Exército do Gana intervém em conflitos no Parlamento
AFP | Lusa
7 de janeiro de 2021
Poucas horas antes da tomada de posse do Presidente Nana Akufo-Addo no Gana, o exército interveio no Parlamento para restabelecer a calma em conflitos que ocorreram entre os deputados do partido no poder e da oposição.
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Entre a noite de quarta-feira (06.01) e esta madrugada, o Parlamento do Gana foi palco de conflitos entre os deputados do partido no poder e da oposição. O caos eclodiu quando um deputado do partido do Governo tentou roubar a urna que continha os votos durante a votação para a presidência do Parlamento.
O confronto durou várias horas até à chegada do exército, com a televisão nacional a transmitir ao vivo o drama vivido nesta sessão pré-inaugural.
"É uma violação total da lei", disse Kwame Twumasi Ampofo, deputado do Congresso Nacional Democrático (NDC), da oposição.
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"Mesmo que houvesse problemas de segurança, o exército não tem lugar na Câmara. Protestámos (contra a tentativa de roubo de cédulas), mas não fomos violentos", sublinhou Ampofo.
"Um tribunal fez saber que um dos parlamentares eleitos não tinha permissão para votar", disse à agência de notícias AFP Atta Akyea, legislador do partido no poder. "Toda esta votação (para eleger o presidente do Parlamento) está, portanto, marcada por irregularidades, é uma pena", concluiu.
O Parlamento, eleito em dezembro, é dividido quase igualmente entre os deputados do Novo Partido Patriótico (NPP) e do NDC, que compartilham cada um 137 assentos, além de um parlamentar independente.
Irregularidades
Os deputados tiveram de votar na quarta-feira (06.01) para eleger o seu presidente, poucas horas antes da investidura oficial do novo Parlamento e do Presidente do país, num resultado contestado pela oposição.
A cerimónia decorre no Parlamento ganês, na capital Acra, e surge após o candidato opositor e antigo Presidente John Dramani Mahama, que obteve 47,36% dos votos, ter apresentado uma queixa no Supremo Tribunal do Gana no final de dezembro.
Segundo os observadores internacionais e locais, a votação decorreu num ambiente geralmente calmo, embora tenham sido mortas cinco pessoas durante os dias da votação e da contagem dos votos, de acordo com a polícia.
Gana: Chefes tradicionais continuam a ter poder sobre as terras
O Gana é uma democracia vibrante com uma economia e população urbana em rápido crescimento. Mas os chefes tradicionais continuam a desempenhar um papel importante no país - especialmente quando se trata de terras.
Foto: Evans Ahorsu
Novas vias férreas significam novos negócios de terrenos
O Gana está a investir 8 mil milhões de dólares na reabilitação e expansão de 1.400 km de via férrea. Um novo troço férreo vai fazer a ligação entre o vizinho Burkina Faso e os portos do Gana. Mas para isso, o governo precisa de terrenos - e isto significa consultar os chefes locais, que têm muito a dizer sobre os direitos das terras.
Foto: Marco Casano
Prestar homenagem aos antepassados
"Que os nossos antepassados aceitem o que lhes oferecemos. Estamos aqui reunidos para endereçar os nossos louvores", proclama um feiticeiro no local onde nascerá o troço que vai ligar Kumasi, a segunda maior cidade do Gana, ao porto de Takoradi. Antes das máquinas começarem o seu trabalho, o feiticeiro executa, a mando do chefe local, rituais para obter a aprovação dos antepassados.
Foto: Marco Casano
Negociação constante com os chefes
O governo do Gana está ocupado com a aquisição de terras para o projeto ferroviário. E à medida que as máquinas escavadoras começam a avançar, é necessário incluir os chefes locais nas negociações. Se não estiverem satisfeitos, podem interromper o trabalho. "A tarefa de mediação constante tornou-se parte do nosso trabalho", explica Marco Casano, engenheiro responsável pelo troço Takoradi-Kumsasi.
Foto: Marco Casano
Conflitos mais frequentes
Com mais agricultores a serem forçados a abrir portas a grandes projetos de infra-estruturas, como a linha férrea, os conflitos sobre as terras estão a tornar-se mais frequentes. Como o governo muitas vezes não fornece soluções adequadas, os chefes desempenham um papel vital na resolução destas disputas locais.
Foto: Evans Ahorsu
Rumo ao progresso
A reabilitação do troço ocidental Takoradi-Kumasi, até aqui abandonado, é de grande importância para o setor mineiro do Gana. Na zona à volta de Takoradi, são extraídos, entre outros, manganês e bauxita, que são depois transportados por via terrestre, obstruindo o tráfego com camiões pesados e destruindo a superfície da estrada.
Foto: Marco Casano
Assegurar a continuação dos chefes tradicionais
Na região do Volta, no leste do Gana, o sub-chefe Torgbe Diabo XI é transportado num cadeirão para liderar o enterro do chefe supremo da Área Tradicional de Fodome. Para além de chefiar a sua própria aldeia, faz parte das funções de Torgbe Diabo XI coroar o próximo chefe supremo. Na sua vida normal, Torgbe Diabo XI trabalha para uma empresa de mobiliário.
Foto: Evans Ahorsu
Prestar juramento à comunidade
O novo chefe supremo da Área Tradicional de Fodome, Timothy Akpatsa II, faz um juramento enquanto ergue a espada. O título de chefe supremo é alternado entre duas famílias reais locais. Na semana anterior à sua nomeação pública, Timothy Akpatsa II foi trancado numa sala para se formar para o novo papel de liderança.
Foto: Evans Ahorsu
Resolução de conflitos com uma bebida de paz
Durante a cerimónia de nomeação do chefe, uma poção de paz é preparada e oferecida aos presentes para serenidade e proteção. A bebida à base de farinha de milho, utilizada em muitos rituais tradicionais, é também usada para selar a resolução de conflitos entre comunidades vizinhas.
Foto: Evans Ahorsu
"Linguistas" que falam em nome do chefe
Os chamados "linguistas" são os principais porta-vozes ou embaixadores. Depois de concluída a investidura do novo chefe supremo, os linguistas vêm de aldeias próximas e fazem fila para prestar homenagem ao novo chefe em nome dos seus próprios chefes. O papel do linguista é um papel importante e respeitado em todo o Gana.
Foto: Evans Ahorsu
Poderes mágicos para defender o chefe
No final da cerimónia de nomeação, um "guerreiro" exibe os seus poderes mágicos através da dança. Os guerreiros, que em outros tempos foram conhecidos por terem poderes sobrenaturais, protegiam a sua comunidade e conquistavam a terra.