Governação Inclusiva na RENAMO não é algo inédito
11 de janeiro de 2024Em Moçambique, Manuel de Araújo, edil do Município de Quelimane pela RENAMO, maior partido da oposição, empossou novos quadros de direção, entre os quais o irmão do cabeça-de-lista da FRELIMO, partido no poder, Salvador Gani, para o cargo de diretor da Cultura. Na ocasião, Araújo explicou que "não há, nem deve haver, divisão na distribuição dos pelouros".
Em entrevista à DW, o analista político Domingos do Rosário defende que Araújo quer mostrar que pode ser uma alternativa para a liderança da RENAMO, diante da atual crise no partido.
DW: É inovadora esta inclusão feita por Manuel de Araújo?
Domingos Rosário (DR): Quem acompanha a cena política nacional, sobretudo no seio da RENAMO, isso não é novo. A primeira vez que a RENAMO ganhou as eleições municipais, em 2003, em Nacala-Porto, Manuel dos Santos convocou para a sua equipa que geriu o Município de Nacala figuras que faziam parte da FRELIMO numa altura muito crítica. Lembro-me muito bem que nessa altura Manuel dos Santos teve muitos problemas com Afonso Dhlakama, mas dos Santos fez perceber a Dhlakama que não, uma coisa é a dministração e outra é política, e que tinha a obrigação de escolher os melhores quadros para gerir a administração municipal.
DW: No seu entender, então, o que justifica a repercussão da escolha desses quadros?
DR: Bom, as pessoas estão mais preocupadas com politiquices e não com a gestão pública. A segunda coisa, os municípios servem para acomodar pessoas. Então, o grande problema não está com o gestor que nomeia pessoas da FRELIMO ou da RENAMO, está com os outros. Na vitória da RENAMO no Município de Quelimane queriam continuiar a comer, não é assim? Para essa gente a chance de comer foi-se embora, não vão ter as regalias que o municipio oferece. Acho que é por aí que existe essa polémica. Mas como a administração moçambicana funciona com base clientelista, é por isso que se está a gerar essa polémica toda.
DW: Não sendo inédito, como diz, acha que há espaço para algo acontecer, por exemplo, na FRELIMO?
DR: Esse é que deveria ser o norte do funcionamento da administração, a FRELIMO nunca fez isso porque é um partido fechado. A RENAMO já tentou porque? Mesmo agora, Manuel de Araújo já governou o Município de Quelimane quantas vezes e nunca fez isso? Acho que essa devia ser a questão principal que se deveria colocar. E porque é que faz isso justamente agora...
DW: E no seu entender qual é a razão?
DR: A RENAMO está uma crise aguda agora, ninguém quer Ossufo Momade, e acho que é um golpe, é uma tentativa de Manuel de Araújo tentar mostrar que ele talvez seja o bom candidato para a RENAMO, tentativa de demonstrar que não vai olhar para as cores partidárias quando estiver na política a nível nacional, mas sim para a competência dos agentes públicos para ocupar os cargos públicos. Eu acho que o recado que Manuel de Araújo está a tentar mandar é justamente esse.
DW: E como é que a RENAMO poderá encarar isso?
DR: A RENAMO precisa para um bocadinho e rever-se como partido político, como alternativa política. Isso está claro como a liderança da RENAMO não haverá nada de especial como alternativa política credível para as eleições de 2024, numa altura em que o país atravessa diferentes crises de natureza política economica, social e ambiental. A RENAMO de Ossufo Momade não é credível.