Os líderes do G7 concordaram que os países atingidos por incêndios florestais na região amazónica devem obter ajuda o mais rápido possível. Reunidos em França, grupo ainda discute temas delicados, como o Irão e Brexit.
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Os países do G7 concordaram em "ajudar o mais rapidamente possível os países afetados" pelos incêndios que se multiplicaram nos últimos dias na Amazónia, disse este domingo (25.08) o Presidente francês, Emmanuel Macron.
"Há uma verdadeira convergência para dizer: 'nós concordamos em ajudar o mais rapidamente possível os países que são atingidos pelos fogos'", disse o Presidente francês, anfitrião da cimeira de sete grandes potências mundiais que decorre em Biarritz até segunda-feira.
Face aos pedidos de ajuda, feitos nomeadamente pela Colômbia, "devemos estar presentes", disse Macron, que na sexta-feira criticou a "inação" do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, face ao desastre ambiental.
Macron disse que estão a ser feitos contatos com "todos os países da Amazónia" para que se possam finalizar compromissos muito concretos de "meios técnicos e financeiros".
"Estamos a trabalhar num mecanismo de mobilização internacional para poder ajudar de maneira o mais eficaz possível estes países", precisou. Quanto à questão de longo prazo de reflorestação da Amazónia, "várias sensibilidades foram expressas" acrescentou.
"Mas o desafio da Amazónia para estes países e para a comunidade internacional é tal, em termos de biodiversidade, de oxigénio, de luta contra o aquecimento global, que devemos avançar com essa reflorestação", afirmou Emmanuel Macron, que ameaça se opor a um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
Temas difíceis
Além da questão dos fogos na Amazónia, outros temas estão a ser discutidos na cimeira. A presidência francesa confirmou este domingo a chegada do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano a Biarritz, depois de Teerão ter anunciado que Mohammad Javad Zarif estava naquela cidade francesa. Segundo o Eliseu, Zarif vai encontrar-se com o seu homólogo francês, Jean-Yves Le Drian, à margem da reunião dos sete países mais industrializados, para discutir o dossiê nuclear iraniano.
"Não está previsto nesta fase qualquer encontro com os norte-americanos", precisou a presidência francesa, indicando que a visita é uma iniciativa de Paris e não do G7. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano disse também que "não haverá reuniões ou negociações" com responsáveis dos Estados Unidos no G7.
O dossiê nuclear iraniano continua a dividir os Estados Unidos e os dirigentes europeus, apesar dos esforços do Presidente francês para conciliar as posições no G7. Macron queria desbloquear a crise desencadeada pela retirada unilateral dos Estados Unidos em maio de 2018 do acordo nuclear de 2015, assinado entre o Irão e as potências do chamado grupo 5+1 (Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China e EUA).
Depois da decisão norte-americana, associada à imposição de fortes sanções, o Irão deixou de cumprir algumas das obrigações impostas pelo acordo, que limitava o seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções económicas, e pede aos europeus, que querem preservar o pacto, medidas para contornar as sanções norte-americanas.
Acordo "incerto" do Brexit
Entretanto, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu ser ainda "incerto" que se consiga um acordo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, sublinhando que o importante é estar preparado para a possibilidade de tal não acontecer."Tudo depende dos nossos amigos e parceiros da UE [União Europeia]", disse à emissora BBC no segundo dia da cimeira em Biarritz.
Num encontro bilateral este domingo (25.08) com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, Johnson assinalou que, "independentemente do que acontecer, a proximidade do Reino Unido" em relação aos seus "amigos europeus continuará além de 31 de outubro", data em que o Reino Unido abandonará a UE, com ou sem acordo, segundo o primeiro-ministro britânico.
No sábado, as divergências entre Tusk e Johnson ficaram expressas com a responsabilização mútua em caso de uma saída do Reino Unido do bloco europeu sem acordo.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
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De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.