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Genocídio: Debate aceso na Namíbia, silêncio na Alemanha

Daniel Pelz | ms
13 de maio de 2018

Negociações sobre genocídio dos povos herero e nama no tempo colonial duram há quase três anos. Tema passa despercebido na Alemanha, mas na Namíbia cresce a revolta. País continua à espera de pedido de desculpas oficial.

Representação histórica do genocídio na NamíbiaFoto: picture-alliance/HIP

"As negociações secretas bilaterais não são transparentes, são praticamente uma farsa", critica Helin Evrin Sommer, do partido alemão A Esquerda (Die Linke). Ao que tudo indica, nem os próprios membros do Bundestag, o Parlamento Federal alemão, sabem exatamente em que pé estão as conversações entre a Alemanha e a Namíbia.

Depois de um debate difícil, tanto no país como no estrangeiro, políticos dos principais partidos alemães foram unânimes em reconhecer que a Alemanha deve pedir desculpa pelo genocídio na antiga colónia alemã no sudoeste africano, onde foram mortos dezenas de milhares de herero e nama, entre 1904 e 1908. No entanto, a Namíbia continua até hoje à espera de um pedido de desculpas oficial.

Namíbia: um genocídio esquecido

01:07

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No atual acordo de coligação governamental não há uma única palavra sobre o genocídio. E quando se questiona o Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre o tema, a resposta de Berlim é quase sempre a mesma: "os documentos sobre as reivindicações detalhadas da Namíbia e a oferta da Alemanha são secretos".

Quando as delegações dos dois países se encontram, também não são claros os resultados das negociações. No final dos encontros, tem sido emitido um curto comunicado de imprensa e pouco mais. Na Alemanha, quase ninguém tem conhecimento das negociações. "O Governo Federal quer adiar a questão", dizem os mais críticos como Helin Evrin Sommer, que fala mesmo numa "tática para tentar colocar o tema em segundo plano".

Críticas à Alemanha

Na Namíbia, as críticas sobem de tom. Há algumas semanas, um colunista do jornal governamental "New Era" acusou o embaixador da Alemanha, Christian Schlaga, de negar a culpa alemã no genocídio num discurso que fez. Acusações que o embaixador rejeitou veementemente. Christian Schlaga diz ter sido alvo de "declarações falsas, mal-intencionadas, depreciativas e ofensivas".

Rumores sobre as negociações e duras críticas ao Governo alemão são frequentes na imprensa namibiana. Os jornais noticiam alegados progressos ou disputas nas negociações - informação cuja veracidade nem sempre é possível verificar.

Representantes dos herero, por exemplo, afirmaram que, depois da independência, terá havido um acordo secreto entre os dois governos, segundo o qual a Namíbia renunciaria a compensações diretas pelo genocídio e a Alemanha, em troca, prometia mais ajuda ao desenvolvimento. Informação que ambos os governos negam.

Muitos namibianos acham que um pedido oficial de desculpas não é suficiente: a Alemanha deve pagarFoto: AFP/Getty Images/B. Weidlich

"Esses rumores são irritantes - por um lado, porque são errados e, por outro lado, porque podem deteriorar o clima", critica em entrevista à DW África Ruprecht Polenz, o principal negociador da Alemanha nas conversações com a Namíbia.

"A população está a perder a paciência", afirma Maximilian Weylandt, do Institute for Public Policy Research (IPPR), um centro de pesquisa independente da Namíbia. "Passados mais de dois anos, ainda não há resultados e algumas pessoas questionam se a Alemanha realmente está a negociar de boa fé e se está disposta a responder às necessidades dos namibianos", disse Weylandt à DW.

De acordo com uma sondagem realizada pelo IPPR, dois terços dos namibianos entrevistados são a favor de compensações da Alemanha - algo que estava fora de questão para o Governo Federal no início das negociações.

Governo da Namíbia sob pressão

Os namibianos também não se mostram muito satisfeitos com seu próprio Governo. Menos da metade dos entrevistados na sondagem do IPPR acredita que o Executivo está a negociar "bem" ou "muito bem" com a Alemanha. Mais da metade dos entrevistados quer que os representantes tradicionais dos povos herero e nama participem nas negociações.

Genocídio: Debate aceso na Namíbia, silêncio na Alemanha

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"Graças às intervenções de alguns partidos da oposição no Parlamento e a algumas autoridades tradicionais de vários grupos étnicos, muitos namibianos estão informados sobre as negociações. Talvez eles tenham influenciado também a sua opinião", diz o especialista Maximilian Weylandt.

Alguns líderes tradicionais herero e nama criticam o Governo da Namíbia por ser muito brando com a Alemanha. O seu envolvimento nas negociações está atualmente a ser discutido num tribunal de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA). 

A pressão parece estar a dar resultados: Publicamente, o Governo da Namíbia aumentou a pressão sobre a Alemanha. As autoridades também anunciaram recentemente que o antigo campo de concentração alemão em Shark Island, no sul da Namíbia, deverá ser transformado num memorial.

"O Governo Federal tem grande interesse em concluir as negociações o mais rapidamente possível", assegura o negociador alemão Ruprecht Polenz. Mas é importante que levem o tempo que for necessário, para que os resultados também sejam aprovados pela população, lembra Polenz, que não revela quando será a próxima ronda de negociações.