Golpe de Estado "passou à reforma" na Guiné-Bissau
Lusa
16 de novembro de 2019
Biaguê Na Ntan, exortou, este sábado (16.11), o Governo a confiar nos soldados do país e assegurou que os militares estão hoje submetidos à Constituição, pelo que nunca mais irão realizar golpes de Estado.
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Falando nas cerimónias evocativas do dia das Forças Armadas guineenses, que se assinala este sábado (16.11), o general Biaguê Na Ntan defendeu, perante elementos do Governo e do corpo diplomático, que o golpe de Estado "passou à reforma" na Guiné-Bissau.
"Vamos respeitar a Constituição da República, submetermo-nos ao poder político. Posso-vos garantir, tranquilizem o povo da Guiné-Bissau: A partir de hoje nenhum militar vai sair à rua para fazer golpe de Estado", disse o general Na Ntan.
As últimas semanas no país, que terá eleições presidenciais a 24 de novembro, foram marcadas por tensões políticas, com o Presidente em funções a ter nomeado um novo governo, contra a vontade do executivo em funções e da comunidade internacional. Governo este que, entretanto, se demitiu.
Nessa disputa, as forças militares guineenses mantiveram-se neutrais e não forçaram a imposição do novo governo, apesar de nomeado pelo líder supremo das Forças Armadas.
O responsável militar guineense salientou que as suas palavras também se dirigem à comunidade internacional, nomeadamente aos elementos das Nações Unidas e da força de manutenção de paz da África Ocidental (Ecomib), estacionada na Guiné-Bissau desde 2012, na sequência de um golpe de militar.
"As Forças Armadas da Guiné-Bissau não se vão envolver na política e nem estão interessadas em fazer golpe", sublinhou o general.
Militares disponíveis para ajudar nas eleições
Biaguê Na Ntan frisou que os militares, se forem solicitados pelo Governo, para, juntamente com a polícia, estão disponíveis para assegurar o normal funcionamento das eleições presidenciais, do próximo dia 24. Caso contrário, vão-se manter nas suas casernas, disse.
Dirigindo-se especificamente ao ministro da Defesa, Luís de Melo, presente na cerimónia, no Quartel-General, em Bissau, o general guineense pediu ao Governo que confie nos militares do país, ao invés nos de outros países.
A Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) está a ponderar o reforço, na Guiné-Bissau, de cerca de dois mil militares da Ecomib, no âmbito da segurança das eleições presidenciais. Atualmente aquela força tem cerca de 600 soldados em território guineense.
No seu discurso em crioulo, o chefe das Forças Armadas guineenses esclareceu ainda que o reforço que se fala, a acontecer, será apenas ao nível da polícia e não de militares, mas lembrou que a Guiné-Bissau faz parte da CEDEAO e o próprio tem assento na cimeira de lideres militares daquela comunidade.
Segundo o líder militar, foram as Forças Armadas guineenses que libertaram a Guiné-Bissau da colonização, pelo que não pode haver desconfiança no seu desempenho.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".