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ConflitosNíger

"Gostaríamos que o nosso país voltasse à vida normal"

Gazali Abdou
14 de agosto de 2023

Em entrevista exclusiva à DW, Ali Mahamane Lamine Zeine, o novo primeiro-ministro do Níger, discute os desafios que aguardam as novas autoridades.

Demonstrators gather in support of the putschist soldiers in the capital Niamey
Foto: Balima Boureima/REUTERS

No domingo (13.08), os autores do golpe de Estado no Níger anunciaram a sua intenção de processar o presidente deposto, Mohamed Bazoum, por "alta traição" e "atentado contra a segurança" do país. Numa declaração lida na televisão nacional pelo Coronel Major Amadou Abdramane, um dos membros do regime.

O governo afirma ter reunido provas para processar o presidente deposto e os seus cúmplices locais e estrangeiros por alta traição e por minar a segurança interna e externa do Níger. O regime militar também denunciou "as sanções ilegais, desumanas e humilhantes impostas pela CEDEAO", a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. 

Estas declarações foram feitas no momento em que os militares receberam uma delegação de líderes religiosos muçulmanos nigerianos para "aliviar as tensões criadas pela perspetiva de uma intervenção militar" da organização da África Ocidental. Segundo um comunicado de imprensa desta mediação, o chefe do regime militar, o general Tiani, declarou que "a sua porta estava aberta para explorar a via da diplomacia e da paz a fim de resolver" a crise.

Esta declaração está de acordo com os comentários feitos pelo novo primeiro-ministro, Ali Mahamane Lamine Zeine, à DW. 

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DW: Está à frente do governo do Níger há alguns dias.  Qual é a sua mensagem para a comunidade nigerina em geral?

Foto: J. Scott Applewhite/AP Photo/picture alliance

Ali Mahamane Lamine Zeine (AZ): Antes de mais, gostaria de os felicitar e de lhes agradecer o grande espírito que demonstraram. O nosso povo mostrou que é muito maduro, que fez a escolha de defender a sua soberania, e qualquer autoridade que não siga este ângulo em que o nosso povo está a tentar colocar cada um de nós, pode ser considerada como estando no caminho errado. Por isso, gostaria de lhe dizer, através do seu microfone, que apreciamos muito esta elevação de espírito, esta onda de solidariedade e este trabalho para garantir que a unidade nacional seja ainda mais reforçada. Eles [a população] devem ter confiança nas novas autoridades, porque as nossas acções são concebidas para os servir, para os servir com integridade, para os servir com competência, mas também trabalhando sobre a noção fundamental do nosso patriotismo. Por isso, tenho fé nela e, com a ajuda de Deus, Inch Allah, vamos ultrapassar isto.

DW: Com todos os embargos que a CEDEAO impôs ao Níger, não está preocupado com a forma como as coisas estão a ser geridas? 

AZ: Porque é que eu deveria estar preocupado? A vida humana é feita de desafios e pensamos que, mesmo que se trate de um desafio injusto que nos é imposto, devemos ser capazes de nos unir para o enfrentar e vamos enfrentá-lo, Inch Allah. Deste ponto de vista, não há medo. O povo do Níger é determinado e acredito que, sob a liderança do Chefe de Estado e de toda a equipa que o rodeia, com o apoio de toda a nossa população, mas acima de tudo com a ajuda de Deus, seremos bem sucedidos, Inch Allah.

DW: Acaba de receber uma delegação da Nigéria, tal como o Chefe de Estado, podemos dizer que está em curso um processo de aproximação ou de abertura de negociações com a CEDEAO? 

AZ: Oiça, mesmo antes da chegada desta delegação, o Chefe de Estado disse claramente que nunca esteve fechado. Que interesse tem ele em fechar-se a qualquer iniciativa que sirva estas populações? É porque este desafio nos foi imposto que ele disse que temos obviamente de nos sentar. E esta delegação que veio, como viram, os maiores Ulemás da Nigéria e mesmo do continente, conforta-nos; conforta-nos porque eles são os porta-vozes do comportamento da sociedade nigeriana. Para além disso, temos até os deputados nigerianos que se reuniram e afirmaram claramente a sua desaprovação de qualquer ideia de ataque ao nosso país.

Mas não são apenas os parlamentares e os ulemás [teólogos], há também o povo nigeriano e os operadores económicos. Como sabemos, a Nigéria é o nosso maior vizinho e partilhamos 1500 quilómetros de fronteiras. Se formos de Diffa a Zinder, Tahoua, Dosso, e não me esqueci de Maradi, as populações dos dois lados são todas iguais.

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Temos todo o interesse em trabalhar para salvaguardar esta relação, que é extremamente importante e histórica, e evidentemente que esta organização, que se chama Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, possa trabalhar em primeiro lugar sobre questões puramente económicas, pois o princípio fundamental da solidariedade é trabalhar para que todos os Estados que aceitaram esta integração possam criar condições de riqueza mais ou menos em todo o lado e para que cada um dos países beneficie desta solidariedade.

Se, em vez desta solidariedade económica, se verificar que o princípio político e militar tem evidentemente a primazia, não podemos deixar de o lamentar.

Mas, mais uma vez, como sabem, no Níger temos uma tradição de humildade. O nigeriano, Deus o fez, é pacifista e pacífico. Gostaríamos muito que fosse encontrada uma solução muito rapidamente, para que o nosso país possa regressar à vida normal.

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