Gabão: Presidente nomeia novo PM após tentativa de golpe
Lusa
12 de janeiro de 2019
Ali Bongo, fora do país há dois meses, nomeou um novo chefe do Governo com o objetivo de recuperar a estabilidade política naquela nação africana, que viveu na passada segunda-feira um golpe de Estado falhado.
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"Por decreto do Presidente da República designa-se como chefe do Governo Julien Nkoghe Bekale", anunciou este sábado o secretário-geral da Presidência, Jean-Yves Teale, num vídeo emitido pela televisão estatal.
Bongo nomeou Julien Bekale, que ocupou vários cargos ministeriais desde 2009, para substituir no cargo Emmanuel Issoze Ngondet, na liderança do Governo há dois anos.
De acordo com alguns analistas, refere a agência de notícias EFE, esta decisão segue a tradição do pai de Ali Bongo, Omar Bongo, de nomear primeiros-ministros da etnia Fang, a mais numerosa do país.
Golpe frustrado
Na passada segunda-feira (07.01), um grupo de militares, que usavam as boinas verdes da guarda presidencial, anunciaram a instituição de um "conselho nacional da restauração" com o objetivo de "salvar do caos" aquele país africano, numa aparente tentativa de golpe de Estado.
Dez pessoas participaram na intentona, que saiu frustrada devido à intervenção das forças policiais e condenada pela comunidade internacional. Oito dos participantes foram detidos e encaminhados para a Procuradoria-Geral da República, tendo os outros dois sido abatidos durante a operação policial.
Bongo está em Rabat, Marrocos, onde prossegue a sua recuperação depois de ter sido hospitalizado por fadiga severa, segundo fontes oficiais, ainda que diversos meios de comunicação tenham depois avançado que o Presidente sofreu um acidente vascular cerebral.
A família Bongo governa o pequeno país rico em petróleo da África equatorial -- com pouco mais de dois milhões de habitantes -- há mais de cinco décadas, tendo Ali Bongo sucedido ao seu pai em 2009.
Em 2007, uma investigação anticorrupção das autoridades francesas revelou que a família Bongo detinha 39 propriedades em França, para além de 70 contas bancárias e pelo menos nove carros de luxo.
Mais de um terço dos gaboneses vivem atualmente com menos de dois dólares por dia, de acordo com dados do Banco Mundial, e poucos beneficiam das receitas do petróleo, que representa 80% das exportações do país, refere a EFE.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.