Gabão: Ali Bongo anuncia "saída definitiva" da política
ms | AFP
19 de setembro de 2024
O ex-Presidente do Gabão Ali Bongo, deposto em agosto pelos militares, anunciou a sua "retirada definitiva" da vida política. Num apelo enviado à imprensa, pediu clemência para a família, que diz ter sido torturada.
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"Quero reafirmar a minha retirada da vida política e a renúncia definitiva a qualquer ambição nacional", declarou Ali Bongo num texto enviado na noite de quarta para quinta-feira pela sua advogada Gisèle Eyue Bekale aos meios de comunicação social.
"Jamais desejaria constituir um risco de ameaça, de agitação e de desestabilização para o Gabão", acrescentou na mensagem.
Bongo governou o país da África Ocidental, rico em petróleo, durante 14 anos, até ser destituido por líderes militares em agosto do ano passado, momentos depois de ter sido proclamado vencedor das eleições presidenciais.
Desde então, o líder deposto, cuja dinastia familiar esteve no poder no Gabão durante 55 anos, vive na sua propriedade privada na capital do país, Libreville. De acordo com o governo, Bongo, de 65 anos é livre de abandonar o país.
Bongo pede clemência para a família
O antigo Presidente da República também apelou ao "apaziguamento, ao fim da violência e da tortura" contra a sua família, nomeadamente contra a mulher Sylvia, de 61 anos, e o filho mais velho Noureddin, de 32 anos, ambos detidos na prisão central de Libreville.
Noureddin Bongo é acusado de corrupção e desvio de fundos públicos, enquanto a sua mãe é acusada de branqueamento de capitais, ocultação e falsificação.
O novo governo do general Brice Oligui Nguema acusa-os de "manipular" o enfraquecido chefe de Estado, depois de Ali Bongo ter sofrido um AVC em 2018.
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Bongo apelou à sua libertação, afirmando que estão presos há demasiado tempo por atos pelos quais não tinham sido considerados culpados.
Mas também admitiu "falhas" na forma como dirigiu o país e disse que "aceita toda a responsabilidade, tanto a nível social como no que respeita ao funcionamento das instituições" gabonesas.
Em maio, os advogados da família Bongo disseram que tinham apresentado uma queixa em França por causa da tortura e da detenção do ex-Presidente, da sua mulher e dos seus três filhos.
O governo militar do Gabão negou as alegações, que classificou como "caluniosas".
"Eu próprio não tenho liberdade para viajar e estou sujeito a uma vigilância diária. As minhas visitas dependem da autorização dos militares. Estou isolado do mundo exterior, sem comunicações e sem notícias da minha família", diz Ali Bongo na sua mensagrem, escrita em francês.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
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O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.