Gana quer mudanças no modelo de cooperação com a Alemanha
Daniel Pelz | ni
1 de março de 2018
O Presidente do Gana reuniu-se com a chanceler alemã Angela Merkel nesta quarta-feira (28.02.) em Berlim. Akufo-Addo defendeu mais comércio em vez da "ajuda clássica" ao desenvolvimento. A migração também foi tema.
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Angela Merkel e Nana Akufo-Addo querem estreitar os laços de cooperação entre seus países nas áreas de economia, migração e segurança.
O Presidente do Gana também manifestou desejo de mudança no modelo de cooperação: "Queremos focar o nosso relacionamento com a Alemanha, e outras nações desenvolvidas, muito mais no mercado e nos investimentos. De facto, a era da 'ajuda' não foi útil para o desenvolvimento dos nossos países porque criou a mentalidade de 'dependência'".
Os dois dirigentes, que se reuniram nesta quarta-feira (28.02.) em Berlim, pretendem expandir a cooperação no âmbito da iniciativa "Compact With Africa", criada pelo Governo alemão no âmbito da Cimeira do G20 para reforçar o investimento privado no continente africano.
Gana quer mudanças no modelo de cooperação com a Alemanha
A chanceler alemã garante que "o ministro das Finanças do Gana está a trabalhar muito para criar as condições necessárias de implementação do 'Compact With Africa'. E isso significa implementar as reformas necessárias."
E Angela Merkel promete: "Faremos o melhor para incentivar projetos de investidores privados alemães no Gana, pois ainda são poucos."
Entraves no Gana
Até agora, a iniciativa teve poucos resultados. A Câmara Alemã de Indústria e Comércio, por exemplo, critica a ausência de garantias governamentais adicionais para empresas alemãs que desejem operar em África.
Além disso, acredita-se que o Governo do Gana ainda tem muito trabalho pela frente. Os investidores estrangeiros temem os frequentes cortes de energia no país, além da corrupção e do baixo nível de educação dos trabalhadores.
O Gana é um dos mais importantes parceiros alemães em África - com um volume de negócios de cerca de 584 milhões de euros.
Fim à migração
Também durante o encontro, Merkel e Akufo-Addo concordaram em cooperar mais para combater a migração ilegal.
O Presidente do Gana é da opinião que "a energia que muitos jovens despendem ao tentar atravessar o Saara, ou o Mar Mediterrâneo, deveria ser usada no Gana para tornar o país mais próspero. Por isso, a nossa preocupação é melhorar a economia do nosso país e gerar mais empregos aqui, aproveitando assim a energia desses jovens".
A Alemanha, em particular, está a pressionar o rápido regresso de cidadãos ganeses, cujos pedidos de asilo foram rejeitados. Há cerca de 4.000 a viverem na Alemanha, país que acolhe a segunda maior comunidade ganesa na Europa. O Reino Unido acolhe a maior comunidade.
A chanceler Angela Merkel sublinha a sua política de estancar a migração: "Insistimos no retorno voluntário dessas pessoas antes da deportação. Em troca, queremos permitir que mais jovens do Gana estudem ou tenham capacitação profissional na Alemanha. Devemos lutar contra a migração ilegal, mas criar oportunidades legais, especialmente para os jovens".
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.