Gâmbia: Permanência de missão da CEDEAO gera controvérsia
Janko Sankulleh | Omar Wally
28 de setembro de 2020
O prolongamento da presença da ECOMIG até 2021 na Gâmbia está a dividir opiniões. O Presidente justifica que precisa de proteção pessoal, mas cidadãos ouvidos pela DW consideram a medida desnecessária e desmoralizante.
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Na Gâmbia, os cidadãos têm opiniões divididas sobre a prorrogação por mais um ano do mandato das forças militares da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), estacionada naquele país da África Ocidental desde a crise política de 2016.
Na altura, o então Presidente gambiano, Yahya Jammeh, recusava-se a deixar o poder após a sua derrota nas eleições presidenciais, que deram vitória ao atual chefe de Estado, Adama Barrow.
Gâmbia: liberdade de imprensa está de regresso
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Quadro anos depois, Barrow pediu à CEDEAO para manter os militares no país até 2021. Na cimeira realizada no Níger, no início deste mês, o bloco sub-regional decidiu pela permanência da missão da CEDEAO na Gâmbia, a ECOMIG. Uma decisão que gera controvérsia.
A jovem Oley Faal manifesta-se contra a presença de soldados estrangeiros no país. "Pessoalmente, sou contra a prorrogação do mando dos soldados da ECOMIG. Penso que eles não são responsáveis pela segurança interna na Gâmbia. Quando digo segurança interna, quero dizer que eles não são responsáveis pela taxa de criminalidade. Eles garantem segurança à Presidência, o que creio que a segurança interna da Gâmbia pode fazer", diz.
"Além disso, a sua presença para mim está a desmoralizar os soldados da Gâmbia, pelo que considero que já é altura de eles irem", acrescentou esta cidadã gambiana.
Exército apoia permanência da ECOMIG
Em resposta, o porta-voz do Exército da Gâmbia, Lamin Sanyang, disse que a presença da ECOMIG "não faz adormecer as Forças Armadas da Gâmbia". "A razão da sua permanência e o mandato das Forças Armadas da Gâmbia são totalmente diferentes. Este mandato está explícito na Constituição de 1997, que estabelece que o Exército deve proteger e defender a integridade territorial e a soberania da Gâmbia contra agressões externas", sublinha.
Exclusivo: Presidente gambiano responde a críticas
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O Presidente Adama Barrow justifica o seu desejo de continuar a ter a presença militar da CEDEAO para a sua proteção, com a necessidade de garantir a estabilização total do país. Também pelas ruas da Gâmbia há quem apoie a manutenção da ECOMIG no território gambiano por mais tempo do que o previsto.
O jovem Malick Jarju concorda com a decisão do seu Presidente. "Apoio a presença das forças da ECOMIG na Gâmbia e penso que elas precisam de ficar para além de 2021. A verdade é que algumas destas pessoas ainda são leais ao antigo regime e, como eu disse, quando os exigimos que viessem ao país em 2017, sabíamos quais seriam exatamente as repercussões da sua presença no terreno, porque tivemos experiências semelhantes em 1981", afirmou.
Nova Constituição
Para o movimento que está a contestar a permanência dos soldados da CEDEAO na Gâmbia, Adama Barrow estaria a planear mudar a Constituição para manter-se no poder mais que os dois mandatos previstos.
O cidadão gambiano Lamin Tamba defende a saída imediata dos militares da missão da CEDEAO. "A missão ECOMIG deveria ter terminado agora. Não deveria ter demorado mais de três meses. A Gâmbia não teve qualquer agitação civil, a Gâmbia não tem guerra, não há nenhum conflito a ocorrer na Gâmbia neste momento. Portanto, a presença da ECOMIG é muito desnecessária", diz.
No passado dia 22 de setembro, os parlamentares da Gâmbia chumbaram o projeto de Lei de Promulgação da Constituição, que teria impedido Barrow de concorrer a um terceiro mandato presidencial. O debate sobre a nova Constituição continua no país.
Antigas crianças-soldado lutam agora contra o coronavírus
A guerra civil na República Centro-Africana (RCA) envolveu milhares de crianças em grupos armados. Aquelas que tiveram a sorte de escapar estão agora a ajudar vizinhos a protegerem-se da pandemia de Covid-19.
Foto: Jack Losh
Coronavírus: Um novo inimigo
Uma equipa de antigas crianças-soldados e crianças de rua cava um poço para beneficiar moradores de um bairro pobre na capital da República Centro-Africana, Bangui. Os jovens ajudam a melhorar a higiene em áreas onde moradores vivem amontoados. O projeto da UNICEF instalou poços para 25 mil pessoas e começou antes de o coronavírus chegar à região. Agora ajuda a RCA a lutar contra a pandemia.
Foto: Jack Losh
Perfuração pela paz
Um jovem pressiona um mecanismo que os seus companheiros giram manualmente para perfurar um poço. O projeto da UNICEF é também uma forma de reabilitação social, porque oferece aos adolescentes um trabalho remunerado enquanto superam o passado violento. Também encoraja a comunidade a aceitá-los de volta. O programa foi criado em 2015, e agora integra o plano de resposta ao coronavírus.
Foto: Jack Losh
Trabalho sujo
Crianças-soldados agacham-se para retirar a terra à mão. Existem mais de 3,9 mil casos confirmados de coronavírus na RCA, embora a limitação de testes no país leve a crer que o número real seja maior. O grupo de trabalho de escavação de poços acelera a instalação de novos tubos e furos a nível nacional. Quase 80% dos lares na RCA não dispõem de instalações para lavagem das mãos.
Foto: Jack Losh
Corações e mentes vencedoras
Crianças reúnem-se para observar a escavação dos poços. As antigas crianças-soldados enfrentam rejeição - o que pode aumentar as suas hipóteses de serem novamente recrutadas. As intervenções que promovem a aceitação são cruciais. Como explicou uma delas: "Este trabalho pode mudar a minha vida. Finalmente tenho algum dinheiro. E estou a ajudar estas comunidades e o meu país".
Foto: Jack Losh
Terra marcada
Sepulturas não marcadas na periferia de Bossangoa, no noroeste da RCA. Civis massacrados no conflito foram enterrados aqui. Após décadas de instabilidade, a guerra eclodiu em 2013, quando uma aliança principalmente muçulmana de grupos rebeldes, a Séléka, varreu o país e derrubou o Presidente. Em resposta, comunidades cristãs e animistas mobilizaram-se para formar as milícias "anti-balaka".
Foto: Jack Losh
Acordo de paz desgastado
Um soldado rebelde da "FPRC" fica de guarda num posto de controlo no norte da RCA. Os rebeldes controlam grande parte do país e - apesar da assinatura de um acordo de paz em fevereiro passado entre o governo e 14 grupos armados - a instabilidade persiste. Nos últimos meses, intensificaram-se confrontos entre grupos armados rivais pelo controlo da zona rica em minerais.
Foto: Jack Losh
"Crianças, não soldados"
Uma placa de sinalização da UNICEF em Bossangoa alerta contra o recrutamento de crianças em conflitos armados. Entre 2014 e 2019, mais de 14,5 mil crianças-soldado foram libertadas das milícias da RCA. No entanto, estima-se que 5,550 crianças permaneçam nas mãos de grupos armados. Muitas são vítimas de abuso sexual, outras são combatentes e outras servem como cozinheiras, guardas ou mensageiras.
Foto: Jack Losh
Educação contra estatísticas
Crianças reúnem-se dentro de uma sala de aula improvisada debaixo de lonas, num acampamento para famílias deslocadas pelo conflito em Kaga Bandoro. Mais de 1,3 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em média, uma em cada cinco crianças não frequenta a escola. Mas nas áreas mais afetadas, o número chega a quatro em cada cinco.
Foto: Jack Losh
Civis sitiados
Uma força de manutenção da paz da ONU dirige-se em patrulha por um campo de deslocados na cidade de Bria, no leste, capturada por rebeldes. Uma placa à entrada adverte guerrilheiros sobre a entrada de armas. As condições apertadas e insalubres de campos como estes também aumentam o risco de propagação do coronavírus.
Foto: Jack Losh
Resiliência face à guerra
Os civis sentam-se na parte de trás de um camião enquanto conduzem através do território detido pela facção FPRC no nordeste da RCA. A ONU adverte que o país está muito mal preparado para fazer face a um surto de coronavírus. O conflito complexo e sectário devastou o fraco sistema de saúde da RCA e forçou o pessoal médico a fugir. Atualmente, metade da população depende do apoio humanitário.
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Uma luta penosa
Uma criança leva água e passa por um soldado das forças de manutenção da paz perto de um campo de deslocados em Bria, uma área controlada por rebeldes. O ACNUR está a instalar pontos de água nos campos e explica aos residentes a importância da lavagem das mãos. Encarregados pela ajuda humanitária advertiram que há pouco recurso para satisfazer as necessidades da população.
Foto: Jack Losh
Tentar manter a paz
Mulheres passam por um veículo blindado da ONU, que foi retido por rebeldes em Kaga Bandoro. Há receios de que a Covid-19 intensifique as tensões entre as comunidades, gerando aumento de preços e paralisando o fornecimento de ajuda. Com as eleições presidenciais marcadas para dezembro, este é um ano crucial para a RCA. Observadores temem que as hostilidades aumentem na campanha eleitoral.
Foto: Jack Losh
Atacar violadores
Os adolescentes jogam futebol num campo de terra, numa área para deslocados em Kaga Bandoro. Embora os números possam ser muito mais elevados, mais de 500 violações graves dos direitos da criança foram relatadas no ano passado. Estão em curso esforços para levar os senhores da guerra à justiça, mas a corrupção generalizada torna tudo mais difícil.
Foto: Jack Losh
Um lampejo de esperança
Antigas crianças-soldados terminam a perfuração do seu novo poço em Bangui. A terapia profissional está fora do alcance de muitos por aqui. Mas projetos como este ajudam a lidar com sentimentos de vergonha e de culpa e a criar uma sensação de normalidade. Embora não seja de modo algum uma solução perfeita, iniciativas de base como esta oferecem às crianças da RCA um pouco mais de esperança.