General decreta estado de emergência no Sudão após golpe
25 de outubro de 2021O principal general do Sudão declarou o estado de emergência esta segunda-feira (25.10), horas após as suas forças terem prendido o primeiro-ministro em exercício e outros altos funcionários do governo. Num discurso televisivo, o General Abdel-Fattah Burhan anunciou que estava a dissolver o Conselho Soberano governante do país, bem como o governo liderado pelo primeiro-ministro Abdalla Hamdok.
O militar disse que as disputas entre as facções políticas levaram os militares a intervir. Burhan afirmou que um novo Governo tecnocrata conduzirá o país a eleições.
O primeiro-ministro do Sudão, Abdullah Hamdok, está em prisão domiciliária e outros membros do governo também estão detidos por forças de segurança em Cartum, segundo a emissora Al-Hadath e o portal de notícias Sudan Tribune publicam esta segunda-feira.
Segundo o Ministério da Informação, o Sudão está a enfrentar um "golpe militar completo”. "Convidamos todos a marchar até que a tentativa de golpe de Estado seja impedida", publica a conta do Ministério da Informação no Facebook.
Segundo a mesma fonte, militares invadiram a sede da emissora estatal em Omdurman e detiveram vários funcionários durante golpe de Estado que está em curso no Sudão. O ex-líder rebelde Yasir Said Arman, do foi preso de acordo com o que publica sua conta no Twitter.
Arman é o vice-presidente do Movimento Popular de Libertação do Sudão – Setor Norte (SPLM-N, na sigla em ingês), e foi preso em sua residência. O ex-líder rebelde foi conselheiro de Hamdok depois de o seu grupo insurrecto assinar um acordo de paz em 2020 com autoridades de transição e prometer integrar-se ao exército.
Manifestação contra o golpe
De acordo com a organização britânica Netblocks, que documenta as interrupções da Internet em todo o mundo, a Internet, a rede de telemóveis e parte da rede fixa foram interrompidas desde as primeiras horas da manhã desta segunda-feira.
Em resposta à ação militar, milhares inundaram as ruas de Cartum e Omdurman para protestar contra a aparente tomada do poder pelos militares. Em imagens partilhadas online mostrariam manifestantes a bloquear ruas e incendiar pneus reprimidos pelas forças de segurança com gás lacrimogéneo.
Segundo a agência AP, os manifestantes gritavam: "O povo é mais forte" e "Retroceder não é uma opção!''.
Reações internacionais
O chefe da diplomacia da União Europeia (EU), Josep Borrell, publicou no Twiter que está a seguir os acontecimentos na nação do nordeste africano com a "maior preocupação", depois de terem surgido relatos de que as forças militares sudanesas tinham detido vários altos funcionários do Governo, incluindo o primeiro-ministro interino.
A UE apela a todos os intervenientes e parceiros regionais para que "retomem o processo de transição", escreveu Borrell, referindo-se à frágil transição do Sudão da autocracia para a democracia após a destituição do ditador Omar al-Bashir em 2019.
Anteriormente, o Enviado Especial dos EUA para o Corno de África Jeffrey Feltman disse que Washington estava "profundamente alarmado" e indicou que um golpe militar iria ameaçar a ajuda americana ao país.
Como temos dito repetidamente, "quaisquer alterações ao Governo de transição pela força colocam em risco a assistência dos EUA", escreveu no Twitter o Bureau of African Affairs dos EUA.
A Liga Árabe expressou concertação sobre as notícias de um golpe militar no Sudão e apelou a todas as partes para aderirem a um acordo para uma transição para a democracia.
Missão das Nações Unidas no Sudão emitiu uma declaração enfática repreensão do que chamou um golpe em curso e de tentativas de minar a frágil transição democrática da nação do nordeste africano.
Entenda a crise
O Governo de transição sudanês tinha dito que foi alvo de uma tentativa de golpe de Estado a 21 de setembro. Desde então, a situação política no Sudão tem piorado.
Há semanas que se realizam protestos, com manifestantes a exigir a retirada dos militares do governo e reformas democráticas.
O Sudão foi governado por Omar al-Bashir durante quase 30 anos. O homem forte de longa data foi forçado a abandonar o poder em abril de 2019 após meses de protestos em massa e um golpe militar.
Os militares e a oposição civil acordaram então num governo de transição conjunto para preparar o caminho para as eleições.