futebol.
Foto: DW/J. Bernardo
Ano 2000: Extinta a fábrica Textáfrica
A empresa Textáfrica, instalada em 1951, foi a maior fábrica têxtil de Moçambique. Depois da Independência do país, ela teve apoio de cooperantes alemães da República Democrática da Alemanha (RDA). No ano 2000, paralisou as suas atividades e cerca de quatro mil trabalhadores ficaram desempregados. A economia do país foi afectada - a empresa impulsionava a economia moçambicana.
Foto: DW/J. Bernardo
Só ficaram quinquilharias
Nos pavilhões da extinta fábrica, já não se encontram as maquinarias - tampouco parece que este local um dia foi uma fábrica têxtil. Há apenas bugigangas e máquinas obsoletas. Uma dúvida, porém, permanece: para onde foram as maquinarias da Textáfrica?
Foto: DW/J. Bernardo
"Gigante" têxtil abandonada
À primeira vista, a antiga fábrica da empresa moçambicana parece um ginásio. Mas engana-se quem assim o pensa, pois neste local decorriam as atividades de tecelagem. Antigamente, era bem melhor equipada com sistemas de frio e maquinarias de alta potência, entre outros. Caso apareça um investidor, deverá recomeçar tudo do zero...
Foto: DW/J. Bernardo
De plantação de algodão a mercado
Após a falência da Textáfrica, no ano 2000, foram erguidas bancas de venda de diversos produtos na zona onde era plantado o algodão, matéria-prima da empresa têxtil. Neste local, vende-se produtos alimentares, roupas, cereais, tubérculos, frutas, etc. Este é hoje o maior mercado grossista da província, denominado Francisco Manyanga, também conhecido como "Mercado 38".
Foto: DW/J. Bernardo
Carpintaria na fábrica têxtil
Para evitar que as instalações fiquem totalmente abandonadas, a direção da extinta Textáfrica arrenda vários compartimentos da mesma. E, pela escassez de armazéns e empresas extrativas, empresários concorrem às instalações para desenvolverem suas atividades comerciais.
Foto: DW/J. Bernardo
Reativação em breve?
O governador provincial de Manica, Manuel Rodrigues, garantiu há dias que esforços estão sendo envidados, a nível provincial e central, para atrair investidores. O objetivo é colocar em funcionamento aquela que foi a maior fábrica têxtil do país. "Potenciais investidores chineses, indianos e sul-africanos já visitaram o local. Há uma luz no fundo do túnel", disse o governador.
Foto: DW/J. Bernardo
Petizes no antigo centro infantil da Textáfrica
Neste edifício degradado funcionava um centro infantil da antiga fábrica Textáfrica. No local, as crianças dos trabalhadores - e também as que viviam nos arredores – frequentavam as aulas. Hoje, crianças ainda visitam o local, mesmo nas atuais condições. Os petizes brincam, correm e passam tempo ali, de algum modo, a pressionar os dirigentes para a reativação do espaço.
Foto: DW/J. Bernardo
Clube de futebol sem fundos
O clube de futebol da empresa foi criado em 1958. Hoje, a bancada do campo do Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica está sem teto devido à intempérie de janeiro último. A direção está a buscar fundos para reposição, pois, a 31 de março, deverá começar a edição 2019 da maior prova futebolística de Moçambique: "Moçambola".
Foto: DW/J. Bernardo
Equipa fabril em pé e forte!
Estes são alguns dos jogadores do Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica, GDRT: eles mantém o bom nome da empresa! O governador, Manuel Rodrigues, ao centro, é ladeado por Miguel Júnior, técnico-adjunto, e Aleixo Fumo, técnico principal. A equipa arrasta massas em Manica e no país. Apesar da falência da empresa, os futebolistas continuam em pé e forte!
Foto: DW/J. Bernardo
Negócio sustentável
O clube Textáfrica possui alguns artigos timbrados, ou bordados, com o nome da própria fábrica. São chapéus, cascóis, camisetas e muitos outros artigos. É através da venda deste material que o clube GDRT sobrevive, para além do apoio de alguns empresários da praça. Há também uma loja em Chimoio, que vende material desportivo e promove a imagem desta empresa.
Foto: DW/J. Bernardo
Campeão de futebol
A equipa Textáfrica foi a primeira campeã de futebol em Moçambique, mas, de lá para cá, nunca mais ascendeu ao título nacional. O curioso é que, mesmo passando diversas situações difíceis no âmbito financeiro, ela nunca abandonou a competição futebolística.
Foto: DW/J. Bernardo
Futuro
O primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, visitou as instalações em fevereiro de 2018, anunciando interesse de empresários estrangeiros em breve. "Tivemos que vir cá para mantermos contacto e acompanharmos o nosso empreendimento. Nossa visita ao complexo fabril Textáfrica foi para demostrar interesse do Governo em revitalizar a fábrica da Textáfrica", disse.