Os preços da gasolina e do gasóleo baixaram, mas o gás doméstico subiu, anunciou o Governo moçambicano. A DW África foi saber qual o impacto destas alterações em Maputo, onde os cidadãos continuam a fazer contas à vida.
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O litro de gasolina baixou esta quarta-feira (17.05) de 56,06 para 53,57 meticais o litro (de 71 para 68 cêntimos de euro) e o gasóleo passa de 51,89 para 51,79 meticais por litro (66 cêntimos por litro com variação inferior a um cêntimo de euro). Já o gás doméstico subiu de 61,08 para 70,32 meticais (de 78 para 89 cêntimos de euro).
Agora que o preço dos combustíveis baixou um pouco, há algum otimismo entre os cidadãos ouvidos pela DW África na capital moçambicana. A vendedora Maria Faustino alimenta alguma esperança, apesar de continuar a viver com dificuldades. "O Governo tem de saber que as coisas têm de baixar. Não temos trabalho, não temos dinheiro nem emprego hoje em dia. Estamos a viver mal", lamenta esta residente em Maputo.
Sérgio Frederico, funcionário público, afirma que a descida dos combustíveis já devia ter acontecido "há muito tempo", uma vez que o preço do barril de petróleo baixou no mercado internacional. "Só podemos esperar para ver o que vai acontecer e o que vai mudar", acrescenta.
Gasolina e gasóleo descem e gás aumenta em Moçambique
Também o cidadão Rogério Magaia espera mudanças, sobretudo no preco dos transportes semicoletivos. "Eu era obrigado a apanhar mais de dois chapas e a pagar mais de sete meticais. Significa que o custo de chapa subiu de uma forma ilegal na altura. Acredito que se o Governo ou outras entidades controlarem o encurtamento acho que não há nenhum problema", conta.
Ainda assim, os transportadores semicolectivos de passageiros afirmam que a tarifa do transporte tem de ser reajustada. O transportador António Rachid lembra que os custos de operação são elevados. "As pessoas estão a reclamar o encurtamento de rotas, mas isso deve-se aos custos de manutenção", justifica.
Carvão e lenha em vez de gás
Contrariamente ao combustível, o gás doméstico vai sofrer um agravamento do preço. Mas Rosita Mabalane apresenta duas alternativas: o carvão e a lenha. "A lenha, o tempo que a comida leva para cozer é muito reduzido e tem um sabor típico por causa do fumo. E temos fogões amigos do ambiente que podem substituir a lenha", sugere.
O mais recente ajustamento de preços tinha acontecido a 22 de março, quando o Governo anunciou que ia passar a atualizar os valores regularmente, pondo fim ao subsídio generalizado aos combustíveis.
A lei moçambicana passou a estabelecer "a necessidade da revisão dos preços de venda ao público numa base mensal, sempre que se verifique uma variação do preço base superior a 3%, ou caso haja alteração dos impostos", de acordo com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
Tragédia em Tete
A explosão de um camião-cisterna em Tete, centro de Moçambique, durante um roubo coletivo de combustível causou 93 mortos. Dezenas de famílias ficaram desestruturadas e sem base de sustento.
Foto: DW/A. Zacarias
A explosão
A explosão deste camião-cisterna (17.11) que transportava combustível, em Nhacathale, localidade de Caphiridzange, província de Tete, centro de Moçambique, matou 93 pessoas, segundo o último balanço oficial. Entre as vítimas, há duas grávidas e 12 crianças, que estavam envolvidas no roubo coletivo do combustível, quando se deu a explosão. Há 50 feridos no hospital provincial, 13 em estado crítico.
Foto: DW/A. Zacarias
Camião abandonado
Este camião de uma companhia malauiana transportava dois tanques de combustível. Ter-se-á desviado da rota, para vender combustível a revendedores de rua, segundo a agência Lusa. Mas uma das secções do tanque incendiou-se. Os motoristas ter-se-ão posto em fuga e, na ausência das autoridades, a população começou a retirar combustível da segunda secção do tanque, onde se deu a explosão.
Foto: DW/A. Zacarias
Roubo de combustível fatal
Esta moto foi usada por alguns populares para o transporte de combustível, desde o local onde se encontrava o camião, em Nhacathale, na localidade de Caphiridzange, para as casas dos populares, para posteriormente ser vendido.
Foto: DW/A. Zacarias
Aldeia de luto
Em Nhacathale quase todas as famílias estão de luto. Há órfãos, viúvas e há casas onde todos perderam a vida. Dezenas de famílias ficaram desestruturadas e perderam a base de sustento. No sábado (19.11), pelo menos 22 corpos foram a enterrar no cemitério local.
Foto: DW/A. Zacarias
Causas ainda por apurar
A ministra da moçambicana da Administração Estatal e Função Pública, Carmelita Namashulua, visitou o local da tragédia, cujas causas permanecem incertas, disse.
A ministra anunciou que o Governo criou uma comissão para assegurar que a desintegração das famílias não conduza os sobreviventes para um caos social. A comissão de apoio social deverá fazer um levantamento das necessidades.
Foto: DW/A. Zacarias
Sozinho com 11 filhos
Manuel António ficou viúvo. Tinha duas esposas, as duas morreram carbonizadas no local da tragédia. António tem agora 11 filhos menores à sua guarda. O carpinteiro de 57 anos conta que quando a explosão aconteceu estava no mato à procura de madeira para sua carpintaria.
Foto: DW/A. Zacarias
Lágrimas
Helena chora pela irmã. Muitas famílias estão desesperadas, porque a cada dia há mais mortes no hospital e há novas famílias atingidas ou repetindo o luto. Vários residentes dizem que vai demorar ainda muito tempo até que a aldeia recupere da dor da tragédia.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias desestruturadas
Joseph, de 51 anos, perdeu três elementos da família na explosão do camião-cisterna. Sobrinho, irmão e cunhado, todos morreram no local da tragédia. Moçambique cumpriu três dias de luto nacional.
Foto: DW/A. Zacarias
Sofrimento generalizado
Enquanto se choram os mortos, trata-se dos feridos. O Governo moçambicano anunciou que reforçou a capacidade de intervenção dos serviços de saúde, nomeadamente do Hospital Provincial de Tete, incluindo mais médicos, medicamentos e a disponibilização de dispositivos de climatização para os blocos de enfermaria. Ainda nenhum dos feridos teve alta.
Foto: DW/A. Zacarias
Órfãos
Muitos menores ficaram órfãos em Nhacathale, na sequência da explosão do camião-cisterna que transportava combustível. Na aldeia, quase ninguém sai à rua para consolar os vizinhos em luto, como é tradicional na cultura moçambicana. Isto porque quase todas as casas estão de luto.