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Ginga Savimbi: Presidente eleito não devia intimidar o povo

António Cascais
19 de setembro de 2022

A filha do fundador da UNITA não acredita no Executivo angolano que hoje tomou posse, uma vez que se baseia em eleições "fraudulentas". Ginga Savimbi diz que a juventude está cansada e não vai aceitar a atual situação.

Foto: Borralho Ndomba/DW

Teve lugar esta manhã, no Palácio Presidencial em Luanda, a cerimónia de tomada de possedos membros do novo Governo de Angola.

O Presidente angolano, João Lourenço, nomeou na sexta-feira (16.09) um novo Executivo com 28 membros, em que apenas cinco são estreantes. "Entendi reconduzir grande parte dos que integraram o anterior Executivo pelo facto de terem pertencido a uma equipa que foi lutadora, mas sobretudo vencedora", disse o chefe de Estado na cerimónia.

Em entrevista à DW África, Ginga Savimbi, filha do fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi, e candidata não eleita do maior partido da oposição, critica veementemente o novo elenco governativo, liderado por João Lourenço. E diz que não há condições para um clima de diálogo construtivo entre o Governo e a sociedade.

DW África: Com a tomada de posse da nova equipa governativa, haverá condições para a paz, reconciliação e diálogo entre o Governo e a oposição, sobretudo os mais jovens?

Cerimónia de investidura do Presidente João Lourenço, a 15 de setembroFoto: Julio Pacheco Ntela/AFP/Getty Images

Ginga Savimbi (GS): Acho que não é possível, porque mantemos o princípio de que as eleições foram fraudulentas. Houve fraude e nós reclamámos desde o princípio. Entregámos vários documentos ao Tribunal Constitucional e à Comissão Nacional Eleitoral a falar das irregularidades que aconteceram durante o processo. O Governo que tomou posse é o mesmo Governo, são os mesmos ministros que foram reconduzidos, são as mesmas pessoas. Então, não acredito que haverá algum tipo de mudança dentro do país, porque é o mesmo Presidente, que diz ser eleito pelo povo, que está a tentar meter medo ao povo.

DW África: Está a afirmar que o Presidente está a amedrontar o povo. Como?

GS: Temos visto aqui nas ruas de Luanda muita polícia, muita tropa, e não entendemos porquê. Porque a pessoa que ganhou devia estar a festejar com o povo e não a meter medo e a tentar intimidar o povo.

DW África: Quer dizer que se esperam tempos difíceis, com muitos conflitos entre o povo, entre os jovens angolanos e o Governo, nos próximos cinco anos?

GS: A juventude está cansada. Então, acredito que os jovens, por estarem mesmo muito cansados, não vão aceitar continuar nesse clima que se vive aqui no país.

DW África: O facto de os deputados dos partidos da oposição terem assumido os seus assentos na Assembleia Nacional não é uma contradição? Com isso, os deputados da oposição não estão a legitimar o Presidente e o seu Governo hoje empossado?

GS: Não, porque não tinha como os deputados da oposição não tomarem posse. Porque se não tomassem posse, iriam continuar da pior maneira a passar leis que simplesmente beneficiam eles próprios.

DW África: E esta decisão tomada pela direção da UNITA vai ao encontro do que faria o seu pai, Jonas Savimbi, o líder histórico fundador da UNITA?

GS: Eu acredito que Jonas Savimbi sempre se preocupou muito com o povo. Acho que tomaria uma decisão que não prejudicasse o povo, porque nós tivemos aquele conflito armado durante muito tempo, já tivemos muito sangue derramado. Acho que ele não tomaria uma decisão que fosse prejudicar mais alguém, que derramasse mais sangue.

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35:05

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