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Garimpo em Angola: "Corremos o risco de perder os rios"

Adolfo Guerra (Menongue)
2 de março de 2023

Ambientalistas angolanos estão preocupados com o garimpo ilegal de ouro e diamantes, que está a destruir os rios no centro e sul do país. E pedem ao Governo que tome medidas urgentes.

Estado da água explorada a procura de ouroFoto: A. Guerra/DW

O ambientalista Jerónimo António diz que a exploração ilegal de ouro e outras materiais preciosos está a pôr em perigo os rios no centro e sul do país. O rio Kussava e o rio Kakuluvale já se encontram em estado crítico, segundo Jerónimo António.

"Os resultados que temos tido nos últimos cinco anos são de facto assustadores", afirma António em declarações à DW África.

A situação agravou-se nos últimos anos – os garimpeiros escavam as margens, na busca do ouro ou de pedras preciosas, e vão destruindo a vegetação nativa, explica o ambientalista residente na província do Cunene.

"Estamos a falar de uma matéria de origem vegetal, que se formou há milhares de anos e, quando se garimpa nas fontes dos rios, é destruída por máquinas em poucas horas", acrescenta. E o sul de Angola é uma região que já sofre bastante com secas cíclicas.

Destruindo-se a vegetação nativa, aumenta o risco de erosão.

Criar mais empregos

O que leva muitas pessoas ao garimpo ilegal é o desemprego. "A maior parte da população está a fazer o garimpo só para alimentar os filhos", explica Jerónimo António.

Zonas devastadas para serem exploradas, perto do rioFoto: A. Guerra/DW

Por isso, para acabar com a atividade e proteger o meio ambiente, será preciso revitalizar a economia e criar postos de trabalho, sobretudo para os jovens, diz o ambientalista: "O que está a faltar são projetos agrícolas sustentáveis, com pedagogia ambiental."

Soluções sustentáveis

Há outros rios em situação idêntica. Budareld Maria Mbimbi, ambientalista e engenheiro hidráulico, contou à DW que os rios Cunene, Cuvelai e Cubal, também na região centro e sul de Angola, estão a ser bastante explorados para a extração de diamantes, e o garimpo tem deixado um rasto de destruição. 

De acordo com Maria Mbimbi, isso pode trazer consequências graves, sobretudo se o rio passar a depender unicamente da água das chuvas. Nesse caso, "teremos perdas de biodiversidade, e teremos uma situação ainda mais crítica, com o aumento da fome e da pobreza, além do aumento da migração para outros pontos do país e do mundo, onde as pessoas vão à procura de melhores condições de vida."

O ambientalista pede ao Governo que reforce a fiscalização nos rios.

"Se não tomar medidas urgentes, corremos o risco de perder os rios, como já acontece com alguns", avisa.

Ambientalistas preocupados com poluição da orla marinha

02:21

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Alberto Viagem, diretor-geral da organização não-governamental AJUDESS, no Cuando Cubango, entende que a exploração anárquica de recursos naturais serve apenas de remendo para o desemprego: a longo prazo, não é sustentável e pode agudizar os problemas da fome.

Sem mudanças profundas na economia e na sociedade – que tragam soluções duradouras para o problema da pobreza – não será possível acabar com o garimpo, comenta o defensor dos direitos humanos.

"Nestas condições de procura a todo o custo de condições para subsistência, ainda que haja leis e forte fiscalização, o homem procura também os seus meandros para conseguir alguma coisa de que se possa alimentar e melhorar a sua condição de vida", diz Alberto Viagem.

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