Gana: branqueamento de pele é pratica comum nas escolas
Suuk Maxwell
22 de maio de 2017
Várias jovens no Gana entendem que o tom de pele mais claro é determinante para arranjar namorado. Escolas começam a sancionar alunas que optam por branqueamento da sua pele, enviando-as para casa.
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O branqueamento de pele é uma prática muito comum no Gana. E parece estar a tornar-se uma moda também nas escolas secundárias onde as jovens entendem que o tom de pele mais claro é determinante para arranjar namorado e conseguir uma melhor valorização aquando do casamento. As autoridades condenam a prática e já há escolas a enviar as adolescentes que optam pelo branqueamento de pele para casa.
Este é o último sábado antes do casamento de Khadija. Como manda a tradição, ela tem uma marcação no Diamond Images Salon, um salão de beleza local. "É tempo de pôr a pele a brilhar”, afirma a jovem, acrescentando que o faz para "parecer bem para o meu marido”.
Como muitas outras mulheres, os preparativos de beleza para o dia do casamento de Khadija, começaram neste mesmo salão há três meses atrás. "Talvez porque a cor a pele da mulher determina o seu valor nupcial”, explicou à DW África, Irene Konlan, que tem levado a cabo uma campanha contra o branqueamento de pele no país. "O que eu observei é que quando se está a três meses do casamento, elas mudam a sua cor de pele. De acordo com elas, quanto mais clara a sua pele, mais valorizada a noiva é”, acrescenta.Aos 23 anos de idade, Irene viaja de escola em escola apregoando contra esta prática. No auditório da Escola Secundária Savalegu, mais de 2000 estudantes apareceram para ouvir o que têm, Irene e a sua equipa, para dizer. E a mensagem é simples – "ama a tua pele” – implora ela aos adolescentes. Irene explica que a seu ver, o que era suposto ser uma prática de "amor próprio”, acaba por tornar-se "auto-ódio”, uma vez que, como frisa, "a beleza do branqueamento não dura mais do que dois anos. E os efeitos colaterais começam a aparecer”.
No entanto, muitas são as adolescentes que ainda preferem optar pelas consequências para a sua pele. Afirmando que as raparigas fazem o branqueamento para "atrair a atenção dos rapazes”, uma estudante desta escola entrevistada pela DW, dá conta de qual é a preceção desta realidade entre os jovens: "Se és negro é como se não fosses nada. Eu tenho orgulho na minha cor de pele. Sou negra e tenho orgulho nisso. Deus deu-me esta cor de pele, por que hei-de ficar com raiva disso…”, afirmou.
Escolas condenam branqueamentos
A DW África visitou uma outra escola no Gana, onde a prática é abundante. Recentemente, as autoridades da escola enviaram algumas estudantes para casa – até que recuperem o seu tom de pele normal. O que deixou muitas raparigas infelizes.
O código de ética do Serviço de Educação do Gana é totalmente contra o branqueamento da pele. E o professor Dominik reforça isso mesmo."A política educativa não encoraja o branqueamento. Atualmente, condenamos essa prática”, afirma o docente, admitindo, no entanto, que é difícil saber o que fazer com o fenómeno na escola.Apesar das autoridades condenarem a prática, existem jovens que continuam a pensar que terão mais sorte com os homens se branquearem as suas peles. "Quero tornar a minha pele mais atraente. Lembro-me de estar com um rapaz e ele dizer-me que odeia raparigas negras. Os rapazes aqui não gostam de ti porque és preta e, às vezes, isso dificulta a integração e então, tu acabas por não ter opção e fazes [o branqueamento], explicou à DW uma jovem.
23.05.2017 Gana-Branqueamento da pele - MP3-Mono
Mavis, outra estudante, não tem a mesma opinião. Pelo contrário, tem orgulho no seu tom de pele. Segundo ela, "a perceção neste campus é que se fores negra não irás ter um namorado. O meu namorado sempre me diz que gosta da minha cor e que eu deveria permanecer assim”.
No entanto, no Gana, Mavis é a exceção e não a regra. Oficialmente, os produtos que contêm agentes branqueadores são proibidos, ainda assim é fácil conseguir obtê-los. As raparigas adolescentes ignoram as consequências que esta prática pode ter na sua pele. Às vezes, os pais também não concordam com as políticas oficiais e também eles querem que as suas filhas melhorem a sua beleza para conseguir um melhor valor aquando do noivado, no futuro.
Nzulezo: Viver sobre a água no Gana
Os moradores de Nzulezo vivem sobre a água e fazem dela o seu sustento. Esta aldeia no sudoeste do Gana foi totalmente construída sobre estacas. Mas não é só por isso que este local, no lago Tadane, é famoso.
Foto: DW/G. Hilse
A Veneza do Gana
A aldeia de Nzulezo fica a cerca de 300 quilómetros a oeste da capital do Gana, Acra. No idioma local, "nzema" significa "superfície da água". Os 500 habitantes vivem literalmente sobre o lago Tadane. Nzulezo é a única localidade do país construída totalmente sobre estacas. Por isso, a comunidade ficou conhecida como "Veneza do Gana".
Foto: DW/G. Hilse
Candidata a património da humanidade
Em 2000, Nzulezo foi nomeada para receber o título de património natural da humanidade, concedido pela UNESCO, pois é uma união perfeita entre o Homem e a Natureza - o ecossistema não é prejudicado. Além disso, as zonas húmidas de Amanzuri, onde o lago Tadane se encontra, têm uma importante flora e fauna, com macacos, crocodilos, tartarugas e muitas espécies raras de pássaros.
Foto: DW/G. Hilse
Forçados a sair
Reza a lenda que os antepassados dos habitantes de Nzulezo eram originários do "Reino do Gana", no atual Mali. Mas, no século XV, foram obrigados a deixar a região após uma disputa com o povo "Mendé" pelas terras férteis e ricas em ouro. O seu deus teria aparecido em forma de caracol e tê-los-ia guiado à região onde fica hoje o Gana.
Foto: DW/G. Hilse
Finalmente a paz
A comunidade instalou-se aqui, sobre o lago Tadane, e, segundo a lenda, terá recebido a garantia divina de que não precisava de temer novos ataques. A população ficou finalmente em paz, após décadas a fugir de um lado para o outro. O deus prometeu que o lago protegeria e comunidade e garantiria o seu sustento; depois, entregou-a aos cuidados do deus da água.
Foto: DW/G. Hilse
Um altar para o deus da água
A comunidade venera o deus da água desde essa altura. Esta casa sobre estacas é-lhe dedicada. O lago tem um dia sagrado - à terça-feira é proibido pescar. As mulheres não podem atravessar as águas na altura da menstruação. Por respeito ao deus dos antepassados, o caracol, muitas pessoas não comem estes animais.
Foto: DW/G. Hilse
Acesso a TV e telefone
Hoje em dia, vivem aqui cerca de 500 pessoas. Os tectos são feitos de ráfia e as casas estão ligadas umas às outras por passadeiras de madeira. Cada família mora numa rua diferente e todas têm acesso a eletricidade, televisão via satélite e rede móvel. Graças a um projeto de uma petrolífera estrangeira, as famílias também têm acesso a água potável há vários anos.
Foto: DW/G. Hilse
Professores da comunidade
As autoridades enviam para a comunidade jovens professores recém-formados, mas a maioria não aguenta muito tempo em Nzulezo, pois considera a localidade demasiado monótona. Por isso, a aldeia forma agora os seus próprios professores. "Por serem daqui, eles sabem como a vida é e não desaparecem da noite para o dia", conta Nana Ette, filho do líder da aldeia.
Foto: DW/G. Hilse
Cuidado com o fogo
Akyaa prepara creme de amendoim para o almoço. E ao fundo já se vê o fumo que sai do forno onde ela cozinhará, a seguir, o puré de mandioca. A madeira não é à prova de fogo, por isso as mulheres cozinham em fornos de barro. As casas de banho também foram feitas em cima de uma superfície firme de barro, no meio do mato.
Foto: DW/G. Hilse
Preguiçosos não comem
Os habitantes de Nzulezo vivem sobre a água e fazem dela o seu sustento. A sua principal fonte de proteína são os peixes do lago. Os rapazes aprendem desde cedo a pescar. Também precisam de saber como arranjar as redes de pesca e preparar armadilhas na floresta. "Quem tem preguiça, não come", diz um ditado no Gana.
Foto: DW/G. Hilse
Terra fértil
Sengu Kulu e o filho Eric são pequenos agricultores, como muitos em Nzulezo. Em quase dois hectares de terra, junto à costa, cultivam mandioca, bananas, cocos e abacaxis. A maioria é para consumo próprio. "O chão lamacento torna a terra muito fértil, bom para o cultivo”, diz Kulu. O que não é consumido, é vendido no mercado de Beyin, a seis quilómetros de distância.
Foto: DW/G. Hilse
O melhor Akpeteshie do Gana
Nzulezo é conhecida além-fronteiras pela sua bebida destilada, o Akpeteshie, um gin local. Em toda a região pantanosa de Amanzuri é possível encontrar pequenas destilarias como esta. O vinho de palma - obtido da seiva da palmeira - é destilado até que seja possível separar o líquido, de cor clara, que é o gin, do resto. Com cinco euros pode-se comprar aqui um litro de Akpeteshie.
Foto: DW/G. Hilse
Negócios com a capital
14 baldes de vinho de palma dão um galão de gin Akpeteshie - cerca 3,7 litros. É um dia de trabalho. A bebida é depois armazenada e levada numa piroga à cidade costeira de Byin, que está ligada ao lago Tadane por um canal. A seguir, o gin é carregado em camiões e transportado para a capital Acra e para a Costa do Marfim.
Foto: DW/G. Hilse
Europeus em Nzulezo
A vida idílica sobre o lago Tadane também atrai europeus. Um casal de espanhóis é dono de um restaurante às margens do canal que liga Nzulezo a Byin. Eles viveram nesta casa construída sobre estacas durante quatro anos. Hoje, a residência é usada por amigos e familiares que vêm visitar o casal.
Foto: DW/G. Hilse
Viver a cultura de perto
A comunidade depende do turismo. Muitos, porém, vêm apenas para passar o dia e preferem pernoitar nos confortáveis hotéis de luxo à beira-mar, em Byin. Para viver a cultura de perto, os visitantes podem ficar hospedados em casa de um morador. A localidade não tem atendimento médico. É preciso ir de barco até ao posto de saúde mais próximo.
Foto: DW/G. Hilse
Ébola afastou turistas
Poucos turistas estrangeiros vieram a Nzulezo desde o início da epidemia do ébola, em dezembro de 2013. Os habitantes sentiram as consequências no bolso. Segundo Atta Mensa Kasapa, o país inteiro ressentiu-se com a queda do número de visitantes. "E o Gana nunca teve a epidemia do ébola". Atta sonha com o regresso dos turistas para poder vender os barcos que ele esculpe em madeira.