A Gâmbia criou uma "Comissão da Verdade" que pretende investigar os crimes cometidos no país na era do antigo Presidente Yahya Jammeh. O ex chefe de Estado, agora no exílio, esteve 22 anos no poder.
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Os 11 membros que integraram este grupo de investigação formado na segunda-feira (15.01) vão começar a ouvir testemunhas sobre os 22 anos de opressão do regime de Yahya Jammeh, com o objetivo de punir os responsáveis e fazer, finalmente, justiça.
Yahya Jammeh chegou ao poder em 1994, depois de um golpe de Estado. Estabeleceu um regime de opressão, durante o qual muitos dos seus opositores foram sequestrados e torturados. Foram 22 anos de execuções sumárias, tortura e violação por parte da temida Agência Nacional de Inteligência, à qual nem jornalistas escaparam.
Inspirada na investigação sobre o apartheid levada a cabo na África do Sul, a Comissão da Verdade e Reconciliação da Gâmbia pretende repor a verdade. "O medo dominou o nosso país por mais de duas décadas. Com as mães a temer todas as noites que os seus filhos e maridos não regressassem a casa por terem sido sequestrados ou abatidos", recorda o atual ministro da Justiça da Gâmbia, Abubakar Tambadou. "A tortura era diária", frisa.
Responsáveis à solta
Muitos dos responsáveis por este tipo de crimes foram presos, mas outros, como Yahya Jammeh, vivem no exílio.
16.10 Gambia Comissao da Verdade - MP3-Mono
"Para que este país avance é preciso esforçar-se para perceber quais foram os erros do passado. Deve identificar e fazer com que os responsáveis respondam [pelos seus atos]. Trazer a justiça que as vítimas e as suas comunidades tanto desejam", comenta Fatou Bensoud, da Procuradoria-Geral do Tribunal Penal Internacional (TPI).
OJ e Baba Hydara são duas das vítimas que sofreram nas mãos dos agentes de segurança de Jammeh e saúdam a criação desta Comissão. "Sofri bastante, fui preso e torturado 22 vezes, até perdi um olho. A minha esposa foi presa, juntamente com os meus amigos. Um deles não aguentou a tortura e morreu. Esta comissão trará justiça, especialmente para as pessoas que perderam alguém de quem gostavam", considera OJ.
"O meu pai era jornalista. Um dia, quando estava a ir para o trabalho, foi baleado e morreu. A partir daí, tenho viajado de país em país em busca de justiça", diz Baba Hydara.
Desejo de mudança na Gâmbia
A Gâmbia festejou a tomada de posse do novo Presidente, Adama Barrow, após 22 anos de ditadura. As expetativas em relação a Barrow são altas; os desafios que o aguardam são muitos.
Foto: DW/V. Haiges
Uma nova era
Adama Barrow venceu as primeiras eleições democráticas na Gâmbia em décadas. No sábado, foi empossado como Presidente pela segunda vez, depois de tomar posse provisoriamente na embaixada da Gâmbia no Senegal pois o seu antecessor, Yahya Jammeh, se recusava a sair do poder.
Foto: DW/V. Haiges
Vizinhos atentos
Milhares de pessoas foram até ao Estádio da Independência para celebrar a tomada de posse de Barrow, sob o olhar atento de soldados da CEDEAO.
Foto: DW/V. Haiges
Quase a qualquer custo
Muitas pessoas já estavam às quatro da manhã no estádio para reservar lugar. Outras chegaram tarde e tentaram subir a vedação para ver a cerimónia.
Foto: DW/V. Haiges
Está na hora
Adama Barrow apontou várias vezes para o relógio ao entrar no estádio. A multidão reagiu em júbilo. Para a maior parte das pessoas na Gâmbia, este é um novo capítulo da história da Gâmbia.
Foto: DW/V. Haiges
#GambiaHasDecided
Preparativos na maior cidade da Gâmbia, Serekunda: O slogan #GambiaHasDecided – a Gâmbia decidiu – expressava a vontade de mudança de muitos gambianos ao nível político e económico. O slogan até chegou às t-shirts.
Foto: DW/V. Haiges
Esperança na recuperação económica
O mercado de Serekunda é um dos maiores entrepostos comerciais do país. As maiores fontes de receitas do país são a exportação de amendoins e o turismo. A Gâmbia é um dos países mais pobres do mundo. A insegurança no país após as eleições de 1 de dezembro de 2016 afugentou muitos turistas e isso fez com que a situação económica se deteriorasse ainda mais.
Foto: DW/V. Haiges
Coabitação pacífica
No país maioritariamente muçulmano vive uma grande minoria cristã. A Gâmbia é conhecida por coabitarem pacificamente, no seu território, várias religiões e culturas. Mas, nos últimos anos, as autoridades enfatizaram as diferenças entre os diferentes grupos étnicos, provocando tensões. Muitas minorias olham agora com expetativa para Adama Barrow.
Foto: DW/V. Haiges
Expetativas elevadas
Muitos gambianos olham para o futuro com esperança, mesmo sabendo que o país enfrenta bastantes problemas: a economia está de rastos, os cofres estão vazios, há cortes de energia frequentes. Adama Barrow fez muitas promessas aos gambianos e, agora, eles esperam que o novo Presidente implemente as reformas que prometeu.