G20: África precisa mais do que ajuda ao desenvolvimento
Daniel Pelz | cvt
12 de maio de 2017
O Governo alemão quer aproveitar a presidência do G20 para mobilizar mais recursos para o continente africano. Mas especialistas alertam: mais ajuda financeira simplesmente não chega para criar riqueza em África.
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A transformação económica em África foi o tema da conferência que teve lugar esta quinta-feira (11.05), na Fundação Konrad-Adenauer, na capital alemã, Berlim, no contexto da parceria com o G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia (UE).
O ex-chefe da Comissão Económica das Nações Unidas para África, K.Y. Amoako, fez uma reflexão sobre o futuro de África, a pensar na sua neta de sete anos, que vive no Gana. Dentro de poucos anos, ela deverá entrar no mercado de trabalho. Amoako espera que, até lá, muita coisa mude para melhor, a começar por "uma economia que gere empregos decentes suficientes para todos os cidadãos".
O antigo responsável da Comissão Económica da ONU para África sonha com "uma economia que já não se baseia na agricultura tradicional, na extração de matérias-primas e em serviços de baixo valor, mas baseada na agricultura modernizada e na indústria", que seja capaz de competir nos mercados globais.
Ajuda financeira não chega
Atualmente, cerca de 389 milhões de africanos vivem na pobreza, número que ainda pode aumentar à medida que a população cresce.
Até 2050, a população da África deverá dobrar para cerca de 2,5 mil milhões de pessoas. Em 2013, estima-se que 440 milhões de jovens africanos entrem para o mercado de trabalho, mas não há perspetivas de empregos suficientes para eles.
K.Y. Amoako considera a parceria do G20 com África uma boa ideia, mas acredita que o mero aumento da ajuda ao desenvolvimento não é suficiente. Para tal, defende, deve ser gerado mais dinheiro no próprio continente, rico em recursos naturais.
No entanto, boa parte do dinheiro das exportações não é aplicado em investimentos porque vai diretamente para o bolso das elites locais, afirma Thomas Silberhorn, secretário de Estado parlamentar do Ministério alemão da Cooperação Económica e Desenvolvimento (BMZ).
"Esse dinheiro é exportado para paraísos fiscais ou apartamentos em Berlim, Munique, Londres e Paris", sublinha Silberhorn.
"Pacto com África"
Um ponto central da presidência alemã do G20 é a iniciativa "Pacto com África", que visa reforçar o investimento privado e o investimento em infraestruturas no continente.
Costa do Marfim, Marrocos, Ruanda, Senegal e Tunísia já pediram para participar na iniciativa. Outros países poderão seguir o mesmo caminho, quando o conceito se concretizar.
G20: África precisa mais do que ajuda ao desenvolvimento
Mas Tutu Agyare, que gere a empresa de investimento e consultoria Nubuke Investments, baseada em Londres, está cético. "Quando planto cacau e o vendo bruto, a UE compra-o sem tarifas. Mas no momento em que produzo chocolate e tento vendê-lo para a UE, tenho de pagar uma taxa de 30%", lembra.
Por isso, o especialista quer saber o que é que o G20 está disposto a fazer para mudar algumas das suas práticas e permitir "ambientes justos" de negócios.
Para Agyare, a chave para a prosperidade não está nos planos vindos de fora, mas na própria África. Em vez de ajuda ao desenvolvimento, os países africanos deveriam considerar como as remessas dos seus cidadãos no exterior poderiam ser melhor investidas.
O próprio sistema de ensino também deveria ser revisto com urgência, defende o consultor. Em África, exemplifica, "50% a 60% da maioria das pessoas ganham o seu sustento através da agricultura. Mas menos de 5% dos universitários estudaram agricultura".
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.