O Gabão vota pela primeira vez desde as eleições de 2016, marcadas pela violência. Quase 700 mil eleitores foram chamados às urnas. Entretanto, o líder da oposição boicotou a votação, alegando fraudes no processo.
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O Gabão, país rico em petróleo e governado pela mesma elite política há quase meio século, vota este sábado (06.10) em eleições legislativas e municipais. Esta votação, há muito adiada, é a primeira desde a eleição presidencial há dois anos, marcada por violência e alegações de fraude.
É improvável que uma oposição dividida represente um desafio bem-sucedido para o Partido Democrático do Gabão (PDG), do Presidente Ali Bongo, sugerem as pesquisas. Seu principal rival, Jean Ping, preferiu boicotar a eleição, mas a maioria dos outros grupos de oposição entrou na disputa.
A maioria das assembleias de voto na capital, Libreville, abriu às 8h locaissob um céu cinzento e chuva fraca. Um eleitor, o lojista de 53 anos Stanislas Bidoubi, disse à AFP que estava apoiando um partido da oposição. "Eu quero mudar no meu país", disse ele.
Participação
Os cartazes destacavam-se em Libreville pedindo aos 680 mil eleitores do país que comparecessem para eleger 143 novos deputados, assim como outros quadros locais.
A participação nas eleições no Gabão é geralmente baixa, mas as primeiras filas apontaram para um interesse vivo dos eleitores, pelo menos no centro da capital. "Nunca perdi uma eleição", disse Rainatou Wagne, de 52 anos. "Mesmo que haja trapaça em todas as eleições africanas, como cidadão gabonês prefiro votar", disse ela.
Violência
A polêmica reeleição de Bongo em agosto de 2016 por apenas alguns milhares de votos levou Ping a afirmar que a vitória havia sido uma fraude. A violência estourou e dezenas de pessoas foram mortas, de acordo com a oposição, mas o Governo diz que apenas quatro morreram.
O quartel-general de Ping foi bombardeado e a oposição também afirmou que abusos generalizados dos direitos humanos foram cometidos por milícias armadas que tomaram as ruas.
Denúncias de fraude
Antes da votação deste fim de semana, que foi adiada três vezes desde 2016, a campanha foi discreta. Mas no sábado, alguns candidatos da oposição apontavam alegadas irregularidades, dizendo que os boletins de voto tinham desaparecido, que havia tentativas de comprar votos e que seus representantes não tiveram acesso.
As divisões políticas são profundas no Gabão, governada por Omar Bongo de 1967 até sua morte em 2009, quando seu filho Ali assumiu. E a economia dependente do petróleo do Gabão foi atingida pela queda dos preços do petróleo.
"Não estou certo de que esta eleição alivie as tensões, porque desde 2016 o país foi dilacerado por uma crise que dividiu famílias e mudou o cenário político", disse o especialista político Wilson Andre Ndombet.
Para este dia de votação, o Governo fechou as fronteiras do país e baniu as vendas de álcool até o final do processo eleitoral.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.