África: falta de infraestruturas condiciona desenvolvimento
Aimie Elliot | Daniel Pelz | rl
13 de junho de 2017
Terminou esta terça-feira (13.06), a conferência do G20 sobre África, em Berlim. No encontro de hoje, o presidente do Gana lembrou a importância da juventude no desenvolvimento do continente africano.
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O "Compact With Africa” que, como afirmou, esta terça-feira (13.06), em Berlim, o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, poderia ser chamado de "Plano Merkel para África”, e que foi anunciado no passado mês de março, esteve no centro do debate da conferência do G20 sobre África, que se realizou segunda e terça-feira (12/13.06), na Alemanha. Para este encontro, e com vista a esclarecer os contornos da parceria, foram convidados os cinco países que irão beneficiar primeiramente da iniciativa: Tunísia, Marrocos, Ruanda, Costa do Marfim e Senegal.
Apresentar e implementar um plano de reformas, demonstrando assim o seu potencial de crescimento, é um dos requisitos para que os países africanos possam integrar o "Compact With Africa”e beneficiar de mais investimentos do setor privado. Nesse sentido, esta terça-feira (13.06), o ministro da Economia da Costa do Marfim, Adama Koné, fez alusão, em Berlim, ao Plano Nacional de Desenvolvimento do seu país. "Permitiu-nos ter um crescimento económico que faz parte dos índices de crescimento mais elevados no mundo de hoje", afirmou.
Falta de infraestruturas é obstáculo
Na mesma ocasião, os vários representantes dos diferentes países do continente africano foram unânimes ao apontar a falta de infraestruturas no continente como um obstáculo ao seu desenvolvimento.
Alpha Condé, presidente da União Africana (UA) foi peremptório ao afirmar que o continente africano precisa de "uma forte participação do setor privado". Para o também Presidente guineense, África tem muito para oferecer aos investidores estrangeiros. "A nossa falta de infraestruturas é um problema para os investidores, mas também uma oportunidade", acrescentou este responsável.
Amadou Ba, ministro da Economia do Senegal, afirmou que, atualmente, "os países [africanos] são encravados”. "É praticamente impossível sair de Dakar e ir para Abidjan utilizando caminhos de ferro ou estrada”, deu conta o responsável, realçando os efeitos positivos que a melhoria das infraestruturas levará ao continente africano. "Quer dizer que vamos melhorar e reforçar as capacidades dos países africanos, podendo assim atrair financiamentos diretos públicos, uma vez que haverá interesse em investir, pois as condições estarão criadas. Podemos também atrair investimentos privados. E estes investimentos virão concomitantemente com os investimentos dos doadores multilaterais como são o FMI, o Banco Mundial e a União Europeia”, afirmou.Na mesma ocasião, Nana Akufo-Addo, presidente do Gana, pediu aos líderes africanos que assumam este compromisso. "Se nós, os africanos, vamos transformar as nossas economias estagnadas, construídas em cima da exportação de matérias-primas e bens não refinados, em economias de valor agregado com criação empregos, construindo sociedades fortes e combatendo a pobreza, devemos assumir essa responsabilidade”, disse Akufo-Addo.
G-20/Berlim/Africa-Novo - MP3-Mono
O presidente do Gana lembrou também, tal como Angela Merkel no seu discurso de abertura, os jovens africanos que têm estado a arriscar a sua vida em busca de uma vida melhor na Europa. Nana Akufo-Addo lembrou que África precisa da sua juventude. "Se proporcionarmos [aos jovens] o ambiente certo em África, que lhes permita melhorar as habilidades, receber formação profissional apropriada e ter acesso à tecnologia digital, eles vão fazer do nosso continente um sítio ótimo”, afirmou.
Oposição alemã critica
Para Niema Movassat, do partido alemão Die Linke – da oposição -, a conferência do G20 sobre África é "altamente perigosa" para o futuro do continente. "É apenas orientada para as nações ricas e respetivas empresas garantirem os seus interesses comerciais nos mercados africanos", afirmou. Também o Partido Verde apontou o dedo ao "Compact With África”, afirmando que as parcerias acordadas não têm em conta questões sociais e ambientais.
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.