No mesmo dia em que António Guterres condenou a tomada de poder no Burkina Faso, a junta militar que destituiu Presidente Kaboré anunciou a reabertura das fronteiras aéreas. CEDEAO anuncia cimeira extraordinária.
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As fronteiras aéreas do Burkina Faso, fechadas desde segunda-feira (24.01), por decisão da junta militar que tomou o poder, serão reabertas a partir desta terça-feira (25.01). O anúncio foi feito através de um comunicado da junta militar que tomou o poder do país que foi lido na televisão nacional.
"As fronteiras aéreas estão abertas a partir de 25 de janeiro", diz a declaração, acrescentando, no entanto, que as fronteiras terrestres serão reabertas apenas para veículos "humanitários", os que "transportam bens de primeira necessidade" e "equipamento para as forças de defesa e segurança".
Para além do fecho das fronteiras, o chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração, nome da junta liderada pelo tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba, impôs um recolher obrigatório, suspendeu a Constituição e dissolveu o Governo e o parlamento. Além disso, disse que iria devolver o Burkina Faso à ordem constitucional, mas não especificou quando.
"Golpes militares são inaceitáveis"
Entretanto, em declarações, esta terça-feira (25.01), sobre a situação no país, o secretário-geral das Nações Unidas disse que os "golpes militares são inaceitáveis" e apelou aos militares na África Ocidental para que "defendam o seu país, não que ataquem os seus governos".
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"Peço às forças armadas desses países que assumam o seu papel profissional como exércitos para proteger o país e restaurar as instituições democráticas", disse António Guterres, que falava à imprensa antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a proteção de civis em conflitos armados.
Questionado sobre as manifestações de apoio ao golpe militar, António Guterres disse que "há sempre celebrações nesse tipo de situações", acrescentando: "É fácil orquestrá-las, mas os valores da democracia não dependem da opinião pública num momento ou outro".
Centenas de manifestantes apoiaram, esta terça-feira (25.01), nas ruas da capital burquinabe, Ouagadougou, a ação dos militares e o derrube de Kaboré. Alguns simpatizantes do Movimento Popular para o Progresso (MPP, o partido de Kaboré) e residentes dizem-se a favor do golpe.
"Pedimos a partida do Presidente Kabore várias vezes, mas ele não nos ouviu. O exército ouviu-nos e compreendeu", disse à AFP, o ativista Lassane Ouedrago.
Cimeira extraordinária
Também em declarações esta terça-feira, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a condenar "firmemente" "o golpe militar" no país e anunciou a realização de uma cimeira extraordinária para avaliar a situação.
Num segundo comunicado sobre a situação no Burkina Faso, a organização rejeita "a renúncia" de Roch Kaboré que alega ter sido "obtida sob ameaça, intimidação e pressão dos militares após dois dias de motim".
A CEDEAO lamenta que os apelos da comunidade internacional "à calma e ao respeito da [reposição da] legalidade constitucional" não tenham contribuído para que os militares golpistas recuassem e classifica o sucedido como "um passo atrás da democracia" no Burkina Faso.
Outras organizações internacionais, nomeadamente a União Europeia e União Africana, bem como os EUA, já sublinharam a sua preocupação com os acontecimentos no Burkina Faso e responsabilizaram as Forças Armadas pela integridade física do Presidente Kaboré.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.