George Weah entra em campo pronto para a Presidência
AFP | mjp
20 de janeiro de 2018
Em dia de jogo amigável contra as Forças Armadas, o Presidente eleito da Libéria, o ex-futebolista George Weah, rejeitou acusações de que não está preparado para tomar as rédeas do país.
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O Presidente eleito da Libéria, George Weah, tentou este sábado (20.01) afastar as críticas de que não está preparado para governar o país, afirmando que a sua prioridade será manter a paz.
O antigo futebolista jogou uma partida amigável contra as Forças Armadas da Libéria, liderando uma equipa de antigos jogadores nacionais e amigos, dois dias antes da sua tomada de posse.
Antes do jogo – que a equipa de Weah venceu por 2-1, com um golo do antigo avançado do AC Milan e do Paris Saint-Germain – Weah disse aos jornalistas que as críticas à sua carreira política são infundadas. "Querem ver-me como um antigo jogador de futebol, mas eu sou um ser humano, tento ser excelente, e posso ser bem sucedido”, disse o senador do Montserrado, um condado que inclui a capital do país, Monróvia.
Weah lembrou que enfrentou um ceticismo semelhante dos seus conterrâneos quando deixou a Libéria no final dos anos 80, mas acabou por jogar em vários clubes europeus de topo antes de ser eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA, em 1996. "Disse-lhes que quando se trabalha, se acredita naquilo em que se acredita, é possível preserverar”, acrescentou o Presidente eleito, com uma camisola vermelha e a braçadeira de capitão.
Expetativas em alta
As vozes críticas – que incluem o vice-Presidente cessante Joseph Boakai, que perdeu a corrida presidencial do ano passado para George Weah – focam-se no facto de o antigo jogador ter desistido dos estudos no ensino secundário para se concentrar no futebol e afirmam que apenas três anos como senador não chegam para aprender a governar.
Mas as expetativas estão em alta entre a população, que acredita que Weah vai elevar os níveis de vida de uma nação que figura entre os últimos das listas de desenvolvimento internacionais.
Questionado pela agência de notícias France Presse acerca das suas prioridades, após ser empossado, na segunda-feira (22.01), Weah frisou que quer manter a paz que os liberianos vivem há 12 anos sob a Presidência de Ellen Johnson Sirleaf.
"A paz está na ordem do dia, unir o nosso povo. Depois, daremos início aos nossos programas”, afirmou, não especificando as suas futuras políticas, que deverão passar pelo foco na educação e na agricultura, num país onde menos de metade das crianças termina os estudos, segundo a UNICEF.
Esta é a primeira transição de poder democrática na Libéria desde 1944, e consolida a ideia de que o país está finalmente a seguir em frente após uma guerra que matou cerca de 250 mil pessoas entre 1989 e 2003.
"Todas as crianças queriam ser como ele”, lembra o General Charles Johnson, vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Libéria, capitão da equipa rival no jogo deste sábado. "Ele já começou a ouvir alguns dos desafios que enfrentamos e esperamos um maior entendimento e mais apoio às Forças Armadas”, acrescentou.
George Weah: De estrela do futebol a Presidente da Libéria
A sua vida dava um filme. O filho de um modesto mecânico tornou-se um futebolista de elite na Europa. Agora foi eleito Presidente da Libéria. A DW África revê a vida de Weah em imagens.
Foto: picture alliance/dpa/AP Photo/A. Dulleh
Uma nova estrela do futebol
Fora da Libéria, Georges Weah é muito mais conhecido como futebolista. Foi mesmo considerado um dos melhores pontas-de-lança da sua geração. O futebol fê-lo escapar a uma vida difícil. Filho de um mecânico, cresceu num dos bairros de lata da capital liberiana. A família mergulhou na pobreza após a prematura morte do seu pai. Felizmente, Weah foi descoberto por um clube liberiano de futebol.
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Dos Camarões a França
George Weah foi o melhor marcador na Libéria em 1987, jogando no Invencible Eleven, a melhor equipa do país, à altura. Quando o seu clube defrontou os camaronenses do Tonnerre Yaoundé, os dirigentes, notando o seu talento, ofereceram-lhe um contrato. Mas a vida nos Camarões não foi fácil. Weah vivia com outros jogadores e teve dificuldades em adaptar-se ao francês, a língua nacional do país.
Foto: DW/M. Edwin
Em grande na Europa
Depois de seis meses nos Camarões, Weah transferiu-se para os franceses do Mónaco em 1988. Era o começo da sua carreira de sucesso na Europa que o levou aos principais clubes e ligas continentais. Foi o melhor futebolista do mundo em 1985 e foi três vezes eleito futebolista africano do ano. O antigo treinador do Milan, Arrigo Sacchi, disse sobre ele que "em cada momento Weah reinventa o futebol".
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O sonho falhado de um Campeonato do Mundo
Mas enquanto Georges Weah tinha sucesso na Europa, o seu sonho de jogar uma fase final de um "Mundial" ficou por concretizar. Em 2002, a Libéria qualificou-se para a CAN no Mali. Weah era o diretor técnico e jogador, mas renunciou após a eliminação na fase de grupos.
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Combatendo a pobreza e as violações dos direitos humanos
Weah usou o seu sucesso para ajudar os menos afortunados. Em 1997, o fundo das Nações Unidas para as crianças (UNICEF), nomeou-o representante especial para o desporto. Weah doou avultadas quantias para caridade, o que o tornou ainda mais popular no seu país, devastado pela guerra, e com o qual sempre manteve contacto próximo ao longo dos anos.
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Vida familiar
George Weah é casado com Clar, uma cidadã norte-americana com raízes jamaicanas. O casal tem três filhos. O seu filho mais velho seguiu as pisadas do pai como futebolista. Weah deu o nome da sua mulher a uma televisão liberiana que adquiriu: "Ela sempre me apoiou e motivou a fazer algo pelo meu país", referiu Weah à revista alemã "Stern" em 2008.
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2005: candidatura surpresa a Presidente
George Weah teve de lidar com algumas contrariedades após o final da sua carreira. Tornou-se político e candidatou-se às primeiras eleições presidenciais democráticas liberianas depois do final da guerra civil, em 2005. Ficou em segundo lugar, perdendo para o antigo vice-presidente do Banco Mundial Ellen Johnson-Sirleaf, que venceu com 59,4 por cento dos votos. Weah conseguiu 40,6 por cento.
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O trabalho no Parlamento
Depois de uma candidatura sem sucesso para se tornar vice-presidente em 2011, Weah ganhou um lugar no Senado, a câmara alta do Parlamento, em 2014. Bateu o seu maior rival, o filho da Presidente Johnson-Sirleaf, por larga margem, conquistando 78 por cento dos votos. Mas, de acordo com os "media" liberianos, Weah raramente era visto no Parlamento, não dando o seu apoio a nenhuma legislação.
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2017: Segunda tentativa
George Weah tinha já provado ser um lutador na política. Em 2017 ele concorreu de novo à presidência. Enquanto os seus apoiantes continuavam a seguir o líder, a decisão de Weah de escolher Jewel Taylor para o acompanhar chocou quer compatriotas quer estrangeiros. Ela é a ex-mulher de Charles Taylor, antigo Presidente liberiano, condenado em 2012 por crimes de guerra.
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O novo Presidente da Libéria
George Weah venceu a primeira volta das eleições em outubro de 2017. A necessária segunda volta foi adiada pelo Supremo Tribunal liberiano após queixas de fraude interpostas por outra candidatura. Weah venceu a segunda volta, a 26 de dezembro de 2017, com 61,5 por cento dos votos, contra 38,5 do antigo vice-presidente Joseph Bokai, célere a reconhecer a derrota e a congratular Georges Weah.