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Literatura

Germano Almeida: A escrita não é ganha-pão, é prazer

13 de junho de 2018

Germano Almeida, vencedor do Prémio Camões 2018, não vive dos livros - escreve por divertimento. A DW conversou com o escritor cabo-verdiano sobre tudo um pouco, incluindo sobre a "fatalidade" do Acordo Ortográfico.

Foto: DW/J. Carlos

O Acordo Ortográfico é uma "fatalidade", porque "não há nada a fazer contra ele", resume Germano Almeida.

Mas, apesar das muitas vozes discordantes, o escritor cabo-verdiano admite que as novas regras do Acordo Ortográfico de 1990, já ratificado por Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe se afirmarão com o tempo.

"O Acordo em si vai existir, sobretudo porque os jovens agora aprendem na escola os métodos com o novo Acordo. Portanto, é uma questão de duas a três gerações e já não se lembram mais do Acordo Ortográfico."

Ainda assim, algumas regras deviam ser melhoradas, sugere.

Germano Almeida: A escrita não é ganha-pão, é prazer

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Viver da escrita?

Considerado "uma espécie de Cesária Évora da literatura", Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões de 2018. Mas não vive da escrita.

"Em Cabo Verde, não há possibilidade de viver só como escritor, a menos que ganhasse um prémio todos os anos. Escrever em Cabo Verde é sobretudo um ato de prazer, de divertimento, porque a minha profissão é advogado. Eu costumava dizer: 'o rendimento dos livros dava para comprar cigarros, quando eu fumava, não mais do que isto'", conta o escritor em entrevista à DW África.

"A minha esperança é que, como Prémio Camões, venha a ser possível viver, não digo completamente mas substancialmente, do rendimento dos livros. Aliás, até agora, não creio que em Portugal haja mais de meia dúzia de escritores que vivam dos livros."

A distinção teve repercussão nos países lusófonos, reconhece Almeida, revelando ter recebido centenas de telefonemas e de elogios, inclusive de pessoas que afirmaram que este é um prémio para Cabo Verde. Mas, do ponto de vista pessoal, o prémio não mudou nada na sua vida, diz.

"Até este momento, não sinto nenhuma diferença em mim em relação à pessoa que era antes do dia em que me disseram que me tinham agraciado com o Prémio Camões - eu evito dizer ganhar. Reconheço, fico contente que digam que tenha sido por mérito e agradeço ao júri que se lembrou de mim."

Germano Almeida: "Aqui escrevi com o prazer de me divertir"Foto: DW/J. Carlos

Novo livro: "O Fiel Defunto"

Germano Almeida falou à DW pouco antes da apresentação da sua nova obra, "O Fiel Defunto", na Feira do Livro de Lisboa, que fecha as portas esta quarta-feira (13.06). No novo livro, o escritor brinca com alguns costumes da ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

"Por exemplo, eu me lembro que, quando escrevi 'O Meu Poeta', escrevi com uma intenção crítica do sistema político e do oportunismo que havia em Cabo Verde, quanto à questão do aproveitamento político. Neste aqui não. Aqui escrevi com o prazer de me divertir."

À margem da apresentação da nova obra, Germano Almeida confidenciou à DW que acaba de receber um convite para participar na próxima Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. A Caminho, que apadrinha o escritor, figura entre as duas dezenas de editoras privadas que estarão representadas na edição deste ano, prevista para 10 a 14 de outubro.

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