Em quatro dias, o Parlamento foi dissolvido, o Governo demitiu-se e um novo Executivo – com o mesmo primeiro-ministro – foi anunciado. Em causa estão problemas na organização das legislativas, várias vezes adiadas.
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O Gabão tem um novo Governo interino desde esta sexta-feira (04.05), três dias depois da demissão do anterior Executivo devido a atrasos na organização das eleições legislativas. O novo Governo, que continua a ser chefiado por Emmanuel Issoze-Ngondet, permanecerá em funções até à realização do escrutínio, que tem vindo a ser adiado desde dezembro de 2016. Ainda não há uma data para as eleições.
Na segunda-feira (30.04), o Tribunal Constitucional do Gabão dissolveu o Parlamento e pediu ao Governo que se demitisse, criticando a sua incapacidade de organizar as legislativas.
Segundo o tribunal, o Executivo deveria ter definido a realização das eleições – adiadas duas vezes – até ao final de abril. No dia seguinte, o Governo demitiu-se.
Novo Executivo sem grandes mudanças
Issoze-Ngodet foi empossado novamente na quinta-feira pelo Presidente Ali Bongo e o seu novo Executivo, com 40 ministros e vice-ministros, e sem mudanças significativas, inclui sete figuras da oposição. Sem Parlamento, o Governo responde apenas ao Presidente Ali Bongo e a oposição fala em usurpação de poder. Os observadores consideram que as eleições não deverão ter lugar antes de julho.
Ali Bongo foi reeleito em 2016, vencendo por uma pequena margem, o que levou a oposição a denunciar fraude eleitoral. Seguiram-se vários dias de protestos violentos. O chefe de Estado subiu ao poder depois da morte do seu pai, Omar Bongo, em 2009, que ocupou a cadeira da Presidência durante 41 anos.
O país tem grandes reservas de petróleo e recursos minerais e florestais e o PIB é quatro vezes maior do que na maioria das nações da África subsaariana. No entanto, cerca de um terço dos 1,8 milhões de gaboneses ainda vive abaixo da linha da pobreza – o resultado, segundo os especialistas, de desigualdades, má governação e corrupção.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.