Fontes militares confirmam que deverão entrar no país depois da meia-noite de hoje (18.01) para obrigar o Presidente cessante, Yahya Jammeh, a deixar o cargo.
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As tropas da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deverão entrar na Gâmbia depois da meia-noite de hoje (18.01) para obrigar o Presidente do país, Yahya Jammeh, a ceder o cargo ao vencedor das eleições de dezembro, indicam fontes militares locais.
De acordo com as mesmas fontes, citadas por meios de comunicação locais, a força militar regional será formada por efetivos da Nigéria, Gana, Togo e Mali, entre outros, sob o comando do Senegal, país em que se encontra Adama Barrow, o homem que venceu as eleições presidenciais gambianas.
Com isso, crescem as espetativas pelo mundo e na sociedade gambiana sobre o que deverá acontecer amanhã (19.01), a data prevista para que o Presidente eleito da Gâmbia assuma o cargo presidencial.
Gambianos
O correspondente da DW, Adrian Kriesch, esteve no país e juntou relatos. Muitos civis já começaram a deixar o país com medo de um conflito armado. Jovens reúnem-se clandestinamente para discutir o que pode ser feito caso o Presidente cessante da Gambia não ceda o poder amanhã, conforme previsto.
"Eu temo pelo meu país. Gostaríamos de uma solução pacífica, mas estamos chocados", disse um membro do movimento "A Gâmbia já decidiu" (#Gambiahasdecided), ouvida pelo correspondente da DW na Gâmbia.
Segundo as agências de notícias, milhares de turistas britânicos já começaram a ser repatriados nesta quarta-feira (18.01), depois que as autoridades do Reino Unido recomendaram aos seus cidadãos que não viajassem para a Gâmbia por causa da crise interna, informou a operadora de turismo Thomas Cook.
Após terem seus pedidos negados para que o Presidente cessante cedesse o poder, três de seus ministros já renunciaram. Jammeh, por sua vez, disse ao decretar estado de emergência que respeitará os direitos civis e que "as forças de segurança agirão para garantir a paz e a segurança do povo".
Refugiados
Apesar das declarações do Presidente cessante, o clima de incerteza no país anglófono, com cerca de dois milhões de habitantes, já levou milhares a fugirem em direção ao Senegal (único país com que tem fronteiras) e mais à diante, para a Guiné-Bissau.
18.01.2017 Jammeh / Gambia - MP3-Mono
À DW, a porta-voz da agência das Nações Unidas (ONU) para Refugiados no Senegal, Helene Caux, diz que não ter números específicos sobre quantos refugiados cruzaram a fronteira saindo da Gâmbia, "mas estima-se algo em torno de 5 mil pessoas, das quais muitas crianças acompanhadas por mulheres".
Já o seu opositor, Adama Barrow, assegurou em mensagem dirigida aos gambianos (17.01), desde Dacar, no Senegal, onde se refugiou momentaneamente por razões de segurança, que faria seu juramento na próxima quinta-feira, 19 de janeiro, em solo gambiano, conforme a Constituição e as leis do país.
Para quando a reforma?
São inúmeros os dirigentes africanos a multiplicar os mandatos na chefia do Estado, nalguns casos modificaram mesmo a Constituição para se manter no poder.
Foto: DW
Abdoulaye Wade
Presidente do Senegal desde 2000 e reeleito em 2007, Abdoulaye Wade encarnou durante algum tempo a mudança. O balanço dos seus 12 anos no poder é, no entanto, mitigado e muitos criticam o seu amor pela megalomania. A sua decisão de disputar uma vez mais , aos 85 anos, a corrida presidencial no Senegal foi muito contestada. Mas ele não é o único Chefe de Estado africano que não quer deixar o poder.
Foto: AP
Teodoro Obiang Nguema
Chegou ao poder em 1979 na sequência de um golpe de Estado. Venceu as eleições em 1989 e foi reeleito em 1996, 2002 e 2009. Uma reforma constitucional adotada em 2011 limitou o número de mandatos presidenciais a dois anos, mas o texto não diz a partir de quando se aplicará a regra. O mandato atual de Teodoro Obiang Nguema expira en 2016. O Presidente tem 69 anos.
Foto: AP
José Eduardo dos Santos
Aos 69 anos, José Eduardo dos Santos dirige Angola desde 1979, ou seja há quase 33 anos, sem nunca ter sido eleito. A nova Constituição de 2010 já não prevê a organização de eleições presidenciais. O presidente do partido com mais votos nas legislativas torna-se automaticamente presidente, o que significa que Eduardo dos Santos poderá manter-se no poder durante mais alguns anos.
Foto: dapd
Paul Biya
Aos 79 anos, Paul Biya lidera os Camarões há mais de 30 anos. Depois de escrutínios presidenciais criticados pela sua falta de transparência em 1997 e 2004, Paul Biya alterou a Constituição em 2007 para se poder manter no poder. Foi reeleito 2011 num sufrágio que a oposição considerou fraudulento.
Foto: AP
Yoweri Museveni
Chegou ao poder pela via das armas em 1986. O presidente ugandês pôs fim a uma ditadura. Aliado dos Estados Unidos, Yoweri Museveni dirige o país há 26 anos, graças a modificações sucessivas da Constituição. A última anula a limitação do número de mandatos, o que lhe permitiu ser reeleito em 2011, após um escrutínio fraudulento.
Foto: AP
Mswati III
O último monarca absoluto de África, Mswati III, sucedeu em 1986 ao seu pai Sobhuza II. Aos 43 anos, ele governa o seu país por decreto e recusa a democracia. A Suazilândia é um dos países mais pobres do mundo, onde cerca 26% da população está infetada com o vírus do HIV-SIDA.
Foto: picture-alliance/dpa
Blaise Compaoré
Aos 61 anos, Blaise Compaoré lidera o Burkina Faso há mais de 25 anos. Chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1987 e foi eleito pela primeira vez em 1991, num sufrágio boicotado pela oposição. Uma emenda da Constituição permitiu-lhe ser reeleito em 2005 e em 2010, oficialmente para um último mandato. Contudo os seus adversários estão convictos que ele se irá candidatar de novo em 2014.
Foto: AP
Idriss Déby Itno
Idriss Déby Itno nasceu em 1952 e começou a sua carreira como rebelde. Em finais de 1990, afasta do poder o seu antigo companheiro de armas, Hissène Habré, antes de ser designado Presidente do Chade em 1991. Alterará a Constituição em 2004 para se manter no cargo. Os rebeldes derrubá-lo, em 2006 e 2008, em vão. Em 2011 foi reeleito à primeira volta para um quarto mandato.
Foto: picture-alliance/dpa
Denis Sassou Nguesso
Denis Sassou Nguesso é um caso particular: chegou ao poder em 1979 no Congo (Brazzaville) e foi derrotado em 1992 nas primeiras eleições multipartidárias do país. Quando regressou do exílio em 1997, retomou o poder pela força. A Constituição adotada em 2002 limita a 70 anos a idade de um candidato à presidência. Denis Sassou Nguesso, de 69 anos, deverá portanto ceder o lugar em 2016.
Foto: AP
Robert Mugabe
Quando se tornou primeiro ministro em1980, Robert Mugabe encarnava a esperança do Zimbabué. Eleito presidente sete anos mais tarde, o "pai da independência" impõe um regime ditatorial e mergulha o antigo celeiro de África numa crise alimentar e financeira. Desde 2008, que partilha o poder com o seu rival Morgan Tsvangirai. O Zimbabué ainda espera pela reformas prometidas.