Funeral de Estado do antigo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, atraiu dezenas de personalidades, esta quinta-feira (13.09), a Acra. Á DW, jovens ganeses garantem que Kofi Annan continuará a ser uma inspiração.
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Esta quinta-feira (13.09), o país despediu-se de Kofi Annan - morreu no mês passado na Suíça, vítima de uma doença repentina - com um funeral de Estado em Acra, capital do país. Prémio Nobel da Paz em 2001, Kofi Annan ocupou o cargo de secretário-geral das Nações Unidas por dois mandatos – de 1996 a 2007. No Gana, este filho da terra é lembrado como um líder humilde e trabalhador que foi capaz de se tornar num dos grandes nomes da diplomacia mundial.
Foram muitas as personalidades que se deslocaram até ao Gana esta quinta-feira (13.09), entre as quais, os Presidentes da Namíbia, Libéria, Costa do Marfim, Etiópia e Serra Leoa, assim como o primeiro-ministro do Níger e o vice-presidente de Angola.
Alguns lembraram a obra de Kofi Annan. "Desde o choque da morte de Kofi, tenho refletido sobre o que o tornou tão especial e, na minha opinião, é simplesmente isto: Kofi Annan era único, mas era também um de nós", começou por afirmar António Guterres, secretário-geral da ONU.
Para Guterres, Kofi Annan era ainda "um líder global excecional e era também alguém em que praticamente qualquer pessoa no mundo se podia rever – os que se encontravam na pobreza, conflitos ou em desespero encontravam nele um aliado". Nos últimos momentos da sua vida, lembrou o português, "Annan disse aos jovens: Lembrem-se sempre, nunca se é jovem para liderar e nunca se é velho demais para aprender".
Na cerimónia desta quinta-feira (13.09), o ganês foi ainda lembrado pelos seus filhos como sendo um homem generoso que procurava a verdade e lutava pela paz, desde o primeiro dia que entrou nas Nações Unidas, com apenas 24 anos. A sua filha, Ama Annan Adedeji, disse mesmo que o seu pai "era uma das pessoas mais amorosas que conhecia".
Já Nane Annan, viúva de Kofi Annan, garantiu que o legado do seu marido "continuará vivo nos seus princípios e em todos nós". "Que descanse em paz e que a sua sabedoria e compaixão continuem a inspirar-nos e a guiar os nossos passos onde quer que estejamos", disse.
Inspiração para os jovens
No Gana, garantem os jovens ouvidos pela DW, Kofi Annan continuará a ser uma inspiração. Apesar de admitirem ser difícil alcançar sonhos e aspirações no país onde nasceram, os mais novos vêm em Kofi Annan um exemplo e dizem ser encorajados pela sua história. Afinal, Kofi Annan é a prova de que, com esforço, ainda é possível nascer numa comunidade desconhecida no Gana e tornar-se um líder global. É o que diz Dennis Dogbe: "Ele veio de uma família humilde e chegou às Nações Unidas. Quando nos sentamos e lemos o que ele fez, é uma inspiração". Uma opinião partilhada por Daniel Nkansah Ampapeng que quer um dia alcançar o que Kofi Annan alcançou: "Sem dúvida que rezo muito para ter a sua humildade, imitar o seu comportamento pacífico para alcançar uma boa posição no futuro, pode ser na União Africana ou apenas na fronteira política do Gana".
Gana: Jovens veem em Kofi Annan uma inspiração
Atualmente, no Gana, existem muitos jovens interessados em entrar na política. O analista e diretor executivo do Centro de Desenvolvimento Democrático, o professor Kwame Prempeh, não tem dúvidas de que estes jovens poderão aprender com as habilidades de liderança de Kofi Annan. "Na nossa política, que se está a tornar agressiva e muito competitiva, acho que ele nos ensina, de facto, o valor de pensar em todos nós como uma equipa só. A importância de trabalharmos juntos rumo à construção dessa comunidade a que chamamos Gana".
As batalhas de Kofi Annan
Nascido no Gana, Kofi Annan tornou-se no primeiro líder africano e negro da ONU e num dos grandes nomes da diplomacia mundial. Bateu-se pela paz, mas a luta nem sempre correu bem.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Estrela em ascenção da Organização das Nações Unidas (ONU)
Kofi Anan nasceu no seio de uma conhecida família no Gana em 1938. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. Começou a trabalhar na ONU com 24 anos. Em 1993, tornou-se chefe das operações de manutenção da paz. Um dos primeiros desafios foi a crise na Somália, quando confrontos entre forças norte-americanas apoiadas pela ONU e milícias da Somália causaram a morte a 18 soldados americanos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Derrotas na Bósnia e no Ruanda
As forças de manutenção da paz da ONU não conseguiram travar os genocídios no Ruanda e na Bósnia na década de 90. As missões malogradas levaram Annan a “criar uma nova compreensão de legitimidade e necessidade, de intervenção frente a graves violações dos direitos humanos”, escreveu na sua auto-biografia de 2012.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Apoio norte-americano
Em 1996, os EUA queriam substituir o então secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali, que, por repetidas vezes, ia contra os interesses de Whashington. Annan, por seu lado, enquanto substituto de Boutros-Ghali, autorizou a intervenção na Bósnia liderada pelos norte-americanos. Mais tarde, o veto dos EUA ao segundo mandato de Boutros-Ghali abriu caminho para Annan chegar ao posto em 1997.
Foto: Reuters/R. Wilking
Prémio Nobel da Paz
Em 2001, o Comité do Prémio Nobel da Paz atribuiu o galardão à ONU e ao seu líder, Kofi Annan, elogiando Annan por revitalizar a ONU e lutar pelos direitos humanos. “Não estou aqui sozinho”, disse Annan no discurso de aceitação. Annan agradeceu ao Comité em nome dos seus colegas da ONU “que dedicaram a vida e, em muitos casos, arriscaram ou perderam a vida pela paz.”
Foto: picture-alliance/dpa/H. Junge
Annan vs Whashington
Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003, ignorando o Conselho de Segurança da ONU e irritando muitos dos seus aliados mais próximos. Annan opôs-se abertamente à invasão a que chamou de “ilegal”. As declarações causaram revolta entre os que anteriormente o apoiaram em Washington.
Foto: picture-alliance/ dpa/Y. Logghe
Sob investigação
Em 2004, Annan viu-se envolvido num escândalo de corrupção devido ao programa no Iraque “Petróleo por Alimentos”, pois o seu filho Kojo recebia honorários de uma empresa envolvida no programa. Annan acabou por ser ilibado de má conduta, mas ficou por esclarecer o seu papel na obtenção do negócio pelo filho. Alguns analistas acreditam que o escândalo foi orquestrado por diplomatas norte-americanos.
Foto: Getty Images/A.Burton
Depois da ONU
Kofi Annan terminou o segundo mandato de cinco anos em 2006 e foi sucedido por Ban Ki-moon. Mas o diplomata ganês permaneceu ativo na luta pela paz. Ao lado de Nelson Mandela, Desmond Tutu e outros diplamatas e ativistas reconhecidos, Annan fundou a organisação não governamental “The Elders”, que luta pela pez e pelos direitos humanos.
Foto: Getty Images
Tentativa falhada na Síria
Annan voltou aos holofotes como o enviado da ONU à Síria, em 2012, durante a fase inicial do conflito que viria a transformar-se na infindável e sangrenta guerra civil. No entanto, abandonou o posto cinco meses depois, frustrado com a falha em honrar compromissos por parte dos grandes poderes. “Perdi as minhas tropas a caminho de Damasco”, disse.
Foto: Reuters/Sana
Myanmar: a última missão
Em 2016, Annan viajou para o Myanmar para liderar uma comissão consultiva no conflito com os Rohingya, gerando muitos protestos entre a maioria budista no país. A comissão pediu ao Governo que terminasse com a pobreza entre o povo Rohingya e garantisse os seus direitos. Em outubro de 2017, Annan pediu à ONU que pressionasse Myanmar para receber de volta os Rohingya exilados.