O Governo são-tomense comprou autocarros para melhorar o índice de escolaridade. Um investimento possível graças aos contratos assinados com as empresas que pretendem explorar petróleo na Zona Económica Exclusiva.
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São Tomé e Príncipe ainda não é um país produtor de petróleo, mas já está a beneficiar dos compromissos sociais assumidos pelas petrolíferas, no âmbito dos contratos de partilha de produção na Zona Económica Exclusiva são-tomense, em vigor com seis empresas: Sonangol, Oranto Petroleum, Galp, Equator Exploration e Kosmos Energy.
Na área da educação, além da aquisição de novos autocarros escolares, o Governo também aposta na construção de salas de aula e jardins de infância. Segundo o ministro da Educação, Cultura, Ciência e Comunicação, Olinto Daio, com a disponibilização de transportes escolares, muitos mais jovens são-tomenses poderão frequentar as aulas e concluir os seus cursos.
Desde que os 30 autocarros novos entraram em circulação, Kátia Prazeres, estudante do 12º ano, não perde uma viagem. Em épocas passadas, era muito impressionate o que via. Os autocarros iam superlotados, alguns estavam meio degradadas. "Com os autocarros novos, já não está assim tao apertado", elogia a aluna.
Aposta no desporto
Os benefícios dos contratos petrolíferos também são visíveis no desporto. Em 2015 foram construídos três polidesportivos, em diferentes regiões do país, com objectivo de "massificar a prática desportiva" em Agua Izé, Monte Café e Guadalupe, de acordo com o ministro da Juventude e Desporto, Marcelino Sanches. A construção dos novos espaços custou cerca de 600 mil dólares.
9.12 Ganhos petróleo - São Tomé e Príncipe - MP3-Stereo
Com os ganhos do petróleo, o país também já adquiriu seis viaturas para combater incêndios. Antes, "as populações até diziam que os bombeiros chegavam ao incêndio sem água", conta João Zuza, comandante nacional do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.
Mas agora, sublinha, os bombeiros são-tomenses já têm mais capacidade operativa, com viaturas de 15 mil litros e de cinco mil litros, "além de uma viatura de 2500 litros que faz a primeira intervenção" no terreno.
Novos projetos sociais
No final dos anos 90, foram estabelecidos os limites da Zona Económica Exclusiva de São e Príncipe de 129 mil quilómetros quadrados, repartidos em 19 blocos petrolíferos. Depois de leilão do bloco realizado em 2010, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já celebrou seis contratos de partilha de produção, com empresas de diferentes origens.
Além dos projectos sociais, a ANP já arrecadou para os cofres do Estado 15 milhões de dólares em bónus de assinatura, além de outras taxas. Sem entrar em detalhes, Orlando Pontes, diretor da ANP anunciou que novos projetos vão ser implementados no país em benefício da população. "Já realizamos uma série de projetos sociais e outros estão em curso. Até ao final do ano que vem, teremos outros projetos sociais executados", declarou.
Fundada em 2004, a ANP é o órgão do Estado encarregue de regular e fiscalizar as políticas para o setor petrolífero. A produção de petróleo é ainda uma miragem em São Tomé e Príncipe, mas a agência ANP tem estado a potencializar os negócios na Zona Económica Exclusiva, atraindo mais empresas na perspectiva de que o petróleo possa servir de catalisador no desenvolvimento socioeconómico de São Tomé e Príncipe.
Cacau: semente do desenvolvimento de São Tomé
Após a nacionalização das fazendas de cacau, as roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. Hoje, as roças voltaram a ser privadas e há esperanças que contribuam novamente para o desenvolvimento do país.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho na roça começa cedo
Antes do sol penetrar na mata da Roça Olivais Marim, na zona sul de São Tomé, os poucos agricultores já trabalham nas plantações de cacau - principal produto de exportação do país. Após a nacionalização das roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. A exportação do cacau não passou de 12.000 toneladas/ano. Nos anos 80, a exportação baixou ainda mais, para 3.000 toneladas.
Foto: DW/R. Graça
Má gestão levou a êxodo rural
A nacionalização das fazendas em 1975 deu origem à formação de 15 grandes empresas estatais, que entraram em declínio. A queda da produção do cacau abriu o caminho às privatizações nos anos 90. Porém, muitas terras continuaram improdutivas e iniciou-se um êxodo rural das populações nas zonas das roças. Agora, 2.500 hectares de terras estão a ser desbravadas e reaproveitadas.
Foto: DW/R. Graça
Clima ideal
Agricultora prepara viveiros para reabilitar as plantações abandonadas da Roça Granja. São Tomé e Príncipe possui as condições climáticas favoráveis ao cultivo do cacau: terras de origem vulcânica, solo fértil e boa temperatura. Estatísticas do período colonial revelam que, com apenas 15 unidades agroindustriais numa área de 60 mil hectares, os portugueses chegaram a produzir 36.000 toneladas/ano.
Foto: DW/R. Graça
Raízes brasileiras
Em São Tomé e Príncipe, a cultura do cacau começou na Ilha do Príncipe. Os primeiros cacaueiros, plantados pelos colonos portugueses em 1822, vieram do Brasil. No século XIX, durante o "Ciclo do Cacau", por falta de mão de obra local, os portugueses contrataram trabalhadores de outras colónias africanas – como Angola, Cabo Verde e Moçambique. Muitos tiveram que trabalhar sob condições desumanas.
Foto: DW/R. Graça
Produção biológica de cacau
No interior da Roça Santa Luzia, na Ilha de São Tomé, os tratores adquiridos pela Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB) regam os viveiros nas parcelas dos agricultores. O cacau é ideal para a produção biológica, pois cresce sob árvores de outras espécies – o que conserva uma maior biodiversidade em comparação com monoculturas de outras plantas como a soja.
Foto: DW/R. Graça
De olho no mercado internacional
O cacau amelonado, variedade proveniente da Amazônia, foi o primeiro a chegar ao arquipélago de São Tomé e Príncipe. Este tipo de cacau é muito procurado no mercado internacional por ter características genéticas de qualidade superior a outras variantes de cacau.
Foto: DW/R. Graça
Recuperação de outras variedades
Produtores de cacau tipo exportação estão a recuperar outras variedades, como o cacau híbrido. O cacaueiro tem folhas longas que nascem avermelhadas e logo ficam de um verde intenso, medindo até 30 centímetros. Seus frutos também podem medir até 30 centímetros de comprimento, apresentando coloração verde, vermelha ou amarronzada e que tendem ao amarelo quando amadurecido o fruto.
Foto: DW/R. Graça
Secagem depois da colheita
A seguir à colheita da fruta dos cacaueiros, é preciso secá-la. No caso da Roça Morro Peixe, a secagem é feita com uso da energia solar natural. Um secador solar construído de madeira e coberto de plástico garante uma boa temperatura para a secagem do cacau, antes de ser embalado.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho minucioso
Descendentes de cabo-verdianos, no interior do secador da Roça Santa Margarida, separam o cacau na peneira. Um trabalho minucioso que antecede a embalagem. Estas trabalhadoras fazem parte dos poucos agricultores que resistiram ao êxodo rural em São Tomé e Príncipe. Já no período colonial, uma boa parte da mão de obra das roças veio de Cabo Verde, outra colónia portuguesa.
Foto: DW/R. Graça
Embalar e despachar para a Europa
O último passo antes do processamento e da exportação do cacau é a sua embalagem em sacos. Uma boa parte da produção de cacau de São Tome e Príncipe é exportada para a Europa – principalmente para a França e a Suíça, os dois principais mercados consumidores do cacau de excelência e de fama internacional reconhecida.