Gana pede frente unida por reparações pela escravatura
AFP | mjp
14 de novembro de 2023
Numa conferência em Acra, o Presidente Nana Akufo-Addo pediu que os líderes africanos se unam na exigência de reparações pela escravatura transatlântica e pelos danos causados na era colonial.
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O Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, apelou esta terça-feira (14.11) a uma frente unida dos líderes africanos na exigência de reparações pela escravatura transatlântica e pelos danos causados pela era colonial.
Alguns líderes ocidentais reconheceram recentemente os erros da era colonial em África e os museus começaram a devolver tesouros e artefactos africanos roubados. No entanto, o conceito de pagar reparações financeiras pelo comércio que fez de milhões de pessoas da África Ocidental e Central escravas continua a ser vago.
O chefe de Estado do Gana tem-se manifestado a favor das reparações e utilizou o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, este ano, para exigir um maior reconhecimento do impacto da exploração colonial.
"Não há dinheiro que consiga reparar os danos causados pelo tráfico transatlântico de escravos e as suas consequências. Mas esta é certamente uma questão que o mundo tem de enfrentar e não pode continuar a ignorar", afirmou Akufo-Addo, esta terça-feira, numa conferência sobre reparações com líderes africanos em Acra.
"Ainda antes da conclusão destas discussões sobre reparações, todo o continente de África merece um pedido de desculpas formal das nações europeias envolvidas no comércio de escravos", acrescentou.
Exige-se justiça
Akufo-Addo pediu a África que trabalhe em conjunto com as Caraíbas para promover as reparações, classificando-as como uma "exigência de justiça válida".
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Descrevendo a escravatura e o colonialismo como "a fase negra de África", o Presidente das Comores e Presidente da União Africana, Azali Assoumani, afirmou que o impacto ainda "causa estragos na nossa população".
O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, expressou este mês a sua "vergonha" pelos crimes cometidos durante o domínio colonial do seu país na Tanzânia.
No início deste ano, o proprietário do jornal britânico The Guardian pediu desculpa pelo papel dos seus fundadores na escravatura transatlântica e anunciou um "programa de uma década de justiça reparadora", na sequência de uma investigação independente.
Cabo Verde deve remover monumentos pró-escravagistas?
A Nigéria está a recuperar milhares de placas de metal, esculturas e objetos dos séculos XVI a XVIII que foram saqueados do antigo Reino do Benim e que foram parar a museus e às mãos de colecionadores de arte nos Estados Unidos e na Europa.
Muitos dos artefactos foram originalmente levados em 1897, quando uma expedição militar britânica atacou e destruiu a Cidade de Benim.
O vizinho da Nigéria, Benim, inaugurou no ano passado uma exposição das suas obras de arte e tesouros devolvidos pela França após dois anos de negociações.
França devolve obras de arte ao Benim
Vinte e seis obras de arte do antigo Reino de Dahomey foram devolvidas ao Benim. Anteriormente, estiveram expostas no Museu du Quai Branly, em Paris.
Foto: Lois Lammerhuber/musée-du-quai-Branly
Uma exposição especial em Paris
Quase 130 anos depois de terem sido acrescentadas à coleção francesa, as obras de arte estão agora a ser devolvidas ao Benim, na África Ocidental. Antes da sua restituição, as obras do antigo Reino de Dahomey (situado no atual Benim) foram expostas numa exposição especial em Paris, de 26 a 31 de outubro.
Foto: Michel Euler/AP/dpa/picture alliance
Um reino temido
Dahomey, que existiu entre o século XVII até ao final do século XIX, foi um dos reinos africanos mais poderosos. Behanzin (na foto) é considerado o seu último governante independente, chegando ao poder através de estruturas tradicionais. Liderou a resistência nacional contra as tropas francesas quando estas invadiram o reino, em 1890.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
As grandes estátuas reais
Em 1892, enquanto as tropas francesas conquistavam o país, vários artefactos - incluindo estas três estátuas reais - foram roubados do palácio real em Abomey e trazidos para França. Foram exibidas pela primeira vez no "Musee du Trocadero", antes de se mudarem em 2006 para o "Musee du Quai Branly". A construção do controverso museu custou mais de 235 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Julien
Planos para as obras no Benim
No Benim, as obras de arte serão expostas pela primeira vez na casa do governador na cidade costeira de Ouidah, situada ao lado do Museu de História (foto). Seguidamente, passarão para a antiga cidade real de Abomey, onde será construído um museu inteiramente novo. O Benim, que se tornou independente em 1960, escreveu ao governo francês em 2016, exigindo a devolução das obras.
Foto: Stefan Heunis/AFP/Getty Images
Uma promessa cumprida
Em 2017, o Presidente francês Emmanuel Macron tinha-se comprometido a facilitar uma lei sobre a restituição da arte saqueada. Até então, os objetos culturais mantidos pela França estavam sujeitos a um quadro jurídico especial. Enquanto bens públicos, eram inalienáveis, independentemente das circunstâncias de aquisição. A lei que permite a transferência de coleções foi aprovada em 2020.
Foto: Ludovic Marin/AFP via Getty Images
A espada de El Hadj Omar
Para além da restituição das obras de arte beninenses, a França devolveu também em 2019 uma valiosa espada, que pertencia ao general e estudioso El Hadj Omar, ao que é hoje o Senegal. Foi a primeira restituição feita pela França a uma das suas antigas colónias. Nesta foto, o Presidente Macky Sall do Senegal (à direita) aceita a espada.
Foto: AFP Seyllou/AFP via Getty Images
Carpintaria valiosa
Para além das estátuas reais, outros objetos reais como ceptros e altares portáteis serão restituídas ao Benin. Esta cadeira real ricamente decorada será também devolvida à África Ocidental. Além do Benim, seis outros Estados africanos - Senegal, Mali, Chade, Costa do Marfim, Etiópia e Madagáscar - apresentaram pedidos de restituição à França.
Foto: Pauline Guyon/musée-du-quai-Branly
Património perdido
Estima-se que a Europa detenha 90% do património cultural material de África. Só em Paris, as coleções do Museu du Quai Branly contêm cerca de 70.000 obras de arte da África subsaariana. Mais de metade foram adquiridas durante o período colonial francês. Estão actualmente em curso investigações para determinar se foram injustamente obtidas.
Foto: Pauline Guyon/musée-du-quai-Branly
Entrega prevista para meados de novembro
Outros países da Europa comprometeram-se também a devolver a arte dos contextos coloniais aos seus países de origem. A Alemanha, por exemplo, quer devolver os chamados bronzes do Benim à Nigéria a partir de 2022. Em França, o Presidente Macron vai assinar os documentos oficiais de entrega ao Benim no dia 9 de novembro. Espera-se que as obras de arte cheguem ao país brevemente.