General burundês anuncia destituição de Pierre Nkurunziza, até agora Presidente do Burundi.
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O ex-chefe dos serviços burundeses de segurança, o general Godefroid Nyombare, anunciou esta quarta-feira (13.05) a destituição do Presidente Pierre Nkurunziza.
Nkurunziza está atualmente em Dar es Salaam (Tanzânia), a participar numa cimeira consagrada à crise desencadeada na altura em que manifestou a vontade de concorrer a um terceiro mandato.
"O Presidente Pierre Nkurunziza foi destituído das suas funções, o Governo foi dissolvido", anunciou na rádio privada "Insaganiro", o general Nyombare, afastado do exército em fevereiro último pelo chefe de Estad,o depois de ter aconselhado Nkurunziza a não se candidatar a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pelos seus adversários políticos.
Criado comité para restabelecimento da unidade nacional O anúncio da destituição de Pierre Nkurunziza ocorreu depois de mais de duas semanas de protestos no país, que já fez cerca de 20 mortos, e horas depois do presidente Nkunrunziza ter chegado a Dar es Salaam para uma cimeira dos chefes de Estado da Comunidade da África Oriental (Burundi, Ruanda, Quénia, Tanzânia e Uganda) para tentar encontrar uma saída para a crise que já levou dezenas de milhares de burundianos a fugirem para os países vizinhos.
O general Niyombare já anunciou a criação de um comité temporário, "tendo como missão, entre outras, o restabelecimento da unidade nacional... e o recomeço do processo eleitoral num clima sereno e justo".
Recorde-se que o Burundi tem marcadas eleições legislativas e municipais para o próximo dia 26, cuja campanha eleitoral começou no domingo (10.05), seguidas das presidenciais a 26 de junho.
(Em atualização)
Protestos no Burundi - relato na primeira pessoa
Desde que o Presidente Nkurunziza anunciou a recandidatura, a capital do Burundi está em estado de emergência. O fotojornalista da AFP Phil Moore tem acompanhado os protestos em Bujumbura e fala sobre o que tem vivido.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Confrontos previsíveis
Já se sabia que estas eleições no Burundi podiam resultar em confrontos. Há muito que as tentativas do Presidente Pierre Nkurunziza de se candidatar a um terceiro mandato espicaçavam a oposição. Quando o partido no poder anunciou que Nkurunziza era o seu candidato às presidenciais de junho, eu estava no Congo. Fui para o Burundi tão depressa quanto possível.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
A primeira vítima
O clima de tensão ora aumenta, ora diminui. No dia 1 de maio, a sociedade civil decretou uma "trégua" durante o fim-de-semana. Essa pausa coincidiu com o funeral de Jean-Claude Niyonzima, que foi morto no primeiro dia dos protestos, 26 de abril. Segundo os familiares, homens armados entraram em casa dele e mataram-no. É-me difícil compreender esta resposta tão brutal ao ato de protestar.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Tiro nas costas
Dois dias depois, estava num pequeno centro de saúde no bairro de Musaga, um epicentro dos protestos. Um jovem chamado Pascal estava a perder muito sangue. Creio que ele tinha levado um tiro nas costas durante confrontos com a polícia. Mais tarde soube que ele tinha morrido. Nessa mesma noite, um porta-voz do Governo disse aos jornalistas que a polícia não tinha usado balas reais.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Trabalho perigoso
Estou habituado a trabalhar em ambientes onde as forças de segurança são bastante mais hostis à imprensa e onde as multidões depressa se podem tornar um perigo. Até agora, isso não tem acontecido, apesar de muitos representantes da ala juvenil do partido no poder se recusarem a ser entrevistados. Uma das maiores precauções de um repórter deve ser estar atento e agir rapidamente.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Nos dois lados das barricadas
Passo muito tempo a falar com a polícia e com os manifestantes. Para tirar fotos que espelhem adequadamente uma situação preciso de entender as dinâmicas por trás dos acontecimentos. Os polícias costumam pedir a minha opinião sobre o que está a acontecer. Do outro lado das barricadas, os manifestantes colocam as mesmas questões.
Foto: Phil Moore/AFP/Getty Images
Indignação e cansaço
Os manifestantes acreditam que Nkurunziza tem o Tribunal Constitucional sob a sua alçada, o tribunal que lhe validou a candidatura. Reina a indignação contra a constante violência policial. É difícil comprar alimentos porque as lojas e os mercados estão fechados. Muita gente fica noites a fio sem dormir por causa da insegurança. Sente-se que as pessoas estão cada vez mais cansadas e frustradas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Ave maldita
O partido no poder, o CNDD-FDD, que nomeou Nkurunziza como candidato, tem uma águia como emblema. Por isso, os manifestantes pintaram faixas com cruzes vermelhas por cima de aves. A expressão mais horrível deste simbolismo: os manifestantes depenaram o que parecia ser um corvo morto e espalharam as penas pelo ar.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
A teatralidade da oposição
Com o avançar dos protestos, cada vez mais jovens começaram a pintar as caras com as cinzas das barricadas. Outros começaram a usar máscaras, algumas feitas de lenços, outras feitas com ramos e folhas. Parece-me que eles as usam mais por moda do que para proteger a sua identidade. A teatralidade desempenha um papel importante no ativismo.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Armas de brinquedo contra armas a sério
Gosto dos momentos de tranquilidade em que consigo captar a atmosfera de um local, sobretudo à luz ténue do amanhecer. Ao andar pelas ruas vazias no bairro de Musaga, vi este homem a dirigir-se a mim. Estas armas de brinquedo são usadas como um símbolo da impotência dos manifestantes face às balas reais.
Foto: Getty Images/AFP/P. Moore
Reportar as histórias de perto
O britânico Phil Moore é um fotojornalista independente e produtor de conteúdos multimédia. Ele trabalha para a agência de notícias francesa AFP. Vive atualmente em Nairobi. Moore faz a cobertura de situações de conflito, por exemplo, na República Democrática do Congo, Sudão e Síria.