Famílias recusam pulverizações contra mosquito da malária
Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
8 de março de 2017
Moradores acusam equipas de pedir dinheiro para aplicar inseticida para matar mosquito da malária. Campanha termina esta semana. Foram já pulverizadas 13 mil casas. A meta é chegar às 44 mil.
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Muitas famílias recusam-se a abrir a porta às equipas que andam a pulverizar as casas contra o mosquito da malária, na cidade de Xai-Xai, a capital da província de Gaza, no sul de Moçambique. Henriques Cumbe, de 47 anos de idade, é um deles. Acusa os técnicos de aplicarem inseticidas que não matam os mosquitos - a não ser que os residentes paguem.
"Há certos colaboradores que não são sérios. Noutras famílias, eles só vão sujar as paredes. Sujam as roupas. Às vezes, até agem de má-fé. Mas quando negoceiam com o dono da casa, pulverizam com o medicamento que mata o mosquito. É essa situação que nós temos em Moçambique, a corrupção."
Cumbe diz que os pagamentos variam entre os 100 e os 200 meticais, o equivalente a entre 1,5 euros e 2,70 euros.
Sem denúncias
A população acusa os operadores do Estado de estarem a querer imitar os privados. Os bairros Marien Ngoabi e Patrice Lumumba, na cidade de Xai-Xai, são os locais onde os residentes mais têm impedido o acesso às equipas de pulverização. Ao que a DW África apurou, desde finais de dezembro, centenasde pessoas terão recusado a pulverização, uma altura em que, na província de Gaza, só em janeiro, foram diagnosticados mais de 36 mil casos de malária. O número representa um aumento de 57% por comparação com igual período do ano passado.
Segundo Victor Chivurre, chefe do departamento de Saúde Pública na Direção Provincial de Saúde de Gaza, até agora ninguém denunciou operadores de pulverização pela cobrança de dinheiro.
"Não temos nenhuma informação acerca deste assunto", afirma Chivurre alertando que as comunidades devem "denunciar esses casos, porque a pulverização é gratuita".
Receios da população
Gaza: Famílias recusam pulverizações contra mosquito da malária
Victor Chivurre explica que houve uma mudança de inseticida e a população tem recusado a pulverização com medo de que o novo produto não seja efetivo.
"Usávamos antigamente um outro inseticida, que era seletivo para o mosquito 'Anopheles', mas atualmente estamos a usar um inseticida mais abrangente, que mata praticamente todos os insetos presentes na casa. Penso que se as pessoas tiverem conhecimento sobre o efeito deste inseticida serão mais recetivas".
O responsável da Direção Provincial de Saúde de Gaza afiança que o setor e as lideranças comunitárias estão a sensibilizar as populações para os benefícios do processo, em relação ao custo do tratamento da malária.
A campanha de pulverização dura já há dois meses e termina na sexta-feira (10.03).
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.