Levar energia também ao meio rural é o objetivo de Gilda Monjane. E não é qualquer energia: é limpa e a preço acessível. Com o seu projeto Loja de Energia Gilda Monjane também empodera as mulheres rurais.
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Ela não tem apenas uma cabeça cheia de luzes. Os seus braços também são úteis: montam os painéis solares que vende. Claro que isso causa admiração a muitas pessoas, afinal é um trabalho ainda considerado tipicamente masculino. Mas Gilda Monjane ultrapassa esses preconceitos e está decidida a arrastar muitas outras mulheres com ela. Por causa disso já ganhou prémios internacionais. Está aqui em Bona a participar do COP 23 e aproveitamos para falar sobre a sua Loja de Energias.
DW África: Conte-nos, o que é a Loja de Energia?
Gilda Monjane (GM): Loja de Energia é um projeto que pretende levar para junto do cidadão, que precisa mesmo dessas energias limpas, energias renováveis. Porque não basta só falarmos das energias novas e renováveis se não temos o produto perto do cidadão que precisa.
DW África: Qual é a natureza da vossa loja? Estou a pensar num loja convencional, é nesse modelo clássico de vendas?
GM: A natureza da loja partiu de uma investigação para a minha tese de mestrado no meio rural, onde as pessoas não estão ligadas à rede elétrica, mas ao mesmo tempo não têm loja para comprarem a energia ou um kit solar. Então, decidi criar um modelo de distribuição em que levava a loja para o meio rural, que já oferece garantias a quem compra e oferece também a montagem e explicação. Loja é só um nome, mas pode ser uma barraca onde se vendem os kits solares.
DW África: E qual é o nível de procura e interesse?
15.11.17. Moc. Gilda Energia Limpa - MP3-Mono
GM: Noto muito interesse. Algumas vezes vou para as comunidades fazer propaganda e sou obrigada a montar, porque os líderes comunitários dispensam a propaganda argumentando que já sabem o que querem. Pode notar que, por exemplo, as pessoas para recarregarem um telemóvel podem percorrer uma longa distância. E o kit solar já resolve essa questão. E o líder comunitário ajuda-me a ficar com o projeto.
DW África: E as pessoas dessas comunidades têm capacidade financeira para pagar os painéis solares?
GM: Algumas têm e outras não. Procuro adaptar um meio de pagamento ou sob forma de chitique, em que eles se ajudam uns aos outros, e há os que pagam numa única prestação. E mais recentemente surgiu a possibilidade de aceder a micro-créditos locais em que nos ajudam a fazer essa aquisição. Estou a tentar aproximar-me dos fundos de desenvolvimento local, porque acho que são uma boa oportunidade para ajudar a população a ter o kit solar.
DW África: O seu projeto tem algum tipo de apoio ou subsídio?
GM: Até este momento, infelizmente, ainda não tive nenhum apoio, a não ser o apoio do prémio SID que ganhei em 2015, no valor de cinco mil dólares. Esse valor ajudou-nos a fazer novas iniciativas para novos sub-empreendedores, porque o meu objetivo é criar uma rede de empreendedores.
DW África: As lojas estão espalhadas por que regiões do país?
GM: Por todo o país, mas há zonas que ainda não conseguimos alançar por falta de fundos. O nosso desafio é alcançar as zonas mais recônditas, onde sabemos que para a energia chegar aí vai levar mais de vinte anos. Se falamos muito em justiça climática, então faz parte oferecermos uma energia limpa. E já notamos que a EDM, Eletricidade de Moçambique, não vai conseguir alcançar todos nós.
DW África: Tem alguma relação de trabalho com as autoridades moçambicanas?
GM: Posso dizer que coordenamos as atividades com o fundo do Governo mas não temos fundos dele. Para começar, as poucas lojas que temos, fora do fundo SID Award, eu tenho trabalhado para ajudar outras mulheres a abrirem as suas pequenas lojas. E não é tarefa fácil, porque também tenho a minha família para cuidar. Tenho conhecimento noutras áreas, para além de montagem dos sistemas solares. Com o dinheiro que ganho ajudo novas mulheres a ficarem independentes. E acho que nesta questão de mudanças climáticas e energias, se não contarmos com as mulheres, não vamos conseguir vencer a batalha.
DW África: Está em Bona a participar da COP 23. O que traz para aqui?
GM: O Green Inovation Workshop. Fui convidada para vir partilhar a minha experiência. Porque para além de distribuirmos energia com kits solares estamos também focados agora na questão do bombeamento de água para a irrigação. Então, vim cá mostrar essa ideia de que podemos vencer a questão da carência de chuvas em resultado das mudanças climáticas. Este fenómeno faz com que as chuvas já não sejam regulares. E também mostra a ideia de que se pode processar alimentos com a energia solar.
DW África: E encontrou parceiros? Fez bons contactos?
GM: Os contactos estão a ser bons. E é engraçado que não corro atrás das pessoas, elas é que corem atrás de mim para poderem ir a Moçambique expandir o que estamos a fazer.
África luta contra as alterações climáticas
Nenhum continente sofrerá mais com as alterações climáticas do que África. Mas os países afetados não vão ficar à espera de braços cruzados: criaram as suas próprias iniciativas para combater as consequências.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
África luta contra as alterações climáticas
Os países industrializados são os principais responsáveis pela produção de gases de efeito de estufa, que contribuem para as alterações climáticas. Mas as principais vítimas estão no hemisfério sul. Enquanto África sofre com a seca, as tempestades, a erosão e a desertificação, os africanos estão a lançar iniciativas para combater as alterações climáticas.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
20 milhões em fuga das alterações climáticas em África?
Na Beira, em Moçambique, os efeitos já se fazem sentir. O nível das águas do mar está a subir e as inundações destroem bairros inteiros. Segundo a Greenpeace, todos os anos fogem das consequências das alterações climáticas mais do dobro das pessoas que fogem da guerra e da violência. Especialistas estimam que haverá cerca de 20 milhões de "refugiados do clima" africanos dentro de uma década.
Foto: DW/A. Sebastiao
Desafiar a força do mar
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100. Mas a Beira quer proteger-se das inundações e, para isso, construíram-se novos canais e cancelas: quando a maré sobe, a cancela fecha-se para proteger a parte baixa da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água.
Foto: DW/J. Beck
A "Grande Muralha Verde"
As areias do deserto do Saara continuam a avançar para sul, destruindo os terrenos agrícolas da África Subsaariana. Onze países estão a tentar travar a desertificação com um "muro" de floresta com 7,750 km de comprimento e 15 km de largura. As raízes das árvores estabilizam e ventilam o solo, permitindo a absorção de água. O projeto também significa novos meios de subsistência para os habitantes.
Foto: Getty Images/AFP/F. Senna
Prevenir a erosão
Cada vez mais agricultores deixam de poder trabalhar os seus campos por causa da erosão e da desertificação. Com um sistema de irrigação especial, Souna Moussa, do Níger, torna o seu solo fértil novamente. A técnica tem vários séculos, mas foi totalmente esquecida. Os especialistas também recomendam o cultivo de culturas mais tradicionais, que se adaptam melhor às terras.
Foto: DW/K. Tiassou
Energia hidroelétrica em vez de carvão
Muitos governos africanos apostam na água para garantir o fornecimento de energia nos seus países e estão a ser construídas novas infraestruturas. A energia hidroelétrica é amiga do ambiente, mas alguns projetos são controversos: por vezes, destroem-se vastas áreas de floresta e deslocam-se comunidades inteiras para abrir espaço para a construção de barragens.
Foto: Getty Images/AFP
Energia limpa para África
Até 2030, a eletricidade chegará a todo o continente africano. Este ambicioso objetivo foi estabelecido por 55 chefes de Estado e de Governo africanos na Conferência do Clima de Paris, em 2015. A Iniciativa para as Energias Renováveis em África pretende alimentar a rede elétrica africana com 300 gigawatts de eletricidade limpa por ano. Parques eólicos como este, na Etiópia, são apenas o começo.
Foto: Getty Images/AFP/J. Vaughn
Autossuficiência
Cada vez mais pessoas em África geram a sua própria energia - e não dependem mais da rede elétrica pública ou de geradores. A queda do preço da energia solar torna a eletricidade renovável mais acessível, seja no fornecimento de energia a hospitais e escolas com painéis solares ou na iluminação de casas com pequenas lâmpadas alimentadas por energia solar.
Foto: Solar4Charity
Garrafas de plástico em vez de tijolos
Em África, a reciclagem não conquistou apenas o mundo da moda: já chegou ao setor da construção. Na Nigéria, constroem-se casas com garrafas de plástico usadas que, de outro modo, seriam deitadas fora, contribuindo para o aumento da poluição. Estima-se que, a cada minuto, seja comprado um milhão de garrafas de plástico em todo o mundo.
Foto: DARE
A jovem heroína do ambiente da Tanzânia
Gertrude Clement, de 16 anos, está empenhada na proteção do ambiente. Uma vez por semana, a adolescente da Tanzânia apresenta um programa ambiental na sua estação de rádio local. "Espero que os meus ouvintes estejam a fazer alguma coisa para mudar a situação - para proteger o ambiente e manter a nossa água limpa", disse à DW. Na foto, Gertrude fala na Assembleia Geral da ONU, em abril de 2016.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS/N. Siesel
Procuram-se especialistas do clima
Para que África consiga enfrentar as alterações climáticas, é preciso entender melhor os seus efeitos a nível local e regional. O Centro Científico para as Alterações Climáticas da África Austral, criado por Angola, Namíbia, Botsuana, África do Sul, Zâmbia e Alemanha está a trabalhar para isso. A organização quer reduzir o impacto das alterações climáticas na agricultura e nos recursos hídricos.