Golpe de Estado no Mali foi há um ano
21 de março de 2013 Há um ano, acendeu-se o rastilho de pólvora que viria a desencadear o caos no Mali. Ao golpe de Estado, de 22 de março de 2012, seguiu-se a ocupação do norte do país por grupos rebeldes islâmicos e por tuaregues. Entretanto soldados franceses, malianos e de outros países da África Ocidental recuperam o norte, de onde fugiram centenas de milhares de pessoas.
Haverá finalmente lugar para a paz e para o regresso à democracia um ano após o golpe de Estado em Bamako?
No espaço de poucas horas, a 22 de março de 2012, golpistas malianos tomaram de assalto o Palácio Presidencial em Bamako. O capitão do exército, Amadou Haya Sanogo, liderou o golpe de Estado que abriu caminho para o caos. Grupos de rebeldes islâmicos e tuaregues aproveitaram as fraquezas do exército e o caos político na capital para controlarem o norte do Mali. Centenas de milhares de pessoas fugiram para os países vizinhos, na África Ocidental, ou vieram, em autocarros apinhados, para a capital Bamako, à procura de paz e tranquilidade.
Calma em Bamako
Um ano depois, os autocarros continuam cheios na paragem de Binké, em Bamako. Os passageiros esperam pacientemente por comprar o bilhete de volta ao norte do país. "Sim, a afluência é grande. Todos querem voltar para casa”. Ao lado de Ismäel Maiga, funcionário da empresa de autocarros, espera um maliano proveniente do norte. "Estamos aqui há uma eternidade. Aqui, no sul, não nos sentimos bem. Temos de voltar para a nossa terra. Agora, há paz”.
A meados de janeiro, helicópteros e aviões de guerra franceses começaram a bombardear posições dos rebeldes islâmicos, para impedir o avanço dos rebeldes em direção a Bamako. À intervenção francesa, ao lado do exército maliano, juntaram-se depois soldados dos países vizinhos, da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
A Força Aérea alemã apoiou a operação: três aviões de carga transportaram as tropas dos países vizinhos da África Ocidental e um avião permitiu o abastecimento aéreo de jatos franceses. A Alemanha irá contribuir também para a missão europeia de formação militar ao exército do Mali, que começará em abril.
Estabilidade política é o objetivo
Em Bamako, o Presidente Dioncounda Traoré tenta garantir estabilidade política. Após o golpe de Estado, o antigo Presidente do Parlamento assumiu o poder face à pressão dos países vizinhos. No entanto, a sua Presidência interina não foi legitimada pelas eleições.
Por isso, vários governos europeus têm pressionado o Mali para introduzir estruturas democráticas. A Alemanha tinha suspendido a ajuda ao desenvolvimento, devido à falta de legitimidade do governo.
Entretanto, o Presidente Traoré anunciou eleições parlamentares e presidenciais para julho de 2013. Mas Djénéba Traoré, professora do Instituto da África Ocidental em Cabo Verde, é cética."Serão boas eleições, serão credíveis? Se queremos que as pessoas da região norte votem, temos de organizar as eleições de forma séria. E na minha opinião, será impossível organizar eleições credíveis em tão pouco tempo”.
Djénéba Traoré espera que os próximos 12 meses sejam menos turbulentos no Mali do que os que passaram. Pelo menos, parece que se está a encaminhar o regresso à paz e democracia. O capitão Sanogo, que liderou o golpe de Estado, anunciou que não se irá candidatar às próximas eleições. Chefia uma comissão para reformar as forças armadas. Um cargo criado especialmente para Sanogo, como incentivo para aceitar um governo de transição que conduza o país até às próximas eleições, em julho.
Autor: Peter Hille/ Glória Sousa
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Cascais