Gana: Violência pós-eleitoral faz cinco mortos e 17 feridos
Lusa
9 de dezembro de 2020
Os resultados das presidenciais de segunda-feira (07.12) ainda não foram divulgados mas, segundo os serviços da Presidência, com 91% das mesas apuradas, o chefe de Estado cessante está na frente. Oposição critica.
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Cinco pessoas morreram e 17 ficaram feridas em vários incidentes no Gana desde as eleições presidenciais de segunda-feira (07.12), que, segundo os observadores, decorreram de forma pacífica, informou a polícia ganesa.
"Entre as 07:00 horas de 07 de dezembro [dia de votação] e as 10:00 horas de hoje, 9 de dezembro, houve 21 incidentes violentos em todo o país (...) diretamente relacionados com as eleições, que resultaram em cinco pessoas mortas a tiro", adiantou a polícia num comunicado e na sua conta no Twitter.
De acordo com a polícia, na sua maioiria, os incidentes envolveram ou foram provocados por civis, mas há registos de um polícia ferido, bem como do envolvimento de elementos de segurança privados.
O Gana realizou, na segunda-feira, eleições presidenciais e legislativas, numa corrida renhida entre o Presidente, Nana Akufo-Addo, 76 anos, candidato do Novo Partido Patriótico (NPP) e que procura um segundo mandato, e o seu predecessor John Mahama, 62 anos.
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Os resultados da votação ainda não foram divulgados pela comissão eleitoral, mas na terça-feira (08.12), os serviços da Presidência publicaram os resultados estimados para 91% das mesas de voto, dando o chefe de Estado cessante como vencedor com 52,25% dos votos, contra 46,44% de Mahama, contrariando o protocolo em vigor.
Por seu lado, o candidato da oposição alegou que o seu partido tinha ganho a maioria dos 140 lugares no parlamento nas eleições legislativas.
John Mahama acusou o chefe de Estado cessante, Nana Akufo-Addo, de ser "antidemocrático", advertindo que "resistirá a qualquer tentativa de roubar o escrutínio", enquanto ainda se aguardam os resultados das eleições de segunda-feira.
Os dois opositores políticos de longa data, que se enfrentaram pela terceira vez, assinaram um "pacto de paz" na sexta-feira, comprometendo-se a não promover qualquer violência durante a votação e a reconhecer os resultados oficiais.
Embora a votação tenha decorrido geralmente calma, alguns incidentes foram relatados pela Coligação de Observadores Eleitorais Ganeses, que monitorizou 4.000 das 38.000 mesas de voto em todo o país.
Segundo estes observadores, foram registados cerca de 235 incidentes, desde o não cumprimento do protocolo sanitário imposto por causa do novo coronavírus até atos de violência.
Mais de uma centena de observadores da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da União Africana e das Nações Unidas monitorizaram a votação, tendo felicitado a população e as autoridades do Gana pela forma pacífica como decorreram as eleições.
No mesmo comunicado, apelaram para a "paciência e a calma" enquanto se aguarda pelos resultados da votação e pediram, particularmente aos líderes dos dois principais partidos para respeitarem os compromissos assumidos no pacto pela paz que assinaram.
Gana: Chefes tradicionais continuam a ter poder sobre as terras
O Gana é uma democracia vibrante com uma economia e população urbana em rápido crescimento. Mas os chefes tradicionais continuam a desempenhar um papel importante no país - especialmente quando se trata de terras.
Foto: Evans Ahorsu
Novas vias férreas significam novos negócios de terrenos
O Gana está a investir 8 mil milhões de dólares na reabilitação e expansão de 1.400 km de via férrea. Um novo troço férreo vai fazer a ligação entre o vizinho Burkina Faso e os portos do Gana. Mas para isso, o governo precisa de terrenos - e isto significa consultar os chefes locais, que têm muito a dizer sobre os direitos das terras.
Foto: Marco Casano
Prestar homenagem aos antepassados
"Que os nossos antepassados aceitem o que lhes oferecemos. Estamos aqui reunidos para endereçar os nossos louvores", proclama um feiticeiro no local onde nascerá o troço que vai ligar Kumasi, a segunda maior cidade do Gana, ao porto de Takoradi. Antes das máquinas começarem o seu trabalho, o feiticeiro executa, a mando do chefe local, rituais para obter a aprovação dos antepassados.
Foto: Marco Casano
Negociação constante com os chefes
O governo do Gana está ocupado com a aquisição de terras para o projeto ferroviário. E à medida que as máquinas escavadoras começam a avançar, é necessário incluir os chefes locais nas negociações. Se não estiverem satisfeitos, podem interromper o trabalho. "A tarefa de mediação constante tornou-se parte do nosso trabalho", explica Marco Casano, engenheiro responsável pelo troço Takoradi-Kumsasi.
Foto: Marco Casano
Conflitos mais frequentes
Com mais agricultores a serem forçados a abrir portas a grandes projetos de infra-estruturas, como a linha férrea, os conflitos sobre as terras estão a tornar-se mais frequentes. Como o governo muitas vezes não fornece soluções adequadas, os chefes desempenham um papel vital na resolução destas disputas locais.
Foto: Evans Ahorsu
Rumo ao progresso
A reabilitação do troço ocidental Takoradi-Kumasi, até aqui abandonado, é de grande importância para o setor mineiro do Gana. Na zona à volta de Takoradi, são extraídos, entre outros, manganês e bauxita, que são depois transportados por via terrestre, obstruindo o tráfego com camiões pesados e destruindo a superfície da estrada.
Foto: Marco Casano
Assegurar a continuação dos chefes tradicionais
Na região do Volta, no leste do Gana, o sub-chefe Torgbe Diabo XI é transportado num cadeirão para liderar o enterro do chefe supremo da Área Tradicional de Fodome. Para além de chefiar a sua própria aldeia, faz parte das funções de Torgbe Diabo XI coroar o próximo chefe supremo. Na sua vida normal, Torgbe Diabo XI trabalha para uma empresa de mobiliário.
Foto: Evans Ahorsu
Prestar juramento à comunidade
O novo chefe supremo da Área Tradicional de Fodome, Timothy Akpatsa II, faz um juramento enquanto ergue a espada. O título de chefe supremo é alternado entre duas famílias reais locais. Na semana anterior à sua nomeação pública, Timothy Akpatsa II foi trancado numa sala para se formar para o novo papel de liderança.
Foto: Evans Ahorsu
Resolução de conflitos com uma bebida de paz
Durante a cerimónia de nomeação do chefe, uma poção de paz é preparada e oferecida aos presentes para serenidade e proteção. A bebida à base de farinha de milho, utilizada em muitos rituais tradicionais, é também usada para selar a resolução de conflitos entre comunidades vizinhas.
Foto: Evans Ahorsu
"Linguistas" que falam em nome do chefe
Os chamados "linguistas" são os principais porta-vozes ou embaixadores. Depois de concluída a investidura do novo chefe supremo, os linguistas vêm de aldeias próximas e fazem fila para prestar homenagem ao novo chefe em nome dos seus próprios chefes. O papel do linguista é um papel importante e respeitado em todo o Gana.
Foto: Evans Ahorsu
Poderes mágicos para defender o chefe
No final da cerimónia de nomeação, um "guerreiro" exibe os seus poderes mágicos através da dança. Os guerreiros, que em outros tempos foram conhecidos por terem poderes sobrenaturais, protegiam a sua comunidade e conquistavam a terra.