Tentando combater a marginalização dos portadores do vírus, as autoridades ganesas tomam medidas legais e criminalizam quem discriminar com multa e eventual prisão.
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O Gana aprovou uma lei que criminaliza a discriminação de pessoas infetadas com o vírus da sida (HIV). O objetivo é melhorar os cuidados prestados a essas pessoas, muitas das quais sofrem rejeição por parte das próprias famílias e da sociedade em geral. A discriminação impede que muitos façam o teste da doença, facto que contribui ainda mais para a sua propagação.
Pastor Azumah: mensagem de coragem e compaixão
Em Accra, capital do Gana, a DW encontrou o pastor John Azumah, um padre muito empenhado no apoio aos infetados com o vírus HIV. A sua mensagem é espalhada através de canais de rádio e de televisão e com ela pretende encorajar as pessoas a demonstrar compaixão pelos infetados e doentes.
O pastor Azumah e sua esposa vivem com a doença há anos. Ele é agora um embaixador da luta contra a discriminação, e sabe do que fala: apenas precisa de olhar para a sua própria história."Sobre o HIV temos que saber que existem quatro modos de transmissão e, portanto, é difícil saber onde e como alguém se infetou", reconhece, para nos contar que " toda a minha família foi testada no mesmo dia".
O quotidiano de Azumah fá-lo ganhar forças suplementares: "Tenho quatro filhos que são negativos, mas eu e minha esposa somos positivos. E nada nos impede de ter uma vida social comum com eles: comemos com os nossos filhos, abraçamo-los e até dormimos na mesma cama, e partilhamos a comida, talheres e copos, pois isso não os infetará."
Medo e ignorância na origem de ofensas
O pastor, que exerce o cargo de diretor nacional da Luta contra a Sida, vê com bons olhos a nova lei que criminaliza a estigmatização e discriminação dos portadores do vírus no Gana.
"Agora é uma ofensa, punida como crime, estigmatizar alguém que tenha o vírus. Eu acho que as pessoas estigmatizam os portadores de HIV por medo e também devido à ignorância. Nós esclarecemos as pessoas, dizendo-lhes que, na realidade, e com o devido tratamento, praticamente não é possível distinguir um paciente positivo de um cidadão negativo."De acordo com a lei agora aprovada, os empregadores, prestadores de serviços e cidadãos em geral não podem negar aos pacientes com HIV o acesso a serviços vitais, como saúde e educação, bem como a empregos, devido ao facto de serem portadores de HIV. A moldura penal para a discriminação inclui multas e até a prisão.
HIV Gana - MP3-Mono
Uma lei para tentar mudar hábitos
O pastor Azumah está entusiasmado com a medida que visa criminalizar a estigmatização, e sublinha que "a sociedade não entende o que é o HIV, e ainda desconhece o modo de transmissão". Para exemplificar, refere que "há pais que são positivos e morrem com sida e deixam órfãos, e as famílias não estão minimamente preparadas. Muitos ainda têm essa noção, esse preconceito de que ao tocar um infetado pode ser perigoso. Estou a falar de órfãos, e de viúvas".
O responsável ganês dá mesmo o seu exemplo pessoal: "Imagine que eu próprio fui demitido da minha primeira igreja por ser positivo, mas agora estou numa nova igreja".
A mensagem que importa passar é clara, sublinhando Azumah que "nós, infetados, somos pessoas como as outras, somos normais, somos seres humanos. Ninguém deveria ser estigmatizado no seu local de trabalho, ou mesmo em casa."
Os ativistas esperam que com a aprovação da nova lei antidiscriminatória a tendência mude. É essa também a esperança das autoridades de saúde, que avaliarão o respetivo impacto nos próximos meses e anos.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.