Estudantes pedem publicação de nomes de professores que as a
Suuk Maxwell | Henry-Laur Allik
29 de março de 2017
No Gana, estudantes universitárias estão a acusar os seus professores de as coagir a ter relações sexuais em troca de boas notas. Situação estende-se também ao mundo do trabalho.
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No Gana há um crescente movimento de protesto de alunas que acusam os seus professores a coagi-las a ter relações sexuais em troca de boas notas. As alunas estão a recorrer às redes sociais online para nomear os professores. Porque, dizem, não querem mais ficar caladas perante o abuso.
As estudantes das universidades no Gana exigem que as autoridades publiquem os nomes dos professores que a submetem a assédio sexual. E têm o apoio de muitos ganeses, que reivindicam punições mais severas para os abusadores. No entanto, os professores apontam o dedo às alunas, dizendo que a iniciativa parte delas.
Jasmine, tem 20 anos, e está há dois anos a estudar na Universidade de Tamale. Recentemente acusou um dos seus professores de assédio numa plataforma online. A jovem partilha quarto com Tamara, que passou por uma experiência semelhante. "Ele insistia e eu dava sempre desculpas, e ele dizia: podes encontrar-te comigo aqui, ou ali? E eu estava sempre a esquivar-me", conta.
Jasmine e Tamara não são os nomes verdadeiros das jovens, que pediram o anonimato. Mas a experiência não é única nem recente. É de conhecimento geral há muito tempo o que se passa nas universidades do país. A diferença é que agora as jovens começam a defender-se.
Há poucos dias, um grupo de alunas reuniu-se na Universidade do Gana para exigir a publicação do nome dos professores que as assediam. E a causa ganhou alguns apoiantes. E não só raparigas. Também há rapazes entre os estudantes preocupados com a prática do assédio. À DW, Amuzu David, estudante finalista na área da Educação, confirma já ter ouvido muitas histórias destas. "Até já vi vídeos online de professores a ter sexo com alunas, e é algo que rejeito", acrescenta.
Como são punidos estes professores?
No Gana, as universidades prevêem a rescisão do contrato de professores culpados de assédio. Aziz Mohammed é o responsável de Relações Públicas da Universidade de Tamale e confirma-o, afirmando que existe "a política sexual que diz que um professor não pode exigir sexo a um estudante em troca de notas”.Mas da teoria à prática vai uma grande distância. Há uns anos, quando um caso foi parar ao tribunal, este decidiu que a falta de provas concretas impedia o despedimento dos professores. Alguns docentes dizem-se vítimas de falsas acusações ou então do assédio por parte de alunas que querem melhorar as notas e tentam fazê-lo através do sexo. Segundo Paul Achonga Kaba, professor na Universidade de Tamale, é "provável que as más alunas, que não percebem a matéria, recorram à prática. O facto é que são adultas, mesmo que a prática seja inaceitável do ponto de vista ético".
2903 Assédio sexual Gana - MP3-Mono
Emprego dependente de "favores sexuais"
A prática é também comum no mundo do trabalho. Nancy conta a sua própria história. Quando se candidatou a um emprego numa organização, o diretor geral ditou-lhe as condições, ao telefone, dias antes da entrevista. "Disse-me que só me dava o emprego se eu ficasse em Cape Coast como a sua amante. De outra forma não me dava o emprego", contou.
Nancy recusou e ficou três anos desempregada. E não é um caso único. Gifty Laary é apresentadora de rádio. À DW conta a história de uma amiga sua, que atualmente trabalha num banco, mas que, por ter recusado ter sexo com os seus potenciais patrões, ficou desempregada durante vários anos, o que fez com que a sua vida ficasse "miserável". "Houve um momento em que ela enviou uma candidatura para trabalhar num banco e ela confidenciou-me que, dessa vez, se eles pedissem sexo ela iria concordar, porque parecia que essa era a ordem do dia e que, se ela não o fizesse, não saberia quanto tempo iria demorar para arranjar emprego", conta. Felizmente para a amiga de Gifty, a vaga no trabalho no banco não requeria sexo em troca.
Talvez se mais mulheres se juntarem aos protestos nas redes sociais no Gana, o assédio tão descarado passe a ser muito mais difícil.
Nzulezo: Viver sobre a água no Gana
Os moradores de Nzulezo vivem sobre a água e fazem dela o seu sustento. Esta aldeia no sudoeste do Gana foi totalmente construída sobre estacas. Mas não é só por isso que este local, no lago Tadane, é famoso.
Foto: DW/G. Hilse
A Veneza do Gana
A aldeia de Nzulezo fica a cerca de 300 quilómetros a oeste da capital do Gana, Acra. No idioma local, "nzema" significa "superfície da água". Os 500 habitantes vivem literalmente sobre o lago Tadane. Nzulezo é a única localidade do país construída totalmente sobre estacas. Por isso, a comunidade ficou conhecida como "Veneza do Gana".
Foto: DW/G. Hilse
Candidata a património da humanidade
Em 2000, Nzulezo foi nomeada para receber o título de património natural da humanidade, concedido pela UNESCO, pois é uma união perfeita entre o Homem e a Natureza - o ecossistema não é prejudicado. Além disso, as zonas húmidas de Amanzuri, onde o lago Tadane se encontra, têm uma importante flora e fauna, com macacos, crocodilos, tartarugas e muitas espécies raras de pássaros.
Foto: DW/G. Hilse
Forçados a sair
Reza a lenda que os antepassados dos habitantes de Nzulezo eram originários do "Reino do Gana", no atual Mali. Mas, no século XV, foram obrigados a deixar a região após uma disputa com o povo "Mendé" pelas terras férteis e ricas em ouro. O seu deus teria aparecido em forma de caracol e tê-los-ia guiado à região onde fica hoje o Gana.
Foto: DW/G. Hilse
Finalmente a paz
A comunidade instalou-se aqui, sobre o lago Tadane, e, segundo a lenda, terá recebido a garantia divina de que não precisava de temer novos ataques. A população ficou finalmente em paz, após décadas a fugir de um lado para o outro. O deus prometeu que o lago protegeria e comunidade e garantiria o seu sustento; depois, entregou-a aos cuidados do deus da água.
Foto: DW/G. Hilse
Um altar para o deus da água
A comunidade venera o deus da água desde essa altura. Esta casa sobre estacas é-lhe dedicada. O lago tem um dia sagrado - à terça-feira é proibido pescar. As mulheres não podem atravessar as águas na altura da menstruação. Por respeito ao deus dos antepassados, o caracol, muitas pessoas não comem estes animais.
Foto: DW/G. Hilse
Acesso a TV e telefone
Hoje em dia, vivem aqui cerca de 500 pessoas. Os tectos são feitos de ráfia e as casas estão ligadas umas às outras por passadeiras de madeira. Cada família mora numa rua diferente e todas têm acesso a eletricidade, televisão via satélite e rede móvel. Graças a um projeto de uma petrolífera estrangeira, as famílias também têm acesso a água potável há vários anos.
Foto: DW/G. Hilse
Professores da comunidade
As autoridades enviam para a comunidade jovens professores recém-formados, mas a maioria não aguenta muito tempo em Nzulezo, pois considera a localidade demasiado monótona. Por isso, a aldeia forma agora os seus próprios professores. "Por serem daqui, eles sabem como a vida é e não desaparecem da noite para o dia", conta Nana Ette, filho do líder da aldeia.
Foto: DW/G. Hilse
Cuidado com o fogo
Akyaa prepara creme de amendoim para o almoço. E ao fundo já se vê o fumo que sai do forno onde ela cozinhará, a seguir, o puré de mandioca. A madeira não é à prova de fogo, por isso as mulheres cozinham em fornos de barro. As casas de banho também foram feitas em cima de uma superfície firme de barro, no meio do mato.
Foto: DW/G. Hilse
Preguiçosos não comem
Os habitantes de Nzulezo vivem sobre a água e fazem dela o seu sustento. A sua principal fonte de proteína são os peixes do lago. Os rapazes aprendem desde cedo a pescar. Também precisam de saber como arranjar as redes de pesca e preparar armadilhas na floresta. "Quem tem preguiça, não come", diz um ditado no Gana.
Foto: DW/G. Hilse
Terra fértil
Sengu Kulu e o filho Eric são pequenos agricultores, como muitos em Nzulezo. Em quase dois hectares de terra, junto à costa, cultivam mandioca, bananas, cocos e abacaxis. A maioria é para consumo próprio. "O chão lamacento torna a terra muito fértil, bom para o cultivo”, diz Kulu. O que não é consumido, é vendido no mercado de Beyin, a seis quilómetros de distância.
Foto: DW/G. Hilse
O melhor Akpeteshie do Gana
Nzulezo é conhecida além-fronteiras pela sua bebida destilada, o Akpeteshie, um gin local. Em toda a região pantanosa de Amanzuri é possível encontrar pequenas destilarias como esta. O vinho de palma - obtido da seiva da palmeira - é destilado até que seja possível separar o líquido, de cor clara, que é o gin, do resto. Com cinco euros pode-se comprar aqui um litro de Akpeteshie.
Foto: DW/G. Hilse
Negócios com a capital
14 baldes de vinho de palma dão um galão de gin Akpeteshie - cerca 3,7 litros. É um dia de trabalho. A bebida é depois armazenada e levada numa piroga à cidade costeira de Byin, que está ligada ao lago Tadane por um canal. A seguir, o gin é carregado em camiões e transportado para a capital Acra e para a Costa do Marfim.
Foto: DW/G. Hilse
Europeus em Nzulezo
A vida idílica sobre o lago Tadane também atrai europeus. Um casal de espanhóis é dono de um restaurante às margens do canal que liga Nzulezo a Byin. Eles viveram nesta casa construída sobre estacas durante quatro anos. Hoje, a residência é usada por amigos e familiares que vêm visitar o casal.
Foto: DW/G. Hilse
Viver a cultura de perto
A comunidade depende do turismo. Muitos, porém, vêm apenas para passar o dia e preferem pernoitar nos confortáveis hotéis de luxo à beira-mar, em Byin. Para viver a cultura de perto, os visitantes podem ficar hospedados em casa de um morador. A localidade não tem atendimento médico. É preciso ir de barco até ao posto de saúde mais próximo.
Foto: DW/G. Hilse
Ébola afastou turistas
Poucos turistas estrangeiros vieram a Nzulezo desde o início da epidemia do ébola, em dezembro de 2013. Os habitantes sentiram as consequências no bolso. Segundo Atta Mensa Kasapa, o país inteiro ressentiu-se com a queda do número de visitantes. "E o Gana nunca teve a epidemia do ébola". Atta sonha com o regresso dos turistas para poder vender os barcos que ele esculpe em madeira.