A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental suspendeu a operação militar na Gâmbia para uma última mediação. Presidente cessante Yahya Jammeh foi intimado a entregar o poder até ao meio-dia.
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Yahya Jammeh tem até às 12 horas desta sexta-feira (20.01) para deixar a Presidência da Gâmbia e sair do país, anunciou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Na quinta-feira, tropas da coligação militar regional entraram no país para expulsar Jammeh, derrotado nas eleições de 1 de dezembro. Mas a operação foi suspensa horas depois, para dar lugar a uma última mediação liderada pelo Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, em Banjul.
"Se até ao meio-dia, [Jammeh] não aceitar sair do país sob a proteção do Presidente Condé, então as tropas vão passar à intervenção militar propriamente dita", afirmou o guineense Marcel Alain de Souza.
"Não vou envolver as minhas tropas numa guerra estúpida"
Na capital gambiana, milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar a tomada de posse do Presidente Adama Barrow em Dacar, no Senegal, e a entrada no país da coligação regional militar. Alguns soldados uniram-se aos opositores a Jammeh, incluindo o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o general Ousman Bargie, que anunciou, na quarta-feira, a sua decisão de se submeter à autoridade do novo Presidente Adama Barrow.
"Não vou envolver as minhas tropas numa guerra estúpida", afirmou Bargie. Por isso, as tropas regionais não encontraram nenhuma resistência enquanto marchavam até à capital para restabelecer a ordem constitucional.
O enviado da DW à Gâmbia, Adrian Kriesch, diz, no entanto, que, de um modo geral, o ambiente em Banjul está calmo e as ruas ficaram desertas rapidamente.
CEDEAO faz ultimato a Yahya Jammeh
"Muitas pessas estão com medo. Não sabem o que vai acontecer, um cenário destes nunca tinha surgido antes", salienta Kriesch. "As ruas encontram-se desertas em praticamente todo o país, os gambianos preferem recolher-se nas suas casas. Mas a maioria é de opinião que a intervenção é difícil de evitar. Jammeh não respeitou o ultimato, agora não há outra saída, apenas uma intervenção militar. Parece ser esta a atitude dos gambianos."
"Neste país gerimo-nos por leis"
O ministro da Informação, leal a Jammeh, desvalorizou as ameaças do Senegal, da Nigéria e da CEDEAO, em geral.
Seedy Njie disse que Jammeh "permanecerá no poder", como foi solicitado pela maioria no Parlamento do país, que aprovou o estado de emergência declarado por Jammeh, autorizando-o a ficar mais três meses no poder.
O ministro disse ainda que não acredita que haja intervenção militar no seu país.
"Neste país gerimo-nos por leis e não por ameaças de países estrangeiros", afirmou. "A Gâmbia está calma e os cidadãos confiam que as leis do país serão seguidas e que o país mantenha a sua soberania."
Fontes locais referem, entretanto, que Yahya Jammeh prepara a saída do país com destino a Marrocos, país de origem da sua mulher, que lhe terá oferecido asilo.
2016 em imagens: O que moveu África?
Entre o terror, a democracia e a imprevisibilidade, o ano no continente africano fica marcado por momentos de viragem. Acompanhe a DW África nesta viagem pelos acontecimentos mais marcantes de 2016.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Terror imprevisível
A África Ocidental ainda recuperava de um ataque a um hotel em Bamako, no Mali, quando os extremistas islâmicos voltaram a atacar: a 15 de janeiro, dezenas de pessoas morreram num atentado da Al Qaida no Magrebe Islâmico num hotel em Ouagadougou, no Burkina Faso. O cenário repete-se em março, com cerca de 20 mortos num ataque à estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim (na foto).
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
Reconhecimento do genocídio
Depois de vários anos de indefinição e após a resolução sobre a Arménia no Parlamento alemão, Berlim classifica também como genocídio a morte de dezenas de milhares de pessoas Nama e Herero na Namíbia, no período colonial. Mantêm-se as divergências entre os dois países sobre reparações. As negociações são adiadas para 2017. Na foto: manifestantes na Namíbia lembram os crimes do passado colonial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert
Todos contra o TPI
Depois do julgamento do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o Tribunal Penal Internacional chega a um impasse também no processo contra o seu vice, por falta de provas. Na União Africana, Kenyatta relança a campanha anti-TPI. Com sucesso: o Burundi, a Gâmbia e a África do Sul anunciam que vão abandonar o TPI. No entanto, enquanto forem membros, têm de continuar a cooperar com Haia.
Foto: Getty Images/AFP/M. Beekman
Ex-ditadores não são intocáveis
De Kenyatta, no Quénia, a Al-Bashir, no Sudão: os chefes de Estado são os pesos pesados na mira do TPI. A condenação do ex-ditador do Chade, Hissène Habré (na foto), em maio, lança um aviso a outros ditadores da região. Habré é condenado a prisão perpétua e a decisão parte de um tribunal especial no Senegal, criando-se a estrutura para julgar outros ditadores no futuro, sem depender do TPI.
Foto: picture-alliance/dpa
Herança cultural não deve ser subestimada
Em 2012, extremistas islâmicos destruíram a mesquita de Sidi Yahya, em Tombuctu. Só a restauração da porta demorou cinco meses. Em setembro de 2016, a mesquita é reaberta - um sinal de esperança para o Mali. O julgamento no Tribunal Penal Internacional também serve de aviso: Ahmad Al Mahdi é condenado em outubro a nove anos de prisão pela destruição de património mundial.
Foto: Getty Images/AFP/S. Rieussec
Braços cruzados podem custar vidas na Etiópia
No Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após cruzar a meta da maratona, o etíope Feyisa Lilesa protesta com os braços cruzados. Na Etiópia, o gesto de oposição ao regime é perigoso. Em outubro, em Bishoftu, a polícia dispersa um protesto e dezenas de pessoas morrem num tumulto. O grupo étnico Oromo diz-se marginalizado pelo Governo da Frente Democrática Revolucionária Popular da Etiópia (EPRDF).
Foto: picture-alliance/AP Photo
"Meninas de Chibok": a persistência compensa
Depois de dois anos e meio de incerteza, os pais de 21 alunas sequestradas em Chibok recebem as suas filhas de volta, em outubro. É o resultado das negociações do Governo da Nigéria com os extremistas islâmicos do Boko Haram. No entanto, quase 200 meninas continuam detidas. O Executivo de Muhammadu Buhari garante que vai libertar as estudantes que permanecem em cativeiro.
Foto: Picture-Alliance/dpa/EPA/STR
#ThisFlag: desafiar o poder
Com o seu movimento #ThisFlag ("Esta Bandeira"), o pastor Evan Mawarire torna-se a cara da contestação popular no Zimbabué. Mas Robert Mugabe anuncia que pretende recandidatar-se à Presidência em 2018 e continua a reprimir protestos. Na República Democrática do Congo, as eleições são adiadas e Joseph Kabila tenta manter-se no poder até 2018, contra a Constituição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Polémicas não demovem chefes de Estado
É "o Presidente dos escândalos" na África do Sul: acusações de violação e negação do HIV marcam os mandatos de Jacob Zuma, no poder desde 2009, juntamente com a restauração milionária da sua residência com fundos públicos. Mas Zuma mantém-se no poder, mesmo depois da divulgação de um relatório que levanta uma série de suspeitas de ligações entre a Presidência e a influente família indiana Gupta.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Presidenciais surpreendentes
Em Cabo Verde e no Benim, os cidadãos apostam na continuidade. Mas em outros países, como no Gana, vence a oposição: John Mahama aceita a vitória de Nana Akufo-Addo e promete uma transição pacífica. Na Gâmbia, o cenário parece, à partida, semelhante: Adama Barrow (na foto) vence as eleições. Após 22 anos no poder, Yahya Jammeh admite a derrota. Mais tarde, Jammeh recua e rejeita os resultados.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Adeus a Papa Wemba
Com 66 anos, "o rei da rumba congolesa" morre em abril,depois de perder os sentidos num concerto em Abidjan, na Costa do Marfim, tal como Miriam Makeba, oito anos antes. O mundo despede-se de um músico que dizia que não fazia música congolesa ou africana, "apenas música".